D. Ximenes Belo pede a governantes que evitem a corrupção

Bispo Emérito de Díli antecipa eleições em Timor-Leste O Bispo Emérito de Díli pediu ontem que São João Baptista apontasse novos caminhos aos governantes de Timor- Leste, para que estes «evitem a corrupção, o nepotismo e o ódio». «Sede diligentes na construção, com perseverança e amor, de um novo país», desafiou D. Ximenes Belo na missa comemorativa do 5.º aniversário da independência daquele país, que reuniu, na igreja da Santa Casa da Misericórdia, dezenas de timorenses a residir em Braga. Na curta homilia, o prelado não se referiu directamente à eleições parlamentares daquele país asiático, que têm lugar na próxima semana, mas, parafraseando o Santo, cujo nascimento foi comemorado ontem pela Igreja Católica, disse que gostaria que os novos governantes «preferissem os caminhos do Senhor», do desenvolvimento e da concórdia. Referindo-se às características humanas de São João Baptista – coerência de vida e denúncia do males da sociedade – o Bispo Emérito de Díli também disse que, «se ele voltasse hoje ao nosso meio, seria normal que fosse colocado no calabouço, pois denunciaria os ambientes mascarados de hipocrisia e duplicidade », aludindo, de forma indirecta, aos problemas que têm afectado a vida interna de Timor-Leste. Ximenes Belo espera que eleições proporcionem governabilidade O bispo emérito da Diocese de Díli, em Timor, presidiu anteontem à tarde, em Braga, às comemorações do quinto aniversário de Timor, numa cerimónia que decorreu no Instituto da Juventude, com a presença do embaixador da nova nação em Portugal, da historiadora Maria de Fátima Castro e do pintor César Taíbo. Na ocasião, interpelado pelos jornalistas, D. Ximenes Belo escusou-se a fazer grandes comentários sobre a situação política e o que espera do futuro daquele território, cujas eleições parlamentares se realizam no próximo domingo. «Temos que esperar pelos resultados e acreditar que seja possível o entendimento entre os concorrentes sobre as eleições e a formação do próximo governo de Timor», limitou-se a dizer o Nobel da Paz que, aquando da distinção do seu trabalho naquele território durante a ocupação indonésia, partilhou precisamente o prémio com o actual presidente da República, José Ramos Horta. O bispo emérito de Díli, que chegou a ser falado como um potencial candidato presidencial, reafirmou que «o passado é passado» e espera que haja «estabilidade pós-eleitoral», com a eventual vitória de uma das duas principais forças em presença: Fretilin ou CNRT/outros. Neste momento, «o mais importante é fomentar todas as acções que possam contribuir para o progresso e desenvolvimento do novo país», mantendo o “black-out” a que se remeteu, desde que deixou as funções de administrador apostólico da Santa Sé em Díli, abstendo-se mesmo de falar sobre qual deve ser o papel da Igreja neste momento, pois «tal compete definir e deve ser perguntado aos actuais bispos de Timor». Apoio para pólo de desenvolvimento A presença de Ximenes Belo em Braga é precisamente o reflexo do seu empenho em acções de auxílio a Timor, notando que está disponível para tal, desde que a sua participação seja útil para aumentar o apoio ao seu povo. O bispo emérito de Díli apadrinhou, por isso, as comemorações simbólicas do quinto aniversário da independência, numa cerimónia em que foi também inaugurada a exposição “Nús Trágicos de Timor”, de César Taíbo, e reapresentado o livro “Memórias da Dinastia de Bragança na Documentação da Misericórdia de Braga”, de Maria de Fátima Castro, cujas vendas se destinam à angariação de fundos para a construção de um pólo de desenvolvimento em Timor. O Prémio Nobel ressalvou ter «pouco conhecimento do que se pretende que seja este pólo de desenvolvimento», mas mostrou-se pronto a ajudar em tudo o que possa ajudar à melhoria da situação em Timor. Ora, antes, a historiadora Maria de Fátima Castro, que há vários anos contacta de perto com os estudantes universitários timorenses em Braga, realçou a necessidade de «criar condições no território para que estes jovens possam regressar com dignidade ao seu país» e colocar ao serviço do desenvolvimento todos os conhecimentos entretanto adquiridos». Este foi considerado também, pelo Embaixador em Portugal, como a principal necessidade de Timor «que tem tudo, só lhe faltam recursos humanos e estruturas produtivas organizadas».

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