Declínio Sazonal do Cinema

Desde que, há muitos anos, a distribuição em Portugal abandonou a política de aproveitar a época de Verão para recuperar obras antigas, em reposições muitas vezes agradáveis, o período estival tornou-se um deserto, mantendo-se (ou reduzindo-se ligeiramente) o número de estreias, mas baixando de uma forma vertiginosa a sua qualidade. No ano corrente, longe de haver alguma recuperação sobre este comportamento está-se a sentir um agravamento, escasseando, já desde o início de Junho e salvo raras excepções, os filmes capazes de prender a atenção do público. E destes os de maior valor são estreados com um lançamento discreto com um número reduzido de cópias. Oriundos, muitas vezes, de origens menos habituais nas nossas salas, destinam-se aos mais cinéfilos, mantendo o público em geral com poucas opções de escolha. Não se antevê grande melhoria até meio de Setembro, tendo em conta as previsões de estreia já divulgadas, e quando muitas das mais significativas vão sendo sistematicamente adiadas. Mas, sobretudo em Lisboa, há bom cinema de fácil acesso que pode satisfazer uma parte limitada do público. Fora do circuito comercial sucedem-se os ciclos especializados, os Festivais e as sessões da Cinemateca Portuguesa. Nesta última as novas gerações têm ocasião de ver cinema de outros tempos, conhecer o ritmo diferente que era aplicado e os bons argumentos que então se desenvolviam. Já este mês haverá lugar a obras de Alfred Hitchcock, Robert Mulligan e Jacques Tati, bem como dos mais densos Ingmar Bergman e Takeshi Kitano ou dos mais ligeiros Billy Wilder Eric Rohmer e Steven Spielberg. Para os mais curiosos sobre culturas distantes conta-se ainda com um longo ciclo sobre a Índia e o seu cinema, que permitirá uma perspectiva bem mais completa que a deixada pelo longo período em que o sector comercial divulgou filmes desta origem, mas em geral escolhidos entre os piores. Francisco Perestrello

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