De que estás à espera? Há pressa no ar!

Emanuel Lucas, Diocese de Santarém 

Os símbolos da JMJ, peregrinos entre nós

Já nos é muito familiar ao ouvido a melodia do hino da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) 2023, “Há pressa no ar”. A pressa está no ar: a passagem dos símbolos da JMJ pela Diocese de Santarém é já em junho, e a JMJ acontece já em agosto. Em agosto apenas? Já está a acontecer nas nossas dioceses com a passagem dos símbolos da JMJ como quem nos grita “desperta tu que dormes” e anda daí, pois há pressa no ar!

Uma grande cruz de madeira simples e um ícone mariano, pintado ao jeito da arte bizantina, têm percorrido as dioceses portuguesas, transpondo muros, quebrando barreias, visitando as mais diversas realidades incluindo as mais esquecidas, mas também indo ao encontro de cada um. Parecem dois simples símbolos, mas carregam consigo a marca das gerações de jovens que com eles caminham desde 1984.

Estes símbolos não são apenas pedaços de arte, são símbolos de fé que um dia foram confiados aos jovens por um Papa que viu na juventude um tesouro valiosíssimo que precisava de se redescoberto e cuidado. Quem teve experiência de levar estes símbolos, de carregá-los nas suas mãos, sente que não o faz com o pequeno grupo que naquele momento o acompanha, mas que, na verdade, dá continuidade ao caminho que já tantos fizeram, carregando-os com cada um dos que em algum momento destes quase 40 anos levaram estes símbolos e que de alguma forma continuam a ser parte deste caminho. Não são 10 ou 20 mãos, são milhares de mãos que continuam a transportar estes símbolos. Por isso, carregar esta cruz e este ícone, tocar estes símbolos, é sentir que as nossas mãos, que os tocam, tocam tantas outras, tocam a história e acrescentam mais uma marca que permanecerá. Uma história que é feita de tantos e tantas, das mais diversas longitudes e latitudes, com as mais diversas histórias e experiências de fé ou ausência dela, que nestes símbolos arriscaram deixar-se encontrar com Cristo.

Apesar dos grandes eventos que vão marcando a passagem dos símbolos, talvez a beleza maior esteja nos momentos mais simples. Na passagem dos símbolos por Coimbra, que acompanhei mais de perto, foram os momentos de mais proximidade com as pessoas que se revelaram mais ricos, mais belos. Na passagem pela paróquia da Sé Velha, os símbolos pararam à porta de uma senhora idosa, com 93 anos, que pôde, assim, aproximar-se deles e tocar no ícone. Ali, sentiu-se jovem, com os jovens, deixando-se contagiar pela alegria deles, e contagiando-os de volta com a sua própria felicidade. Em várias fotos, noutros pontos da Diocese, ficou registada a ternura com que as crianças se aproximam e tocam nos símbolos. Podem até não compreender ainda bem a sua dimensão, mas aproximam-se de Cristo, de Maria, em quem sentem conforto, em quem se sentem acarinhados. Na Capela da Universidade, noutro momento, vi presentes alguns professores que penso não serem crentes, mas que ainda assim, não deixaram de querer testemunhar este momento. A passagem pelas prisões e pelos hospitais e lares, ao encontro das periferias, revelaram-se também momentos de grande profundidade.

Pela água, como aconteceu na passagem dos símbolos da Diocese de Vila Real para o Porto, por terra como em tantos, tantos caminhos, ou pelo ar, como aconteceu na passagem aérea sobre a cidade de Coimbra, em Domingo de Páscoa, os símbolos chegam a onde e a quem é preciso chegar. Foi assim não apenas em Coimbra, mas em todas as dioceses que a precederam neste caminho, e também será assim, por todas por onde ainda peregrinarão.

Contudo, vale a pena recuar no tempo, em busca do pensamento de João Paulo II para compreendermos melhor o significado e a mensagem destes símbolos. Viajamos até 1984, ano em que a Igreja vivia Ano Santo da Redenção. Nesse contexto, celebrou-se em Roma o Jubileu dos Jovens. No final da eucaristia desse Domingo de Ramos, João Paulo II confiou aos jovens uma grande cruz de madeira, e com ela a missão de a levar pelo mundo. No ano a seguir nasciam as JMJ. Volvidos 15 anos, muitos quilómetros de peregrinação pelo mundo depois, João Paulo II, na mensagem para a JMJ de 2000, recorda esse dia em que “eu confiei-vos uma enorme Cruz de madeira, pedindo-vos que a carregassem pelo mundo fora como sinal do amor que o Senhor Jesus tem pela humanidade e assim proclamar a todos que somente em Cristo que morreu e ressuscitou é que há salvação e redenção. Desde então, carregada por mãos e corações generosos, a Cruz tem realizado uma longa e ininterrupta peregrinação pelos continentes, para assim demonstrar que a Cruz caminha com os jovens e os jovens caminham com a Cruz.”

Aproveitando a boleia dessa mensagem de João Paulo II, viajamos até essa JMJ de Roma 2000. Em Tor Vergata, palco dos eventos centrais, há algo de novo no altar, ali mesmo ao lado da cruz dos jovens. Pela primeira vez, uma réplica do Ícone Maria, Salus Populi Romani, venerado há séculos pelo povo romano, está presente no altar de uma JMJ. Maria vigia assim, junto da cruz, sobre as “sentinelas da manhã”, como então chamou o Papa aos jovens. Três anos depois, na JMJ diocesana de 2003, em Roma, os jovens trazem de novo este ícone. João Paulo II revela então que “a fim de que permaneça sempre visivelmente evidente que Maria é uma poderosíssima Mãe que nos guia para Cristo, desejo que no próximo domingo, seja entregue aos jovens de Colónia, juntamente com a Cruz, também este Ícone de Maria e que, com a Cruz, de agora para o futuro, ela peregrine pelo mundo para preparar as Jornadas da Juventude.” Desta forma, o Papa Wojtyla confia aos jovens também aquele ícone mariano, que peregrina assim pelo mundo, lado a lado com a cruz.

Desde novembro de 2021 que estes símbolos peregrinam também entre nós, tendo já percorrido quase todas as dioceses de Portugal. Estiveram há poucos dias no altar do mundo, no Santuário de Fátima, onde integraram a Peregrinação Internacional Aniversária de maio. Ali, a cruz das JMJ, pegando nas palavras do Pe. Joaquim Ganhão, “conduziu a procissão”, não apenas a procissão das velas que se dirigia para o altar do recinto ou do cortejo de entrada da eucaristia do dia seguinte, mas conduziu e conduz a humanidade nesta peregrinação terrena, na companhia de Maria. Estes símbolos, partiram um dia de Roma, e volvidos quase 40 anos, peregrinam entre nós para encontrar e acompanhar os jovens de hoje e de ontem, presos e doentes, pessoas de importância mundana e pessoas simples, pessoas de fé e pessoas sem fé, e tantos, tantos mais. E, especialmente, para te acompanhar a ti, que lês estas linhas. De que estás à espera? Há pressa no ar!

* Estudante na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, originário das Paróquias de Torres Novas

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Agência ECCLESIA

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