Desafios às novas gerações

Miguel Oliveira Panão (Professor Universitário), Blog & Autor

Cada geração de jovens enfrenta um desafio cultural diferente. E se olharmos para a nossa experiência pessoal, esse desafio tem muito a ver com a evolução tecnológica na era digital. Como influi a tecnologia sobre o tipo de aprofundamento da fé de um jovem hoje?

Posso falar apenas pela minha experiência no ensino superior. No dia do jogo entre Portugal e Espanha, os meus alunos pediram se podia adiar o exame uma hora para que não coincidissem. Foi um jogo sofrido, mas o resultado conseguido exigiu muita concentração e domínio emocional dos jogadores. Um exame não é diferente, bem como os desafios enfrentados pela novas gerações. Sofridos, exigem concentração e preparação emocional para tomar as decisões que asseguram o futuro de uma geração.

A entrada na vida quotidiana da ligação digital a um número infinito de mundos e consumidores de tempo leva-me a reflectir sobre os grandes desafios que os jovens têm diante de si.

Por exemplo, de acordo com um estudo que tem já alguns anos, os adolescentes consumiam quase 9 horas de conteúdos digitais por dia que vão desde as redes sociais à visualização de vídeos no YouTube. Não creio que a situação se tenha alterado muito até hoje.

Qual o motivo por se imergirem tanto em mares de informação e conteúdos digitais? Eu penso em dois motivos. Dopamina e conectividade.

A dopamina é um neuro-transmissor libertado pelo nosso cérebro que tem um papel fundamental na componente motivacional do comportamento. É uma substância que afecta as nossas emoções e sensações de prazer. Ora, por cada “gosto” numa foto publicada, ou quando uma mensagem é recebida, há libertação de dopamina e em excesso, pode levar ao vício como qualquer estupefaciente. O que é o acesso descontrolado ao mar “internético” de conteúdos senão um bar aberto onde qualquer jovem vai beber quando, como, e quanto quiser?

Depois, de cada vez que vejo um aluno numa aula a consultar o telemóvel, salvo raras excepções, o mais comum é estar a trocar mensagens ou consultar as redes sociais. Além da dopamina que pensa ajudar a superar uma aula que está a ser uma seca, ainda fica com a sensação positiva que provém de estar ligado a outras pessoas, como se estivesse fisicamente presente. Bom, mas fisicamente não está. E ao imergir no digital, mais facilmente se desliga do real. É preocupante.

Somos seres relacionais e o desejo de estar conectado é natural e humano. No fundo desejamos também profundidade e no mar imenso de distracções que está acessível ao mero toque de um dedo, isso torna-se cada vez mais desafiante.

Não me admira que o modo como lidamos com a vida digital influa sobre a vida espiritual. Aquela que envolve o nosso corpo e capacidade de atenção para aprender a escutar a “voz interior.” A voz através da qual podemos experimentar um diálogo com Deus. A vida através da qual encontramos um sentido e significado que nos move e motiva a aspirar coisas grandes.

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Agência ECCLESIA

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