Cón. António Rego e Paulo Rocha analisam relação difícil, mas com boas perspectivas para o futuro
O director do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais, cónego António Rego, considera que “a televisão ainda padece de um preconceito recôndito sobre o religioso, onde por vezes o que importa é desmascarar os aspectos negativos”.
A intervenção teve lugar esta Quinta-feira, durante uma sessão do congresso internacional das Ordens e Congregações Religiosas em Portugal, a decorrer em Lisboa.
O jornalista da TVI lamentou o facto de “o saber mais sobre o religioso ser, muitas vezes, secundário” nas matérias abordadas pelos media, “havendo quase um desconhecimento total da história das religiões”.
Estes problemas, no entender do sacerdote, foram bem visíveis no tratamento dado aos escândalos que vieram a público, envolvendo a Igreja.
Sem olhar às “virtudes públicas”, os órgãos de comunicação social preferiram concentrar-se nos “pecados privados”, criticou o cónego António Rego, para quem “a excepção, por vezes, tornou-se a regra”, levando a que “o religioso, como entidade, fosse todo ele envolvido nesse plano mais negativo”.
A solução para a relação de desconfiança que se criou, entre o plano religioso e os Media, terá de passar por cedências mútuas.
“As duas partes terão de respeitar os seus próprios ritmos, só assim os desencontros irão acabar, encontrando-se um plano comum” defendeu Paulo Rocha, director da Agência ECCLESIA.
O jornalista considerou também essencial, por um lado, a existência de profissionais de comunicação social especializados em assuntos religiosos.
“O tratamento de forma jornalística do religioso resulta sempre pior se não for tratado por especialistas, essencialmente por desconhecimento das linguagens”, assumiu.
As Ordens Religiosas devem saber “utilizar os media para a divulgação da sua Palavra”, sublinhou ainda.
A presença do religioso no mundo da comunicação, em toda a sua plenitude, é ainda um desafio que falta concretizar, mas ao longo dos anos têm sido dados passos nesse sentido.
O dia 16 de Maio de 1997 foi referido como uma data essencial nesta matéria, de acordo com o director da ECCLESIA, porque foi o período em que “foi assinado o acordo entre a RTP e a Comissão do Tempo de Emissão das Confissões Religiosas”.
Uma iniciativa que, até hoje, tem permitido a que 14 confissões religiosas possam dispor de tempo de antena, em rádio e televisão, para falarem sobre as suas iniciativas.
O passo seguinte será o da interactividade, “a religião 2.0”, referiu Paulo Rocha, para quem a Igreja, e as suas diversas instituições, têm na era digital, na Internet, uma oportunidade essencial de redefinir as suas estratégias de comunicação.
“É neste contexto digital que o religioso tem de estar”, conclui o director da Agência ECCLESIA, citando a mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2009.
Na sessão que abriu o terceiro dia do Congresso Internacional das Ordens e Congregações Religiosas, moderada por Paquete de Oliveira, provedor do espectador na RTP, participaram ainda o padre Fernando Cristóvão, professor catedrático da Universidade Nova de Lisboa, e Simão Fonseca da Silva, da Sociedade Bíblica.