Desafios à Vida Religiosa em Portugal

Pe. Manuel Barbosa, Presidente da CIRP Celebrar o Dia do Consagrado significa celebrar a vida de todos aqueles e aquelas que se entregaram a Deus na forma de existência cristã que é a Vida Consagrada, na qual se inclui a Vida Religiosa. Nos seus quase quatro anos de existência, a Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP) tem procurado cumprir o objectivo principal da sua missão: coordenação e dinamização dos diversos Institutos Religiosos e Sociedades de Vida Apostólica, masculinos e femininos, reforçando os laços de solidariedade entre eles e promovendo iniciativas apostólicas em comum. A promoção de um melhor conhecimento da Vida Consagrada na Igreja e na sociedade, assim como a atenção constante aos desafios que interpelam a presença dos religiosos no mundo, respondendo-lhes com sentido profético, é igualmente elemento integrante da sua missão. Uma releitura recente do inquérito de 2004 sobre os religiosos e religiosas em Portugal constata o seguinte: são boas pessoas, acolhedoras e com boa formação humana, que falam de Deus e Jesus Cristo, dão catequese e estão nas missões e trabalham para os pobres e fracos; são pessoas felizes, mas devem dar mais atenção à vivência da castidade e da pobreza; são pessoas que devem ter ideias mais actualizadas, pois muitos têm dificuldade em compreender o nosso tempo e (talvez por isso) mostram, por vezes, intransigência ou autoritarismo; embora vão ser claramente menos, são importantes para os portugueses e não devem fechar as suas casas; devem, isso sim, ir buscar leigos para os ajudar e tornarem-se mais atractivos para os jovens, mesmo que estes não tenham (muita) fé, nem conheçam a vida religiosa. Este retrato vindo da sociedade civil, mesmo se nalguns aspectos pareça não corresponder àquilo que os religiosos e religiosas são e fazem, pode trazer renovados desafios à sua vocação e missão. Este tempo de celebração do Ano Paulino pode constituir também um desafio para renovarem a sua consagração no plural dinamismo carismático, a sua vida fraterna em comunidade no essencial dinamismo de comunhão, e a sua missão na exigência e urgência do anúncio do Evangelho. A CIRP procura promover a fidelidade comum a este tríplice dinamismo, característico da vida cristã e, no que toca à sua acentuação específica, da vida consagrada religiosa. Os tempos de formação em comum, quer para postulantes, noviços, juniores, religiosos com menos de dez anos de profissão perpétua e formadores, quer para superiores maiores em assembleias gerais, quer ainda para inúmeros participantes nas semanas de estudo anuais, são espaços privilegiados para reassumir a paixão e o encanto na vida religiosa, sempre a partir do encontro e seguimento radical de Cristo. A reflexão e a partilha em comum sobre tantas actividades na área social e missionária, seja pelas inúmeras instituições de solidariedade social que são pertença dos institutos religiosos, seja pelas iniciativas no campo da justiça e da paz, seja pela atenção concretizada às vítimas de tráfico de pessoas, seja ainda pelos espaços conjuntos da animação missionária em Portugal são dinamismos de identidade da vida religiosa. A organização local da CIRP, em secretariados regionais nas dioceses, constitui importante espaço de formação, de celebração da vida religiosa e de inserção ao serviço das Igrejas locais. As actividades conjuntas da pastoral vocacional, com recurso a especialistas na área da comunicação e do marketing, são momentos privilegiados para se aprender a melhor conhecer e propor a vocação à vida cristã e religiosa, em atenção permanente aos dinamismos de mudança da nossa sociedade em rede. Os grandes desafios colocam-se na fidelidade renovada aos pilares da vida religiosa: a consagração, a comunidade e a missão. Nesse contexto, há desafios concretos que permanecem e outros que vão surgindo: a participação em iniciativas da Igreja em Portugal; a presença partilhada em espaços de vida religiosa na Europa e a nos países lusófonos em particular; o lançamento da página da CIRP na Internet, a edição de um Anuário CIRP e uma atenção redobrada à comunicação; a publicação de um estudo para assinalar o I Centenário da expulsão das Ordens e Congregações na I República; a participação num Congresso Internacional sobre as Ordens Religiosas, em 2010; as implicações fiscais da aplicação da Concordata; a atenção às problemáticas do ensino e das instituições sociais, em colaboração com outras instâncias eclesiais. A CIRP procura coordenar e dinamizar respostas comuns aos desafios e sinais dos tempos, em fidelidade carismática ao Espírito de Jesus Cristo, em atitude de serviço à comunhão eclesial e de abertura à mudança. P. Manuel Barbosa, scj – Presidente da CIRP

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