O Bispo Auxiliar de Braga D. Antonino Dias considerou que a degradação do conceito de família é uma das causas da instabilidade social reflectida no aumento da criminalidade. «Se não se apostar na família, se não se cuidar verdadeiramente da família, da sua estabilidade e dos seus valores, jamais serão resolvidos os problemas que atormentam a nossa sociedade e as próprias famílias. Se não se atacarem as causas, iremos passar a vida a remediar os efeitos com aspirinas que só causarão insónias e mais dores de cabeça». O prelado, que há poucos dias foi eleito Bispo titular de Portalegre-Castelo Branco, dirigiu-se aos participantes na peregrinação das paróquias do arciprestado de Vila Verde ao santuário de Nossa Senhora do Alívio, advertindo para o perigo da prática da religião baseada no comércio. Esta foi a última peregrinação aos santuários marianos da Arquidiocese de Braga do ano pastoral que terminou, o terceiro do triénio dedicado à Pastoral da Família. Por isso, e correspondendo aos objectivos traçados pelos reitores e capelães dos santuários, D. Antonino Dias quis rezar com as famílias cristãs de Vila Verde, para que elas, «à semelhança de Maria, escutem e anunciem a Palavra em que acreditam para poder resistir aos “catrinas”, “ritas”, “ikes” e toda a espécie de furacões a que os nossos políticos e governantes a sujeitam e, por arrasto, fazem sujeitar a sociedade em geral». Para D. Antonino Dias, que no dia 7 de Outubro toma posse da diocese de Portalegre- Castelo Branco, o director do Gabinete Coordenador da Segurança Nacional tem razão quando disse que, entre as causas do aumento de criminalidade em Portugal, está a degradação do conceito de família. Leonel Carvalho «colocou o dedo na ferida», observou o Bispo Auxiliar de Braga, mas, «se toda a gente sabe disso, convém a muita gente manifestar que não sabe, até para poder dizer à boca cheia que aqueles que defendem a família estruturada em valores são retrógrados e obscurantistas ». «A família é, foi e será o núcleo fundamental da sociedade. É a família que tem papel determinante na transmissão de valores, na recepção gradual de regras de comportamento e de respeito mútuo. Há vozes que se levantam, e bem, contra a precariedade e a instabilidade do emprego, contra a falta de condições existenciais na diversidade das suas dimensões e que também perturbam a família”. Mas “salvo raras e boas excepções”, explicou o prelado, referindo-se aos partidos políticos considerados de “esquerda”, “não se ouvem vozes a falar, com igual veemência, em defesa da família, protestando contra aquelas leis que “persistem numa política que elege a irresponsabilidade, a precariedade e a insegurança na família”». Neste aspecto, D. Antonino Dias fez eco das críticas feitas, há poucos dias, por Isilda Pegado (jurista e ex-deputada pelo PSD), no jornal “Público”, num artigo relacionado com a criminalidade e o veto do Presidente da República à nova lei do divórcio. O que falta à sociedade A propósito da criminalidade e da insegurança, D. Antonino Dias afirmou ainda que “se fala muito da instabilidade social, da criminalidade impune, da insegurança em que vivemos, da falta de respeito pela vida, pelas pessoas e seus bens. Querem convencer-nos que tais chagas sociais se vão resolver com mais polícias na rua, com melhores armas para matar, com novas leis e reforma do Direito e do Processo Penal, com mais isto e mais aquilo. O que é certo, porém, é que a sociedade vive apreensiva, amedrontada e sofredora, e muitos continuam a ficar sem os seus bens e, não raro, humilhados e traumatizados de braço dado com as costas quentes e a cabeça rachada. E tudo se desculpa. E tudo parece já pertencer à normalidade do quotidiano. Um noticiário que não passe grande parte do seu tempo a falar de assaltos, roubos, tiros e mortes… já começa a não ser noticiário que preste». Ainda segundo D. Antonino Dias, faltam à sociedade actual homens da estatura de Robert Schuman, Konrad Adenauer, Alcide De Gasperi… e Tomás Moro. Aqueles, considerados os “pais” da União Europeia, «foram capazes de traduzir em política a própria vocação humana e espiritual»; o estadista inglês – explicou –, «olhado e tido como exemplo imperecível de coerência moral, mesmo por gente que está fora da Igreja e é chamada a guiar os destinos dos povos», é «fonte de inspiração para uma política que visa como seu fim supremo o serviço da pessoa humana». Imagem e flores na despedida ao bispo No final da Eucaristia celebrada ao ar livre no recinto do santuário, D. Antonino Dias – que está de partida para Portalegre- Castelo Branco, a terceira maior diocese de Portugal em território – recebeu uma imagem de Nossa Senhora do Alívio e flores, entregues por crianças. Esta foi a forma escolhida pelas 57 paróquias de Vila Verde para agradecer a presença do prelado, nos cerca de oito anos em que D. Antonino visitou o concelho como Bispo Auxiliar. Os peregrinos despediram-se do prelado com uma demorada salva de palmas. Redacção/Diário do Minho