Apenas 15 meses após a Gaudium et Spes do Concílio Vaticano II, que situava a Igreja no mundo real, o Papa Paulo VI publica uma encíclica social sobre os problemas relacionados com o desenvolvimento dos povos. O rápido crescimento das economias dos países ricos e a exploração das energias do terceiro mundo vinham agravando rapidamente as desigualdades entre os povos. Numa linguagem exortativa, esta encíclica não deixa de conter passagens duras e fortes, chamando a atenção para as desigualdades existentes e para a criação de novas formas de colonialismo e para os perigos daí resultantes para a comunidade internacional. O verdadeiro desenvolvimento não pode consistir, apenas, em aumentar as riquezas. É necessário saber como e com que meios e processos. O verdadeiro desenvolvimento terá de considerar, em primeiro lugar, as pessoas e estar, por isso, ao seu serviço. O verdadeiro progresso tem de se orientar para a criação de condições que permitam a educação e o crescimento de todas as faculdades humanas em todas as partes do mundo. A situação presente tem de ser ultrapassada com a colaboração de todos. A economia e a tecnologia são importantes quando servem a humanidade. Trata-se de ter em conta a totalidade da pessoa e de todas as pessoas. Tudo isto cria obrigações específicas para os países mais ricos e desenvolvidos. As novas tecnologias não podem servir apenas alguns, mas têm de estender-se a toda a humanidade e aos países em vias de desenvolvimento. Por isso o desenvolvimento não é apenas económico, mas concretiza-se segundo as várias culturas, entendidas como modos colectivos de pensar, sentir e reagir. A partir destes princípios são várias as considerações da encíclica, tais como: a) dever de acolhimento; b) sentido social dos apoios; c) diálogo de civilizações: d) apoio aos jovens; e) qualidade dos peritos. E várias outras. Citando outros documentos do Magistério, o Papa realça o lugar e o papel do trabalho humano, que não é igual ao da máquina, mas deve contribuir para o crescimento da verdadeira fraternidade humana. Por fim, a encíclica exorta todas as forças e entidades a empenharem-se nesta tarefa, nomeadamente a Igreja, para a construção duma verdadeira solidariedade baseada no respeito mútuo e com a preocupação de construir a paz. Cón. José Carlos Sousa Perito em Doutrina Social da Igreja Dossier AE Populorum Progressio