Da timidez inicial ao enriquecimento do repertório musical na liturgia em Portugal

Quando se realizou o II Concílio do Vaticano (1962-65), um dos maiores compositores portugueses de música sacra, padre António Cartageno, estava no seminário, primeiro em Beja e depois nos Olivais (Lisboa). Foi, sobretudo, a partir de 1965, no Seminário em Lisboa, que este sacerdote da Diocese de Beja começou a viver com entusiasmo “as “novidades”, essencialmente, “as de carácter litúrgico” do pós-concílio.

Quando se realizou o II Concílio do Vaticano (1962-65), um dos maiores compositores portugueses de música sacra, padre António Cartageno, estava no seminário, primeiro em Beja e depois nos Olivais (Lisboa). Foi, sobretudo, a partir de 1965, no Seminário em Lisboa, que este sacerdote da Diocese de Beja começou a viver com entusiasmo “as “novidades”, essencialmente, “as de carácter litúrgico” do pós-concílio.

Formado em Canto Gregoriano e em Composição Sacra pelo Pontifício Instituto de Música Sacra de Roma (Itália) recorda que se lia “avidamente” os vários documentos, produzidos por essa magna reunião da Igreja, que começaram “a integrar os conteúdos das disciplinas do curso teológico” (In: «Vaticano II – 50 anos, 50 olhares», editora Paulus).

Apesar dos vários documentos saídos da assembleia convocada pelo Papa João XXIII, o padre António Cartageno realça que o que chamou a atenção “de todos” nessa altura “foi a introdução da língua vernácula na liturgia”. No início, “timidamente” eram apenas as leituras em português e o resto em latim, mas, depois de pouco tempo, “foi uma enorme comporta que se abriu e ninguém mais consegui fechar”, lê-se na mesma obra.

Em pouco tempo, toda a liturgia passou a celebrar-se em português, mas os “cânticos em vernáculo eram poucos e quase sempre inadequados, pois já não correspondiam à nova sensibilidade”, escreveu o padre Cartageno. Esta situação criou “um vazio” que levou anos “a preencher” e viveu-se um período de “grande pobreza musical” na liturgia: “cânticos adaptados daqui e dalém, sobretudo de França, Brasil e Espanha, introdução de espirituais negros, de música ligeira de toda a espécie”.

Actualmente, o padre António Cartageno desempenha o cargo de director do Secretariado Diocesano de Liturgia de Beja e recorda os nomes de Manuel Faria, Manuel Luis, Borges de Sousa, Carlos Silva, José Fernandes da Silva, Manuel Simões e Joaquim Santos (todos falecidos) que deram um grande impulso à música sacra em Portugal. “Cada um a seu modo, deram um importante contributo para a criação de um repertório litúrgico que veio começar a preencher o vazio então sentido e que muito enriqueceu as celebrações litúrgicas do pós-concílio em Portugal”.

Ao jeito de balanço destes 50 anos do pós-concílio, o padre da diocese de Beja salienta que em Portugal “se está a tentar ir pelo caminho que a igreja propõe”. E acrescenta: “Do que conheço do repertório publicado e da praxis das nossas comunidades (via rádio, televisão e observação directa) creio que se pode dizer que o panorama da música litúrgica praticada em Portugal é globalmente positivo”.

Apesar de reconhecer que em muitos grupos e comunidades celebrantes “há cedências à ligeireza e à superficialidade”, o director do Secretariado Diocesano de Liturgia de Beja constata que a oferta de reportório litúrgico-musical em Portugal é “já muito abundante e de razoável qualidade, nada ficando a dever ao que se faz noutros países da Europa”. E conclui: “É inegável um certa melhoria – lenta mas progressiva – nos últimos 20-25 anos”, se se comparar “com a pobreza musical das duas primeiras décadas do pós concílio”.

LFS 

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Agência ECCLESIA

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