D. Carlos Azevedo e Eugénio Fonseca pedem mudanças de fundo. Presidente da Cáritas fala em «plano de emergência nacional»
O número recorde de desempregados em Portugal, que ultrapassa as 600 mil pessoas, deve motivar uma revisão do “modelo de desenvolvimento” económico, defende D. Carlos Azevedo, presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social.
Em declarações à ECCLESIA, o bispo auxiliar de Lisboa afirma que “o futuro não auspicia melhores dias”, pelo que “será necessário rever o conceito de emprego e começar a pensar em repartir o próprio emprego”.
“Penso que era preciso ter a coragem de acabar com as horas extraordinárias, para que outros possam ter emprego. Isso implica que as pessoas vão ganhar menos e ter uma vida mais simples, mais austera”, sublinha.
Em primeiro lugar, destaca D. Carlos Azevedo, não estão “direitos adquiridos”, mas a capacidade de “socorrer os mais carenciados, que neste momento são os desempregados”.
Preocupação partilhada pelo presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio Fonseca, para quem se justifica, neste momento, um “Plano de emergência nacional” por parte do governo português.
“No próximo ano, a situação vai ficar ainda pior”, alerta.
Para este responsável, “a solidariedade vai precisar de medidas políticas que façam com que a economia crie os dinamismos que possam gerar postos de trabalho”.
Eugénio Fonseca lamenta que, no Orçamento de Estado para 2011, só se “ouça falar em cortes e não em medidas que entram mais no âmbito da protecção social”.
“A recuperação do défice não justifica tudo”, indica o presidente da Cáritas Portuguesa, para quem “um país desalentado não contribui” para essa recuperação.
D. Carlos Azevedo destaca a importância de ajudar quem está sobreendividado, procurando “caminhos de saída” para esta situação.
“Estes tempos difíceis exigem imaginação e criatividade, para ir ao encontro dessas pessoas”, aponta.
Eugénio Fonseca, por seu lado, manifesta preocupação pela chamada “pobreza envergonhada” que impede muitas pessoas de “procurar ajuda”.
“Esta crise não se revolve com medidas governamentais, por muito boas que possam ser, tem de se envolver as populações, como parte da solução”, conclui.
No terceiro trimestre de 2010, quase 610 mil pessoas estavam no desemprego, elevando a taxa para os 10,9%, 285 mil das quais são jovens (desemprego equivalente a 15,5%, nesta faixa etária).
Apesar destes números, o presidente do Instituto da Segurança Social, Edmundo Martinho, afastou um aumento da taxa de pobreza em Portugal no próximo ano.
Em declarações à agência Lusa, à margem da Conferência Internacional sobre Pobreza e Exclusão Social, que decorre até Sábado, em Lisboa, Edmundo Martinho admitiu, no entanto, que se trata de um momento “difícil” e “delicado” em termos de protecção social.