Responsáveis de Serviço Pastoral lamentam estigmatização e desinteresse perante esta população
Lisboa, 17 abr 2012 (Ecclesia) – A Igreja Católica em Portugal defende uma mudança de paradigma em relação às pessoas com deficiência, para superar preconceitos e integrar esta população, pedindo “medidas de acompanhamento adequadas”.
“A representação social destas pessoas é que são um peso, são uma ‘cruz’. Estamos desafiados a olhar para elas como pessoas e não as reduzir à sua deficiência”, escrevem Alice Caldeira Cabral e Maria Isabel do Vale, responsáveis do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência (SPPD), em texto hoje publicado no Semanário Agência ECCLESIA.
Ambas assinalam que esta população e as suas famílias “estão muito sós com os seus problemas por falta do reconhecimento social da questão da deficiência”.
Como exemplo, aponta-se a questão das barreiras arquitetónicas, frisando que “apesar de a lei garantir o direito ao acesso, na prática esse direito não existe e as pessoas afetadas sentem-se discriminadas e sobretudo isoladas”.
O SPPD foi criado no âmbito da Pastoral Social pela Conferência Episcopal em novembro de 2010, para responder a uma problemática que é “transversal a toda a vida pessoal e social”
Segundo Alice Caldeira Cabral e Maria Isabel do Vale, registou-se “algum progresso” nos últimos anos, tanto na Igreja como na sociedade portuguesa, mas “a preocupação com o acompanhamento pessoal e existencial com vista à inclusão é praticamente inexistente”.
Estas responsáveis admitem que nas instituições da Igreja, nas paróquias e nos diversos movimentos não se exprime, “de um modo geral, a preocupação com esta população, que constitui cerca de um 10% da população em geral”.
Nesse contexto, acrescentam, “não tem sido fácil o arranque e a implantação do Serviço Pastoral, porque a consciência do problema é muito baixa” e porque “continua a haver uma atenção deficitária às diferentes problemáticas ao nível do planeamento e da organização dos serviços”.
“Os surdos não têm catequistas preparados e salvo raras exceções (Leiria é um exemplo a seguir), não há missas dominicais com tradução em linguagem gestual ou com a preocupação explícita de estabelecer a comunicação com pessoas que não sendo totalmente surdas, têm limitações auditivas”, alertam.
As responsáveis do SPPD destacam, por outro lado, o “investimento da Conferência Episcopal” neste campo e mostram-se “confiantes de que as vias para a construção duma Igreja mais atenta a esta problemática é possível”.
O dossier do Semanário Agência ECCLESIA é hoje dedicado a esta problemática, antecipando a celebração nacional dos 40 anos do movimento Fé e Luz, com o apoio do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência, em Fátima, entre 28 de abril e 1 de maio, que se dirige a “pessoas com uma deficiência, familiares e amigos”.
“A imagem social das pessoas com deficiência enquanto peso, mal ou mesmo castigo de Deus, tem de ser mudada! É necessário reconhecer-lhes o estatuto de ‘pessoa’, dom para toda a humanidade”, sublinha Alice Caldeira Cabral, também coordenadora nacional deste movimento ecuménico.
OC