Padre Manuel Ribeiro, Diocese de Bragança-Miranda
Começo com esta pergunta que, julgo eu, incita a uma profunda e séria reflexão. Afinal, de que é que o medo tem medo? A resposta é simples. O medo tem medo da coragem! Sim, da coragem. A coragem provoca as mudanças para aquilo que pretendemos e/ou desejamos. Mais, ela provoca-nos no sentido de ir à procura de soluções, levando-nos a sair do medo que nos prende e nos acorrenta, que nos impede (até) de sonhar e de ser quem queremos ser e/ou descobrir quem estamos destinados a ser. Mas atenção, a coragem não fica desprovida da virtude da prudência. Ela calcula e pondera sempre os possíveis riscos. Portanto, a pergunta que se nos coloca é: quantas vezes não demos o passo certo por causa de tantos medos, alguns infundados?
Ousamos ser corajosos para voar porque o coração, quando tocado e ancorado pela coragem, torna-se um balão que nos impele a voar bem alto. E quanto ele mais se encher, mais ele voará. Arrisque! Sonhe! Sempre!
Se é verdade que o amor nos desinstala e nos obriga a perder os (muitos) medos que nos prendem ou impedem de nós vivermos a nossa própria vida, também é verdade que ele (o amor) nos projecta a sonhar em ser vida na vida de alguém.
Isto até é curioso pelo facto de que as próprias festividades natalícias que se aproximam, acabam por testificar que o amor é o maior provocador e maior encorajador de encontros. Não estranhemos, portanto, que, sob a graça do dom do nascimento de Deus Menino, se abra uma inenarrável oportunidade de sermos vida e presença no coração de alguém.
Com sapiência e sagacidade, o Cardeal D. Tolentino Mendonça afirmou: “sem tempo tornamo-nos desconhecidos. Sem tempo falamos, mas não escutamos. Repetimos, mas não inventamos. Consumimos, mas não saboreamos. Tempus fugit”.
O Natal é, com efeito, a visibilidade da coragem, o sinal indelével de que o medo foi suplantado pela alegria do Dom e da Graça. Mais, é a oportunidade mais bela de deixarmos uma marca (a nossa marca) no coração de alguém, de nos tornarmos, simultaneamente, memória e saudade, desejo e carência. “Creio que o mais egoísta dos homens é aquele que recusa dar aos outros a sua fragilidade e as suas limitações. Quem recusa aos outros a sua pequenez, comete um dos mais infelizes gestos de prepotência. E porque aí se rejeita, aos outros não poderá dar senão o sofrimento da perda. Querendo-se sem falha, será o mais incompleto dos seres” (Daniel Faria, in “O Livro do Joaquim”).
O medo atrofia, asfixia e aniquila! Libertemo-nos! Tenhamos a coragem para nos libertar. Não tema! Vá! Vá ao encontro da sagrada manjedoura, contemple-a e, humilde e reverentemente, deixe-se tocar pelo doce sorriso de Deus Menino. N’Ele o frágil é forte, o abandonado é acolhido, o esquecido é lembrado, o rejeitado é amado. Jesus é Luz que traz vida e sentido, que traz valor e significado. Nunca se esqueça disso!
Gostava de deixar uma sugestão final (e perdoem-me a ousadia!): por que não ter neste Natal o belo propósito de ser vida e luz para com aqueles que o rodeiam e, sobretudo, ser também para Jesus um conforto humilde e generoso, um colo acolhedor e um alívio nas inúmeras (e infindáveis!) ofensas que tanto magoam o seu Sacratíssimo Coração?
Manuel Ribeiro, padre