D. Teodoro de Faria diz que a crise nasce dos homens

Uma multidão de fiéis, vindos de várias paróquias da diocese, encheu ontem a igreja de Santo António, no Funchal, e participou na procissão que se seguiu à festa litúrgica com um andor transportando a grande imagem do Santo português mais universal de todos os tempos. A concelebração eucarística foi presidida por D. Teodoro de Faria que, na homilia, traduziu para o nosso tempo a mensagem secular do sábio, doutor da Igreja e muito festejado pelo povo. “A sabedoria e a sua fama e o seu amor a Deus”, entretanto, continuam actuais, começou por lembrar o bispo do Funchal. Mas, a que se deve a devoção popular e do louvor da Igreja?, até mesmo junto de pessoas que não professam a fé católica, mesmo entre os muçulmanos? A explicação é simples: porque o santo colocou Cristo no centro da sua vida, Deus deu-lhe o dom da sabedoria, a graça de discernir os espíritos, a eloquência para atrair e converter as multidões, a inteligência para conhecer os sinais dos tempos”. A devoção e a grande popularidade de Santo António explicam-se simplesmente pelo facto de ele ter colocado “Cristo no centro da sua vida”, ao mesmo tempo que usufruiu da graça em saber discernir os sinais dos tempos e soube “dar Deus aos outros”, referiu ontem D. Teodoro de Faria na festa de Santo António. Uma atitude que pode significar também um sinal de esperança, num momento em que se vive uma certa crise, mas “a crise não nasce do nada, do vazio, tem pai e mãe, a crise nasceu dos homens, não de Deus”, sublinhou a propósito o bispo do Funchal. Embora vivendo em tempos difíceis (época das Cruzadas), a acção de Santo António foi exemplar “porque toda a sua vida foi dar Deus aos homens; e quem não dá Deus dá muito pouco; porque uma sociedade sem Deus nem princípios baseados no Evangelho destrói-se a si própria, torna-se pagã, escrava dos seus vícios e escraviza os seus irmãos”, sublinhou D. Teodoro para citar indirectamente a crise que se vive actualmente: “como acontece no tempo em que vivemos, tempo de crise, como se a crise não tivesse pai e mãe, e tivesse nascido do nada, do vazio; a crise nasceu dos homens não nasceu de Deus.” Santo António é, pois, um Mestre para todos os tempos. Grandes mudanças fazem-se por dentro A espiritualidade de Santo António de Lisboa não menospreza as circunstâncias terrenas, a acção para transformar o mundo, mas adverte nos seus Sermões que esta abertura ao exterior não deve transformar a caridade aos outros numa posse desmedida ou “de luxo”; antes, deve partir da vivência de Deus e da oração permanente, disse ainda D. Teodoro de Faria, numa chamada de atenção aos que querem transformar as estruturas através de soluções urgentes: “Hoje, são muitos os que, para reformar a Igreja colocam Cristo e Deus ao lado porque há outras urgências mais graves,”; a mentalidade é que “deve-se começar por mudar estruturas, renovar o exterior das coisas e das pessoas, melhorar a terra porque o céu pode esperar. É a tentação tão comum de substituir a fé pela acção, tendo como resultado destruir mais do que construir”. Mas, “sem Deus nada se constrói de sólido e de novo. As obras de caridade fazem parte da missão da Igreja.”. Mas, “a acção de Jesus não foi de ordem política, mas salvífica, e não foi desencarnada da dura realidade do sofrimento e da opressão do seu povo. A Sua mensagem, seguida por Santo António, é dirigida ao interior das pessoas; todas as grandes mudanças começam pelos corações”, concluiu o bispo do Funchal.

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