Da crise de vocações à cultura pré-cristã

Em plena semana vocacional, o Pe. Amedeo Cencini, consultor no Vaticano, explica como mobilizar pessoas e comunidades A tão propalada crise de vocações na Igreja Católica deve levar as pessoas e comunidades crentes a perceberem que vivem numa sociedade pré-cristã. Esta “inversão” de perspectiva sobre aquilo que nos habituámos a ver pode ser “providencial”, defende o Padre Amedeo Cencini, consultor da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada. O sacerdote canossiano, licenciado em Ciências da educação pela Universidade Salesiana e doutor em Psicologia pela Universidade Gregoriana e professor nas duas Universidades, passou pelo Porto, para as Jornadas de Pastoral Vocacional promovidas pela Diocese. Em declarações ao Programa Ecclesia, este especialista defendeu que “se nos apercebermos que vivemos numa sociedade pré-cristã e não simplesmente pós-cristã, tornar-nos-ia mais atentos aos sinais de espiritualidade, incluindo a cristã”. “A perspectiva pós-cristã não nos permite ver estes sinais novos, como se fôssemos apenas uns nostálgicos do passado”, apontou. Esta alteração teria um impacto significativo na pastoral vocacional, porque “teríamos a liberdade interior de procurar novas vocações, não num sentido exclusivo de vocações sacerdotais e religiosas, mas de todas as que o Espírito de Deus pode hoje suscitar numa nova sociedade”. Outra consequência seria o abandono do discurso da “crise”, evitando uma lógica de comparações com o passado, mas “procurando caminhos novos”, marcados “pela esperança e a criatividade”. A passagem da crise vocacional à cultura vocacional deve, por isso, mobilizar vocacionalmente as pessoas e as estruturas da comunidade católica para a missão, acolhendo os sinais da “profunda sede de espiritualidade” na sociedade actual. “Trata-se, acima de tudo, de nos reconciliarmos com o mundo, de não ver apenas os aspectos negativos da cultura em que nos encontrarmos”, desenvolve. Neste contexto, cada Igreja local deve “saber entrar em contacto com a história na qual vive, a cultura e a sociedade”, para “iniciar concretamente uma relação nova com o mundo de hoje”.

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