Desafio da Igreja é salvar o homem dele próprio

Bispo auxiliar de Braga deixa reflexão sobre o direito à vida nas Jornadas Teotonianas

O grande desafio que a Igreja contemporânea enfrenta é salvar o homem dele próprio procurando educar as pessoas para o direito à vida, defendeu em Monção o Bispo Auxiliar de Braga, D. Manuel Linda, numa reflexão sobre a “Pessoa Humana no centro da doutrina e acção da Igreja”.

O Prelado, na segunda conferência das Jornadas Teotonianas, começou por uma abordagem ao estado da questão relativa à centralidade do homem no mundo apresentando as diferentes antropologias na permanente discussão se são fruto do cristianismo, que com a sua visão apresenta o homem como imagem do próprio Deus, ou fruto da laicização.

Em muitos a opção pelo homem implica a «morte de Deus», contudo esta suposta morte de Deus conduziu à «morte do homem», esta bem mais «real» do que a figurada de Deus que o diga «história de martírio» do século XX.

D. Manuel Linda disse à cultura moderna que não encontra na religião um «concorrente» porque a fé em Deus, «longe de esvaziar o homem eleva-o à eternidade».

«O valor absoluto do homem é hoje património da humanidade», acentuou, contudo a questão muda de figura quando chegamos à prática com «tomadas de posição conflituosa» e a tensão entre a mentalidade católica e laica.

Claramente, disse o Prelado, urge fazer caminho m ordem à preservação da dignidade do homem ultrapassando as concepções liberalizantes que considerou «arcaicas» e umas «velharias» com mais de 2500 anos.

A concepção que reduz o homem à sua funcionalidade e à sua bioquímica, que considera apenas o corpo e as suas capacidades e emoções, abre portas a verdadeiras tragédias como aborto e eutanásia. «São os mais fortes que ditam a sorte dos mais fracos».

O homem é uma «unitotalidade», explicou D. Manuel Linda, procurando ultrapassar todo o resquício de dualilismo ao o apresentar como corpo e alma em partes separadas.

Por isso os cristãos, defendeu, têm de acentuar «o valor e a dignidade do corpo», afirmando o «direito à vida» como base de todos os outros e por isso é «fundamentalíssimo» fazer a sua protecção mais do que todo os outros direitos.

Neste chamamento a promover a «vida humana toda», somos desafiados a conviver com a «degradação biológica» porque a vida é um bem com limites. «Colocar-se ao serviço da vida é saber aceitar o limite da morte», explicou.

D. Manuel Linda avançou na reflexão desafiando os católicos para o empenho nas condições de desenvolvimento integral da vida, dizendo que o futuro passa pela «coordenação» na luta pela «qualidade de vida» e «santidade de vida» (vida a respeitar).

Olhando para o pioneirismo que, ao longo da história, a Igreja demonstrou na arte de bem fazer ao homem, D. Manuel Linda sublinha a absoluta necessidade de «continuar» a encontrar respostas para o presente porque «a vocação é ir à frente», «sempre na linha da frente».

Se a vida é o maior dos valores, é chegado o tempo, defende, de «educar para a vida» incutindo nas pessoas estima, apreço e salvaguarda da vida.

Por isso, neste «tempo movediço», o cristianismo é chamado a dar um contributo para a «compreensão e valorização do homem», na «abertura ao outro», na «busca da verdade» e no «discernimento».

A Igreja, concluiu, com a sua sabedoria acumulada por tornar-se na instância ética, no grande critério das escolhas acertadas porque «salvar o homem é a nossa honra e nisto reside o nosso calvário».

Paulo Gomes

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