Da «cristandade» para a inserção no mundo: uma transição que está criar «desconforto» e «dificuldades» à Igreja católica

Director do Serviço de Apoio à Pastoral Escolar da Diocese de Angra considera que a «hora actual» não é favorável ao ensino religioso nas escolas

A passagem da “cristandade” para uma sociedade onde a Igreja “tem de estar presente no mundo” está a criar “desconforto” e “dificuldades”, afirmou o director da Pastoral Escolar da diocese de Angra, Pe. José Constância.

Em entrevista concedida hoje à Agência ECCLESIA, o sacerdote declarou que “está a dar-se uma grande mudança nos Açores” em relação ao catolicismo.

No entender do responsável, essas alterações “dificultam que as pessoas adiram, como antes, à frequência das aulas de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) e à prática religiosa nas comunidades”.

Depois de mencionar que “a hora actual” é marcada por “uma tendência para a privatização do religioso nas consciências e no interior da Igreja”, o director do Serviço Diocesano de Apoio à Pastoral Escolar reconheceu ser “natural” que a visão cristã esteja a ser, “até certo ponto, contestada”.

“Navegamos em águas que não são muito favoráveis ao ensino religioso”, salientou o Pe. José Constância, acrescentando que há “muita gente” a defender que os estabelecimentos escolares são um espaço “onde a Igreja não tem muito lugar”.

As aulas de EMRC também sofrem a ‘concorrência’ da Catequese, ainda que os conteúdos e métodos sejam diferentes: muitos jovens e pais consideram que este percurso, com a duração de dez anos, é suficiente para a formação religiosa.

Uma das consequências deste conjunto de factores é o decréscimo de alunos inscritos nas aulas de Educação Moral e Religiosa Católica, que, de acordo com as estatísticas da diocese de Angra, constituem 46% do total de estudantes entre o 5.º e o 12.º ano de escolaridade.

Os Açores “têm poucos alunos no Ensino Secundário, mas há dois ou três anos era a quarta diocese em Portugal com mais estudantes inscritos em EMRC”, salienta o responsável, acrescentando que as actividades paralelas às aulas promovidas pela Igreja reúnem “muita adesão”.

Dos 50 professores dedicados à disciplina que leccionam na diocese, perto de metade pertencem ao clero – 22 sacerdotes e dois diáconos.

“O facto de os padres estarem presentes na EMRC pode ajudar a Pastoral Escolar”, refere o Pe. José Constância, admitindo que “alguns estão sobrecarregados na pastoral paroquial”.

O director da Pastoral Escolar realçou que a presença do clero na Educação Moral e Religiosa Católica “tem sido um benefício”, “ainda mais numa diocese com grandes isolamentos”, embora esteja convicto de que, “a longo prazo”, os padres vão dedicar-se mais aos serviços pastorais do que às aulas.

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