Seminário da Fundação Fé e Cooperação deixou interpelações aos poderes económicos e políticos
Lisboa, 19 nov 2015 – Um seminário internacional promovido esta quinta-feira em Lisboa pela Fundação Fé e Cooperação (FEC), sublinhou a importância de projetar o desenvolvimento mais ao nível das pessoas e de ir além do mero assistencialismo.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, a diretora-executiva da FEC destacou a necessidade das decisões a este nível “serem não só alicerçadas em fatores económicos mas olharem para a pessoa e para o planeta como o principal critério de decisão”.
E neste âmbito, as organizações empenhadas na cooperação para o desenvolvimento devem assumir-se cada vez mais como “pontes entre as políticas e a realidade das pessoas”, sublinhou Susana Réfega.
Intitulado “Repensar o desenvolvimento, reinventar a cooperação”, o seminário internacional surgiu no âmbito dos 25 anos da FEC para clarificar as prioridades deste setor, numa era de rápida mudança.
Segundo Susana Réfega, o objetivo foi “olhar para a frente, colocar estas questões, que não são fáceis, e sobretudo promover um debate sobre o que pode ser um desenvolvimento diferente e que papel é que pode ter nisto a sociedade civil”.
A iniciativa, que foi acolhida pela Fundação Calouste Gulbenkian, contou com a participação de representantes e responsáveis de vários organismos empenhados no desenvolvimento, católicos e da sociedade civil.
Destaque para a presença de D. Pedro Zilli, bispo da Diocese de Bafata, na Guiné-Bissau, que salientou que “quanto mais as pessoas são envolvidas” no seu próprio processo de sustentação, “melhor as coisas saem”.
Outro desafio, segundo o bispo brasileiro, é fazer com que o desenvolvimento seja cada vez mais preventivo e de longo prazo e menos reativo ou assistencialista.
“Por exemplo o caso do ébola, esta é uma problemática enorme em África mas o paludismo continua, a malária continua, a Sida continua, e no entanto fala-se tão pouco destas questões que parece que não existem mais. Então, temos de procurar evitar estas modas do momento”, alerta D. Pedro Zili.
O Seminário mostrou a vontade das organizações da Igreja Católica se afirmarem cada vez mais como “interlocutoras” na promoção de um desenvolvimento sustentável e acessível a todos.
Neil Thorns, da CAFOD – agência de desenvolvimento oficial da Igreja Católica no Reino Unido – referiu que as instituições católicas, pela sua abrangência, “estão muito bem colocadas para fazerem a diferença”.
“E cada um de nós, como católicos, especialmente nos países do Norte, podemos olhar para a forma como vivemos a nossa vida, pois estamos a consumir muito mais do que aquilo que o planeta tem para oferecer e isso tem um claro efeito sobre os países mais pobres”, apontou.
Já Irene Guia, que integra a congregação das Escravas do Sagrado Coração de Jesus, lembrou o papel que os católicos podem ter para que a sociedade passe “de uma lógica de solidariedade para uma de fraternidade”, onde “o compromisso entre as pessoas seja a chave do desenvolvimento”.
Isto porque quem precisa de ajuda não pode ficar à espera de decisões superiores, das grandes cúpulas do poder económico e político, que muitas vezes nunca chegam.
O exemplo mais recente desta realidade, afirmou a religiosa, é a crise de refugiados que tem mostrado uma União Europeia “lenta nas decisões”.
JCP