Pedro Neto, gestor de projetos na FEC, faz balanço da participação da ONGD na 4.ª Conferência Internacional sobre Financiamento do Desenvolvimento da ONU

Lisboa, 10 jul 2025 (Ecclesia) – A Fundação Fé e Cooperação saudou a criação da Plataforma de Ação de Sevilha, fruto da 4.ª Conferência Internacional sobre Financiamento do Desenvolvimento, e lamentou a falta de decisão sobre o perdão da dívida aos países mais pobres.
“A nossa perspetiva é de esperança, sobretudo, e porque desta cimeira foi acordada a montagem de uma plataforma de ação, que é a Plataforma de Ação de Sevilha, para implementar aquilo que tem que ser implementado para que o financiamento ao desenvolvimento possa crescer”, afirmou Pedro Neto, gestor de projetos na Fundação Fé e Cooperação, em entrevista ao Programa ECCLESIA (RTP2, 13h58).
Pedro Neto explica que o que foi acordado se baseia em “compromissos anteriores e que foram sempre reafirmados”, isto é, “que cada Estado possa investir 0,7% do seu Rendimento Nacional Bruto (RNB) para aquilo que é o financiamento para o desenvolvimento”.
“Estes 0,7% do Rendimento Nacional Bruto são muito menos do que os 5% do PIB que os países estão agora a investir para o armamento. E há que relevar que o PIB é um valor muito maior do que aquilo que é o Rendimento Nacional Bruto”, salientou.
O membro da FEC refere que a “maioria dos países reconhece que há falta de investimento para o desenvolvimento”, com os números e as percentagens a diminuírem recentemente.
“É uma tendência de que está a reduzir, tendência essa que é marcada pela catástrofe que Donald Trump fez ao encerrar a USAID, que era a maior agência de ajuda humanitária do mundo”, evidenciou.
Pedro Neto abordou o peso da dívida pública de muitos países em desenvolvimento do sul global, destacando que “aquilo que pagam em juros” é “um número muito superior àquilo que recebem” para a ajuda ao financiamento para o desenvolvimento.
Aquilo que propusemos e que se referiu, mas muito pouco, foi a questão da dívida e desta conferência não surgiu nenhum efeito sobre a questão da dívida”, lamentou.
Esta Organização Não Governamental para o Desenvolvimento (ONGD) defende que a dívida deve ser renegociada, “em alguns casos até perdoada, desde que, e essa é a condição”, o “dinheiro possa ser para o financiamento, para o desenvolvimento do próprio país e para ajuda ao desenvolvimento do próprio país”.
O entrevistado dá conta que o facto de os EUA não terem participado na 4.ª Conferência Internacional sobre Financiamento do Desenvolvimento (FfD4), que se realizou entre 30 de junho e 3 de julho, em Sevilha (Espanha), teve “um efeito paradoxal”.
Pedro Neto justifica que muitos outros países chegaram-se à frente para colmatar as deficiências que a falta de ajuda humanitária dos Estados Unidos da América provocou, que “era de longe” quem “mais contribuía pelo mundo fora”, “pondo em risco a vida de 14 milhões de pessoas numa projeção que é feita até 2030”.
“Há países que estão a ocupar o lugar dos Estados Unidos na ajuda ao financiamento e estão a fazê-lo sem condicionalismos, isto é, a Rússia, a China, emprestam e doam dinheiro sem condições e isso pode ser um problema, porque a ajuda pública ao desenvolvimento tem que ter condições, esse dinheiro tem que ser aplicado no desenvolvimento”, sublinhou.
A criação da Plataforma de Ação de Sevilha deu esperança à Fundação Fé e Cooperação e ao Instituto Marquês de Valle Flôr, que integraram a delegação da Plataforma Portuguesa das ONGD na FfD4, “de que este possa ser um lugar de desenvolvimento e de concretização de ideias e de projetos e de planos para fortalecer a ajuda pública ao desenvolvimento”.
“Aquilo que nós queremos ver é que também numa altura em que há tanta polarização, estão os governos autoritários a crescer em número, é que também esta ajuda pública ao desenvolvimento possa também ser um investimento que é feito para prevenir a radicalização, para prevenir que mais mortes aconteçam”, referiu.
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