No contexto da sociedade actual, «falta pensar mais no desenvolvimento humano» defende o padre Vítor Melícias
Num mundo em que se privilegia cada vez mais o factor económico, “é preciso encontrar novos caminhos, que permitam que o Homem se desenvolva de forma plena”, em todas as suas facetas.
Uma opinião defendida pelo padre Vítor Melícias, para quem “a solidariedade poderá ser um motor muito grande para isso mesmo”.
Durante uma sessão do Congresso Internacional das Ordens e Congregações Religiosas, dedicada ao tema das “Ordens, Congregações e Solidariedade”, esta Quinta-feira, dia 4 de Novembro, o sacerdote começou por sublinhar o papel que as Ordens Religiosas tiveram no enraizamento da solidariedade na vida social.
Apontando como exemplo os franciscanos, o actual superior da província portuguesa referiu que “eles marcaram a força fundamental da solidariedade”, definindo-a, no meio das comunidades, “não como um dever, mas como uma obrigação de todos e um direito para quem a recebe”.
Para o padre Vítor Melícias, ele próprio pertencente à Ordem dos Frades Menores, foi este trabalho das Congregações que despertou a sociedade civil para toda uma organização que, hoje em dia, está identificada nas Instituições de Solidariedade Social, religiosas ou não religiosas.
O problema é que cada vez mais a ajuda solidária sucumbe a critérios economicistas, um problema que, no contexto actual da crise que atravessa Portugal, ainda é mais visível.
“Fala-se em cidadania activa e na participação das instituições, mas a verdade é que são os sectores económicos que dominam, empobrecendo os mais pobres e enriquecendo os mais ricos”, critica o sacerdote, salvaguardando que “o Homem não tem apenas necessidades materiais, tem também necessidades do espírito”.
Ao longo do seu discurso, o padre Vítor Melícias abordou ainda os avanços e recuos no relacionamento entre o Estado e as Instituições de Solidariedade Social, umas vezes construído na base da mútua cooperação, outras vezes marcado por uma tentativa de controlo.
Para o religioso fransciscano, importa “não esquecer o Pacto de Cooperação e Solidariedade”, assinado entre o Governo, a Sociedade Civil e as Misericórdias, em 1996.
“Um acordo que definiu que a solidariedade é um papel de todos, não apenas do Estado” recordou aquele responsável.
Outras das coisas que importa alterar, para que “a solidariedade tenha o lugar que ela merece”, sublinha o padre franciscano, é “o sistema de afectação de recursos, que é feito por parte do Estado”, e que não permite uma auto-gestão mais eficaz das Instituições, muitas vezes dependentes de subsídios vindos do Governo.
A conferência contou ainda com a participação do padre António Vaz Pinto. O sacerdote jesuíta referiu-se aos votos das Ordens Religiosas como “votos de consagração a Deus mas também de compromisso social”.
“Elas foram sempre uma resposta eclesial às diferentes necessidades dos tempos”, sublinhou o padre António Vaz Pinto, para quem o papel das Ordens, no campo da solidariedade, passa hoje em dia por “estar de olhos bem abertos e detectar as necessidades profundas da sociedade, na fidelidade às suas raízes e na abertura ao futuro.
Num painel moderado por José Nunes, da Faculdade de Teologia da Universidade Católica de Lisboa, houve ainda tempo para abordar “os recolhimentos como formas de solidariedade monástica”, pela voz do professor Artur Manso, da Universidade do Minho, e conhecer “o papel social e cultural da Confraria de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, na Baía Colonial”, num trabalho da investigadora Maria Baptista, da Universidade de Aveiro.