Padre Hugo Gonçalves, Diocese de Beja
A 25 de Março do ano de 1992 (solenidade da Anunciação do Senhor), o Papa São João Paulo II assinava a Exortação Apostólica «Pastor Dabo Vobis» (“Dar-vos-ei pastores”) sobre a formação dos sacerdotes. Hoje, peço emprestado este título, retirado da passagem do livro do Profeta Jeremias que diz: «Dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, que vos conduzirão com inteligência e sabedoria.» (Jr 3, 15); para refletir um pouco sobre o presente da Igreja, isto é, sobre o Conclave que terá início no próximo dia sete de Maio.
Embora a generalidade da comunicação social ocidental seja avessa à Igreja – umas vezes de forma velada, outras de forma clara – a verdade é que ela se entusiasma com estes acontecimentos da morte de um Papa e da eleição de um novo. Por um lado tende a canonizar o Papa falecido, por outro lado procura entrar num jogo de apostas e adivinhações sobre aquele que será o novo sucessor do Apóstolo S. Pedro. Evidentemente que, desprovidos de fé e de visão sobrenatural, os média, coadjuvados por inúmeros comentadores laicos ou com pouquíssima formação cristã, tendem a olhar para a eleição de um Papa como se fosse a eleição de um qualquer político para um cargo de relevo, e que as Congregações Gerais fossem um género de comício politico onde diversas fações, de esquerda e de direita, liberais e conservadores se digladiassem para colher mais votos para o seu candidato.
Contudo, este olhar enviesado sobre aquilo que é o processo de eleição de um Papa, parece ter também contagiado alguns católicos, que ‘fazem apostas’ naquele que virá a ser o novo Sumo Pontífice, apresentando os seus ‘preferiti’, mais ou menos liberais, mais ou menos conservadores. Uns querem um Papa liberal que possa, mais do que conduzir a Igreja segundo o Evangelho, segundo o Coração de Cristo, o faça segundo o coração dos homens; já outros preferem um conservador que abula a língua vernácula da Liturgia, que clericalize todas as estruturas da Igreja universal e particular. Julgo que ambas as visões estão erradas. Ao ouvir tantos comentadores nas televisões, especialistas em todas as matérias e em matérias nenhumas, e ao ouvir até alguns católicos entre esses comentadores, que advogam que o próximo Papa deve ser uma continuidade do nossa amado Papa Francisco – um género de clone – e outros que advogam precisamente o contrário, dei por mim a pensar: “E eu que pensava que o próximo Papa deveria ser um pastor segundo o coração de Deus, que nos conduziria com inteligência e sabedoria, não a sabedoria humana mas de Deus!? Afinal estou errado, isto parece tratar-se apenas de escolher um líder religioso, com um programa político e não divino, que procure contentar fações e não tanto fazer a vontade de Deus que se expressa mormente nos Evangelhos”. Há também ‘a mania’ de que nós, Igreja no Ocidente é que tem a visão certa para toda a Igreja, que as nossas opiniões são as mais válidas, em suma, a Igreja que decai e minoritária e dentro dela uma minoria, parece querer ditar e impor a sua vontade à maioria que se encontra em África e na Ásia – um género de neocolonialismo religioso. É verdade que a eleição de um Papa tem algo de humano, mas creio que os senhores Cardeais eleitores, ouvindo-se, também estão nestes dias em profunda oração, para que a eleição seja de alguém segundo a vontade de Deus para o nosso tempo, que mais que político seja um bom pastor à imagem de Cristo Bom Pastor que deu a vida pelas suas ovelhas, que proclame o Evangelho na sua integralidade, que possa conduzir a Igreja na Verdade e na Caridade, que seja Misericordioso como Deus o é, não deixando de corrigir os erros como Jesus o fez, porque isso não incompatível com uma Igreja para todos, todos, todos.
Para nós católicos este é o tempo em que reforçamos a nossa oração pela Igreja, pelos Cardeais que vão eleger o próximo sucessor de Pedro, para que este seja aquele que Deus quer para o nosso tempo. Depois da eleição, é tempo de rezarmos e estarmos unidos ao Papa, sabendo que ele, tal como todos os seus predecessores, desde S. Pedro, não são perfeitos, mas homens frágeis a quem Deus chamou para conduzir a Igreja.
Pe. Hugo Gonçalves
Diocese de Beja