Comissão Justiça e Paz da Diocese de Setúbal aponta as implicações sociais da Fé na preparação do Natal Deus só se conhece olhando o Filho, Jesus Cristo, que é o Deus feito homem, o Amor incarnado, o Amor vivido na sua plenitude, na doação aos outros, até ao sacrifício da própria vida.Jesus após os seus três anos de vida pública espalhando a Boa Nova, na “última ceia” partiu o pão, entregou-o aos seus discípulos e disse: «comei, isto é o meu corpo, e fazei isto em memória de mim»! A Eucaristia torna-se assim o verdadeiro sacramento da vida – assim como o pão é o alimento base, símbolo significativo de todo o tipo de alimentação do nosso corpo, na Eucaristia significa, e é, o Corpo de Cristo, a força do Amor que alimenta e dinamiza a nossa doação aos outros, nossos irmãos – torna-se assim o centro da Vida e da Verdade, o verdadeiro motor do Caminho que o Filho de Deus quer que trilhemos: a nossa entrega ao serviço dos outros, em especial dos que mais necessitam de apoio, os pobres, os doentes, os marginalizados, os excluídos, de que a nossa sociedade está cheia. E disse mais: fazei isto pelos séculos dos séculos, isto é até aos nossos dias, até hoje! E esse Caminho é o próprio Deus em acção, percorrê-lo significa a prática quotidiana da Boa Nova que ELE nos mandou como Missão: Ide e evangelizai todas as gentes! Assim, nos alvores do séc. XXI, neste mundo materializado e individualista, competitivo e pouco solidário, de guerras, terrorismos, delapidação da própria natureza, e de aumento da pobreza: · Seremos nós, os que nos dizemos cristãos, os que até comungamos o Pão Eucarístico, verdadeiros testemunhos de Amor? · Seremos nós, os que nos dizemos cristãos, os que até comungamos o Pão Eucarístico, verdadeiros testemunhos da solidariedade? · Estabeleceremos, os que nos dizemos cristãos, os que até comungamos o Pão Eucarístico, a verdadeira diferença, neste mundo de tragédia em que vivemos? · Será que a nossa Missão (a que ELE nos chamou, nos exigiu) sobressai nas sociedades em que nos integramos, nós, os cristãos de hoje? Recentemente, em Paris, durante o Congresso Internacional da Nova Evangelização, os congressistas vieram para a rua – e ele houve cânticos; ele houve música (clássica, rock ou jazz); ele houve debates públicos; ele houve interpelações das pessoas na rua, dessas pessoas que vivem a indiferença, o hedonismo, o imediatismo, e mesmo dessas pessoas que exploram e excluem os outros no dia-a-dia. Foi uma reunião de uma semana para ser sinal e motor da necessidade da vinda dos cristãos para a rua, querendo com isto significar a necessidade de sermos diferente e visíveis, nas famílias, nos ambientes de trabalho, nas associações, na política, em qualquer lugar. Temos, nós os cristãos, de nos consciencializar que esta é a nossa Missão neste mundo descristianizado, neste mundo que vive totalmente afastado dos ditames da solidariedade e do amor aos outros. E a nossa força virá da Eucaristia, o Pão da Vida! E na Eucaristia sentiremos a Comunhão com os nossos irmãos. E assim nos poderemos lançar (poderemos e devemos) à nossa Missão evangelizadora dos ambientes.E só assim este mundo poderá transformar-se em algo melhor, numa verdadeira caminhada para o Reino que Jesus nos prometeu e anunciou. Mas a realidade é que não basta dizer: “Deus ama-te” entre cânticos e folclore ruidoso, atrevido e corajoso, é certo! É necessário ir mais fundo! E o cristianismo sempre se assumiu como muito mais do que uma adesão epidérmica a uma manifestação sobrenatural ou um código de regras morais. O verdadeiro cristianismo tem de ser entendido como a adesão a um modo de viver que se quer identificar com a maneira de olhar a vida como Jesus Cristo. Para muitos católicos as implicações sociais da sua Fé ficam-se apenas por algumas questões, embora importantes, como o aborto, a eutanásia e a bioética, mas não chegam à denúncia de outras injustiças que ofendem a dignidade do homem e, sobretudo, não questionam o próprio modelo da sociedade, pouco condizente com o Evangelho que proclamamos. É necessário que não sejam os próprios cristãos, pelas suas atitudes desumanas e intolerantes, ou pela sua incapacidade de escutar, a produzir ateus.A questão séria é que por conformismo, ou mesmo por participação nas injustiças, ou por um modo de vida nada consequente com a Boa Nova anunciada por Jesus, e de que deveríamos ser arautos e construtores, o mundo continue a sua caminhada para uma laicização total, para um pragmatismo hedonista sem dúvida pecaminoso, pois, se o aceitarmos, seremos considerados verdadeiros assassinos do Amor. Esta responsabilidade dos cristãos tem de ser encarada por todos nós duma maneira iniludível dando origem a testemunhos simples e bem visíveis de amor aos outros para exemplo e incentivo dum mundo diferente. Por isso, poderemos considerar os congressistas cantando nas ruas de Paris como “um sinal” da necessidade de estabelecer uma diferença, de não temer manifestar a sua adesão ao Cristo e da necessidade de mudar este mundo. Para além dum comportamento impoluto na família, no trabalho, em toda a vida social, para alem da denúncia de tudo o que possa ser considerado pecado de “não amor”, os cristãos podem, e devem (é-lhes exigido) que organizem e colaborem em múltiplas tarefas e iniciativas que sejam esse sinal de Cristo que estabeleça a diferença, como por exemplo: colaborar “em massa” nos mais diversos voluntariados de entreajuda e apoio; promover a partir de pequenos grupos (nas paróquias, por exemplo) a formação de secretariados de apoio e informação a imigrantes; na recolha de roupas e agasalhos para pobres e sem abrigo; iniciar a organização de “bancos de tempo” (a par do “banco alimentar”) que oferecem e trocam “tempos de trabalho” útil a quem tem necessidade de variadas tarefas ou tempos de visita e conversação a quem sofre de solidão e isolamento; decidir dar apoio ao estabelecimento duma organização de microcrédito; organizar a formação de “feiras da ladra” ou de “limpeza de sótãos” onde se encontra muita coisa de utilidade para outros que têm carências; formar grupos de discussão sobre religião, problemas sociais ou ecológicos; formar núcleos de potenciais ONG,s para fins diversos, para solução de problemas detectados em cada comunidade; apoio de todas as naturezas a desempregados; etc. etc. Para cada iniciativa destas (ou outras) só se necessita dum líder e de meia dúzia de cristãos que levem a sério o seu desejo de imitação da vida de Jesus Cristo. E de grupos assim empenhados, em paróquias assim vivas, bem alicerçados na celebração da Eucaristia, com a força do Pão da Vida, imanaria “esse bom odor de Cristo” que seria verdadeira proclamação da Boa Nova. Neste Advento, o nascimento aqui e ali destes focos de Amor e Solidariedade, seria uma verdadeira preparação para a “chegada do Deus-Menino” às nossas comunidades e… aos nossos corações. E assim teríamos verdadeiro Natal! Eucaristia, Comunhão, Missão, caminho para “homens novos”, e teremos um verdadeiro Natal para um Mundo tão necessitado de mudança ! Comissão Diocesana Justiça e Paz, Mário Moura, Presidente Setúbal, Advento de 2004
