Octávio Carmo, Agência Ecclesia

A transição do pontificado de Francisco para Leão XIV tem sido marcada, no essencial, por um discurso mediático centrado na continuidade entre Papas e a natural curiosidade por uma Robert Francis Prevost, figura até agora menos conhecida do grande público, que mantém ainda muitos dos hábitos de discrição e contenção com que viveu o (curto) cardinalato.
De Francisco ficaram fortes mensagens na opção pelos pobres, a aposta no diálogo e na misericórdia, a ecologia integral, a fraternidade humana e o ecumenismo, entre outras. Num mundo centrado na imagem, pode ser difícil pensar, imediatamente, que um Papa como Leão XIV possa manter a relevância conquistada pelo seu antecessor. Mas é preciso acreditar na mensagem e na sua capacidade de alargar fronteiras – e cada palavra conta, para o novo pontífice.
A recuperação de vestes mais tradicionais mostra, por exemplo, que o Papa vai procurar caminhos para chegar até setores que olharam com desconfiança para opções de Francisco, sem renunciar aos princípios que moveram o seu predecessor, em processos dos quais também fez parte e que poderá aprofundar em questões específicas como as mudanças no Código de Direito Canónico.
O primeiro Papa natural dos EUA, com forte experiência missionária em contextos marcados pela pobreza, tem promovido, desde o início, mensagens em favor do diálogo, da unidade e da construção de pontes, dentro e fora da Igreja. Deixando várias mensagens de forte cariz espiritual, em que apresenta a mensagem de Jesus como resposta a um mundo em busca de sentido, e sublinhando a importância da Doutrina Social da Igreja, o olhar de Leão XIV tem passado também pelas várias crises globais: guerras, migrações, alterações climáticas.
Noto que, na escolha do nome e na formação académica do Papa Leão XIV, existe um olhar específico para os desafios que o desenvolvimento tecnológico coloca à humanidade. Não só do ponto de vista do trabalho, mas do ponto de vista antropológico. O que é que vai ser o ser humano com o advento da inteligência artificial? Até onde somos humanos e até onde é que a tecnologia pode ir? A prioridade será fazer da Igreja Católica, do seu pensamento social, um reduto de humanidade para este mundo em transformação.