Desemprego e solidariedade em grupo

GEPE – Grupos de Entreajuda na Procura de Emprego

Sobre o desemprego em Portugal está quase tudo dito: a sua dimensão assustadora, a tendência crescente que ainda se observará nos próximos meses, a ausência de solução no horizonte e a aflição de tantos para sobreviver sem trabalho. Como perante muitos outros desafios sociais, importa ir além do diagnóstico e da espiral negativa das notícias quotidianas do agravamento da situação.

Do lado das soluções é evidente que o essencial passa pela inversão da recessão económica, da destruição de emprego e, sobretudo, que se criem novas oportunidades de trabalho para quem está desempregado, usando todos os formatos possíveis (autoemprego, emprego por conta de outrem,…). Infelizmente, a sociedade civil e os cidadãos pouco podem neste domínio. Não têm a alavanca para o crescimento económico, nem empregos para oferecer, embora possam dar o seu contributo como consumidores (por exemplo, preferindo adquirir produtos nacionais). Por isso, podem cair na tentação da impotência e sentirem-se dispensados de fazer algo, só porque não podem fazer tudo. Ora, todos podemos – e devemos – ser solidários hoje com quem sofre na pele o drama do desemprego.

Uma das dimensões mais descuradas na problemática do desemprego é a sua dimensão psicológica. O efeito devastador de se sentir sem lugar no mercado de trabalho, sem capacidade de prover as necessidades pessoais e da família e sem nada para fazer é brutal. Não é por acaso que os estudos da OMS mostrem uma correlação arrepiante em que por cada 1% de aumento de taxa de desemprego corresponde um aumento de 0.8% na taxa de suicídio.

Na sociedade portuguesa existem poucas respostas estruturadas que correspondam a esta necessidade. O Instituto P. António Vieira (IPAV), bem como a CÁRITAS, lançaram mãos à obra. O modelo seguido passa por criar grupos de entreajuda entre pessoas desempregadas, que possam corresponder a uma ação solidária efetiva de combate ao isolamento e ao risco de depressão, tendo dessa forma o efeito positivo de promover a procura de trabalho em contexto de grupo. Assim, estão a nascer pelo País, dinamizados pelo IPAV e pelos seus parceiros institucionais, os GEPE – Grupos de Entreajuda na Procura de Emprego (bem como os GIAS – Grupos de InterAjuda Social, da Cáritas) que visam mobilizar pessoas desempregadas para se ajudarem umas às outras.

Os GEPE constituem um modelo simples, barato e facilmente disseminável por todo o território. Estes grupos de 8 a 12 pessoas, animadas por dois animadores voluntários, com reuniões de periodicidade semanal ou quinzenal, permitem uma dupla função: por um lado, a partilha do trabalho de pesquisa de oportunidades de trabalho, pesquisa essa feita por todos os elementos do grupo para todos os elementos do grupo e, por outro lado, a autoformação em competências relevantes para a empregabilidade.

As vantagens parecem óbvias. Sabendo-se que uma dimensão crítica para conseguir emprego resulta das redes de contactos que cada pessoa desempregada tem, estar num GEPE quer dizer de imediato multiplicar por dez as redes de cada membro do grupo. Ao partilhar contactos, informações, pistas de oportunidades, num registo solidário os membros de cada GEPE estão a construir soluções para si e para os outros.

De igual forma, a noção de que se é útil e valioso, de que se pode ajudar quem está na mesma situação de desemprego, pode ser profundamente mobilizadora. Ajudar e ser ajudado é a equação central. Também para quem está em dificuldades, ser solidário na tempestade é parte da solução.

Neste projeto, são já instituições anfitriãs em Lisboa, o Centro Universitário P. António Vieira, a Junta de Freguesia de Campolide, o Serviço Jesuíta aos Refugiados, a Fundação S. João de Deus e Fundação Santa Rafaela Maria e no Porto, o CREU e as Escolas do Torno e do Prado. A rede destes parceiros está em acelerado alargamento e, por todo o país, vão surgindo solicitações.

Com o apoio da Fundação Montepio, este projeto dos GEPE representa uma solução simples ao alcance de qualquer estrutura da sociedade civil que não queira ficar indiferente ao drama do desemprego crescente. O esforço de coordenação ágil e flexível, capaz de tirar partido de uma ação descentralizada e autónoma das várias instituições parceiras, pode constituir um ponto essencial para que esta ferramenta sirva muitos desempregados.

No quadro atual de desemprego ninguém pode ficar indiferente perante quem não tem trabalho e se afunda numa espiral depressiva e de desmotivação. Ser solidário, neste contexto, é dizer através da entreajuda em grupo que ninguém fica sozinho nesta crise.

Rui Marques
IPAV – Instituto P. António Vieira
(www.ipav.pt)
gepe@ipav.pt

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