João Paulo II apresentou mais uma vez, este sábado, as suas posições em defesa da vida, desde a sua concepção até à morte natural, ao receber no Vaticano a nova embaixadora da Holanda na Santa Sé, Monique Frank. O Papa abordou a questão da pandemia da Sida, lembrando que “a Santa Sé considera que é necessário, antes de tudo, para combater esta doença de forma responsável, aumentar a prevenção”, nomeadamente através da educação para o respeito do valor sagrado da vida e a formação para “uma prática correcta da sexualidade que supõe castidade e fidelidade”. Após sublinhar o papel que a Holanda desempenha na assistência sanitária “junto das populações particularmente expostas ao drama das pandemias, como a da Sida, que rapidamente se espalhou em África, provocando incontáveis vítimas”, o Papa lembrou que ele próprio pediu que a Igreja se mobilize em favor das vítimas, especialmente para que lhes seja assegurado o acesso “aos cuidados e aos medicamentos necessários através de numerosos centros de tratamento”. João Paulo II defendeu na passada sexta-feira que a Igreja deve olhar com “particular solicitude” para as zonas do mundo onde os doentes de Sida “estão privados de assistência”. O Papa falava aos participantes na assembleia plenária do Conselho Pontifício para a Pastoral da Saúde (CPPS), por ocasião do 20º aniversário da fundação do Dicastério, instituído com o Motu Proprio “Dolentium hominum”. A Santa Sé apresentou em Dezembro a Fundação “O Bom Samaritano”, uma espécie de Fundo Global da Igreja Católica que tem como objectivo ajudar economicamente os doentes mais necessitados, de modo particular os contagiados pelo VIH/Sida. O próprio Papa contribuiu com 100 mil Euros para o arranque da iniciativa. “O Bom Samaritano” trabalha de duas formas: o primeiro movimento consiste em solicitar recursos entre os católicos de todo o mundo; a segunda operação é distribui-los para a ajuda aos doentes mais pobres e desprotegidos a nível internacional, assim como para a prevenção da Sida. Eutanásia Outro tema sobre o qual o Papa apresentou a sua preocupação foram as políticas legislativas sobre o começo e o fim da vida, condenado de forma explícita a eutanásia, aprovada por lei nos Países Baixos. “Há muitos anos que a sociedade holandesa, marcada pelo fenómeno da secularização, se está a comprometer numa nova política em matéria de legislação relativa ao começo e ao fim da vida”, constatou o Papa. Nesse sentido, convidou o país a “medir a gravidade” da sua política em matéria de eutanásia e a construir uma sociedade “cada vez mais atenta às pessoas e à sua dignidade”. A Holanda foi o primeiro país do mundo a legalizar a eutanásia, sob condições muito estritas, em Abril de 2002. O Papa lembrou que o Vaticano “não deixou de manifestar a sua clara posição” no que diz respeito ao “respeito absoluto da pessoa humana, desde a sua concepção à sua morte natural”. Um futuro de paz Num discurso que abarcou as principais questões do momento, João Paulo II considerou que “a cada momento, as notícias do mundo lembram a todos a necessidade imperiosa de construir um futuro de paz entre os homens”, exigindo ainda a consolidação de “uma ordem internacional estável”. Segundo o Papa, a justiça internacional e o diálogo são as chaves para enfrentar os desafios estabelecidos pela globalização, passando “por uma melhor repartição dos recursos a nível internacional e por uma política activa de ajuda ao desenvolvimento”. João Paulo II mencionou ainda as tensões provocadas “pela rápida transformação das nossas sociedades, num mundo cada vez mais aberto à diversidade de culturas”. “Para que o sentido de pertença cultural não se transforme em recusa, um antídoto eficaz é o conhecimento sereno, não condicionado por discriminações negativas, das outras culturas”, indicou. “Com esta condição, será possível estabelecer entre as diferentes comunidades relações pacíficas, para construir todos juntos o edifício comum da nação”, acrescentou. O Papa recordou as suas iniciativas em Assis, juntado representantes de todas as religiões do mundo “para manifestar juntos nossa vontade de paz” e para negar “qualquer legitimação do recurso à violência por motivos religiosos”.
