De costas voltadas?

Sandra Costa Saldanha, Diretora do Secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja

Partilhar experiências consumadas e colocá-las ao serviço de todos, podia bem ser, nos dias que correm, uma realidade insofismável, não apenas uma utopia.

Por tradição, motivação genética ou cultural, como alguns defendem, em Portugal não se trabalha convictamente com um desígnio nacional, nem tão pouco a uma escala global. Por via da regra, a transversalidade e o trabalho em rede só muito custosamente penetram nos princípios estratégicos de inúmeros organismos, estatais, municipais, eclesiais, e tantos outros. Quantos e quantos são os casos em que todos fazem o mesmo; em que uns não potenciam a prática dos outros; em que outros não comungam do saber dos primeiros. E partilhar, aqui, não mais representa que uma saudável multiplicação de resultados.

Perpetuando procedimentos avulsos e criando modos exclusivos de atuação, num discurso monocórdico, que se esgota em si mesmo, atua-se prioritariamente em benefício próprio, em torno de objetivos locais ou institucionais. A excessiva cultura da cautela, somada a um desempenho sectário, quantas vezes faccioso, e minada por uma incompreensível ausência de comunicação, anula essa emergente necessidade de partilha, potenciação de sinergias e otimização de recursos.

As estruturas nacionais podiam bem ser espaços de convergência, se como tal fossem entendidas e logradas. Os contributos locais serão tanto mais válidos quanto mais genuinamente integrados num itinerário comum, num espírito congregador, de abertura e visão multicultural, de proximidade e diálogo, enfim, de cooperação e unidade que, como nunca, se deseja verdadeiramente ecuménico.

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