Deficiência: Sociedade «não está preparada» para «acolher a todos» e a Igreja como parte dela «também vive isso», afirma Carmo Diniz

Celebração jubilar das Pessoas com Deficiência realiza-se em Roma entre segunda e terça-feira

Lisboa, 25 abr 2025 (Ecclesia) – Carmo Diniz, diretora do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência (SPPD), da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), defende a necessidade de criar condições para acolher a todos na Igreja.

“O tema [das pessoas com deficiência] está na sociedade que ainda não está também preparada para acolher a todos e a Igreja, como parte da sociedade, também vive isso”, afirmou a responsável, em entrevista ao programa Ecclesia, emitido este domingo na Antena 1.

Segundo a entrevistada, “é preciso contratar intérpretes de língua gestual”, “adaptar os espaços”, algo “que dá trabalho, pode até custar dinheiro”, mas “nem sempre”.

“É preciso preparar a casa e a casa não está preparada. Isso é pena”, lamenta.

O Jubileu das Pessoas com Deficiência, no âmbito do Ano Santo 2025, realiza-se entre segunda e terça-feira em Roma.

Carmo Diniz lembra o convite que o SPPD estendeu a cada diocese de promover um encontro com o bispo para viver a celebração jubilar, a que a Diocese de Bragança-Miranda respondeu positivamente.

O Serviço Pastoral à Pessoa com Deficiência da Diocese do Porto decidiu ir a Roma, indica a responsável, que não tem dúvidas que vai com um “sentimento de gratidão”.

“Eu gostava que cada diocese pudesse promover esse encontro com o bispo, porque eu também tenho a perceção que ainda é preciso as pessoas com deficiência encontrarem o colo dos seus bispos e tenho a certeza que os bispos também o desejam”, refere.

A diretora da SPPD considera que às vezes é só necessário “fazer a ponte” quando ambos os lados desejam.

Em declarações ao Programa Ecclesia, Carmo Diniz revelou que o Serviço Pastoral em Beja “está prestes a ser anunciado”.

“É muito importante que os nossos bispos também tenham a consciência e o gosto e a alegria e a amizade pela fragilidade”, destaca, acrescentando que o que falta é perceberem que esta tem muito a trazer à Igreja.

“As pessoas com deficiência, também já o disse muitas vezes no passado, por experiência de vida, por preconceito da sociedade, já têm algum receio de se aproximarem, é preciso mesmo abrir a porta e dizer: ‘venham, venham, eu estou aqui para os receber’ ou então ir ao encontro, como o Papa”, explicou.

Carmo Diniz dá o exemplo do Santuário de Fátima que tem uma postura de “liderança brutal” e que tem feito “um trabalho extraordinário” relativamente aos surdos, com a ajuda de uma equipa de trabalho.

Foto: Agência ECCLESIA/LJ

“A língua gestual portuguesa, não existe um gesto para uma palavra, ou seja, tem uma gramática diferente, uma construção diferente e, como os surdos portugueses são pouco catequizados, existem poucos gestos para palavras de liturgia ou mesmo para as leituras da Bíblia”, esclarece.

De acordo com a responsável, este é um trabalho que só pode ser feito com pelas pessoas surdas, uma vez que só elas podem criar as suas próprias palavras.

“O Santuário junta intérpretes surdos e catequistas no sentido de uma construção coletiva para abrir o léxico e abrir os gestos e podermos ter uma língua gestual com amplitude para abarcar os conceitos católicos, neste caso, e esse trabalho está a ser feito em grande liderança pelo Santuário de Fátima”, sublinha.

Apesar de ser líder, Carmo Diniz salienta que o Santuário “não pode e não deve ser o único”, ou seja, as estruturas mais locais, como as dioceses e as vigararias, têm também de ter uma resposta.

“Em Lisboa já começa a haver alguma movimentação e já existem pelo menos duas vigararias com Missas com língua gestual”, na vigararia de Cascais e na paróquia de Telheiras, dá conta.

“Isso já é um grande feito para Lisboa e precisamos de ter mais dioceses e é preciso assumir o custo, mesmo que seja o custo financeiro, para se criar uma comunidade e depois a comunidade dará resposta às suas necessidades, mas sem o primeiro passo da Igreja, os surdos não serão catequizados e será difícil encontrar surdos na Igreja”, garante.

O Jubileu dedicado às pessoas com deficiência deve reunir em Roma cerca de 10 mil peregrinos, incluindo familiares e acompanhantes, provenientes de mais de 90 países de todo o mundo.

O encontro do Ano Santo 2025, convocado pelo falecido Papa Francisco, conta com a participação de milhares de crianças, jovens e adultos, sobretudo de Itália, mas também 500 dos Estados Unidos, 260 da Polónia, 215 de Espanha, 160 do México, 140 do Canadá, 90 da Argentina, 70 do Brasil.

O Vaticano regista ainda a participação de grupos da Alemanha, França, Portugal, Croácia, Índia, Indonésia, Colômbia, Chile, Equador, Filipinas, Congo, Nigéria, Austrália, China e outros países.

OC/LJ

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