Democracia cristã nos fundamentos da Europa

A Europa não pode esquecer que, entre os seus fundamentos, está a democracia cristã. A História dos 50 anos dos Tratados de Roma vem lembrar essa referência e afirmar a necessidade de afirmar, hoje e para definição do futuro, a identidade da Europa. A acompanhar a construção da União Europeia está, permanentemente, a COMECE (Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia). Em entrevista à Agência ECCLESIA, Mons. Noel Treanor, Secretário-geral da COMECE, afirma que a Europa “tem sido um projecto validado pelo seu trabalho. O seu sucesso no futuro vai depender dos cidadãos”, porque foi pelo contributo dos seus cidadãos que este projecto começou. “A democracia cristã foi alicerce deste projecto”, sublinha Mons. Treanor. Não foi a única mas muitos dos fundadores da União Europeia foram democratas cristãos que “foram inspirados na sua visão política da sociedade pela antropologia cristã”. O Secretário-geral da COMECE relembra as declarações de Pio XII: “mensagens dos anos 40 em que claramente ele apoiava a ideia de um projecto europeu como um processo de reconciliação entre inimigos, construção da paz e de partilha de riqueza para um nível igualitário entre todos”, tendo esta ideia ganho eco pelos seus seguidores. “É muito importante sublinhar o facto de cristãos, homens e mulheres, de todos as religiões cristãs, em particular da tradição católica terem-se envolvido na construção europeia enquanto cidadãos nas instituições europeias, como membros do Parlamento Europeu”. Nas suas vidas profissionais “em várias áreas têm desempenhado o seu papel porque acreditam e têm como base pessoal e na sua formação cristã, que o projecto europeu é um veículo que transporta para a vida real, valores fundamentais e princípios que os cristãos sempre tiveram como importantes”. 50 anos de paz Este assinalar dos 50 anos, significam afirmar um projecto que “tem sido um sucesso, que nos deu 50 anos de paz, que tem promovido a democracia e uma lei; que tem permitido dar pequenos e grandes passos que nos juntam à volta de uma mesa como iguais e onde o projecto europeu se tem tornado um país maior para um desenvolvimento além-mar”. Não sendo perfeito, “tem problemas que se manifestam a nível nacional e internacional, assim como a nível europeu”. Um dos problemas que a Europa enfrenta neste momento “é a falta de entendimento e de compromisso pelos nossos cidadãos”, sublinha o Mons. Treanor, visível no nível de participação nas eleições nacionais. “A Europa precisa é do apoio dos seus cidadãos”, destaca, acrescentando a responsabilidade que os cristãos têm neste apoio. “A União Europeia terá em conta elementos da antropologia cristã e atenderá aos cidadãos europeus”, acredita o Mons. Noel Treanor, acrescentando que as suas políticas “vão considerar os valores de respeito pela vida, pelos estrangeiros, desenvolvimento de políticas responsáveis sobre imigração, respeite a vida nas políticas de investigação”, sugere. Presidência Portuguesa Durante a presidência portuguesa a COMECE assegura seguir atentamente o debate. Há a forte possibilidade de a União Europeia organizar uma conferência com África. Durante a última presidência portuguesa, esta conferência esteve marcada, mas não se realizou. “Esperamos que esta aconteça e esperamos dar um contributo junto com os representantes da Igreja africana para a preparação dessa conferência”, assegura o secretário geral da COMECE. As políticas de investigação na União Europeia ganham especial destaque nas áreas em que a COMECE pretende acompanhar. “A inovação é muito importante para o futuro da Europa, para que possa contribuir para um desenvolvimento da investigação europeia e também para a criação de empregos”. No entanto, no programa de investigação há uma secção específica sobre projectos relacionados com investigação de embriões humanos. “Este é um tema que temos acompanhado proximamente e vamos continuar a fazê-lo”, porque “há que encontrar um equilíbrio entre a liberdade de investigação e o respeito pela inviolabilidade da vida humana baseada nas questões ética e antropológica”. O acompanhamento a políticas sociais europeias e o ano europeu para o diálogo intercultural são outras áreas que a COMECE destaca. Com o aproximar do ano 2008, dedicado ao diálogo intercultural, a COMECE promete “algumas iniciativas nesta área, concretamente no diálogo inter-religioso”. Congresso A COMECE prepara a organização de um congresso em Roma, entre os dias 23 e 25 de Março, onde vai juntar uma comissão de sábios, bispos e membros da União Europeia com o objectivo de “identificar os valores e a responsabilidade dos cidadãos na União Europeia”. A COMECE é constituída por Bispos delegados de 21 Conferências Episcopais da Europa. D. Amândio Tomás, Bispo Auxiliar de Évora, representa a Conferência Episcopal Portuguesa.

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Agência ECCLESIA

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