D. Manuel Clemente, bispo do Porto, faz o balanço da Missão 2010

Missão 2010: Avaliação e Projecção

É este o tempo, o sinal e o mandato!

Estimados irmãos e amigos

 1. Concluímos no passado Dezembro uma série de iniciativas evangelizadoras a que demos o título de Missão 2010 – Corresponsabilidade para a Nova Evangelização.

Tudo nasceu da necessidade advertida e sentida de repropormos Cristo como luz e companhia de todos, fora e até dentro das comunidades cristãs.

Sem esquecer que o horizonte da missão se alarga ao mundo inteiro e especialmente aos territórios onde nunca houve implantação eclesial ou esta apenas começou, fizemos nossas as urgências da Igreja europeia, assim definidas na Exortação apostólica pós-sinodal de João Paulo II, Ecclesia in Europa, “sobre Jesus Cristo, vivo na sua Igreja, fonte de esperança para a Europa” (28 de Junho de 2003): “A Europa faz parte já daqueles espaços tradicionalmente cristãos, onde, para além duma nova evangelização, se requer em determinados casos a primeira evangelização. […] Mesmo no ‘velho’ continente existem extensas áreas sociais e culturais onde se torna necessária uma verdadeira e própria missio ad gentes” (nº 46). E ainda: “Pode-se dizer, […] que frequentemente este desafio não consiste tanto em baptizar os novos convertidos, mas em levar os baptizados a converterem-se a Cristo e ao seu Evangelho: nas nossas comunidades, é preciso preocupar-se seriamente em levar o Evangelho da esperança àqueles que estão longe da fé ou se afastaram da prática cristã” (nº 47).

O tema foi fazendo caminho em sucessivos encontros dos anos 2007 e 2008: Conselho presbiteral, Conselho pastoral, reuniões de vigários, encontros com superiores de institutos religiosos e movimentos laicais… Em 2009 resolveu-se que a instância de proposta e acompanhamento do que se fizesse seriam os Secretariados diocesanos, assim acontecendo com a generosa colaboração das respectivas direcções e a coordenação directa do Bispo diocesano e do Pe. Américo Aguiar; e que a Missão se desenrolaria ao longo de um ano, em ligação com o ritmo sóciocultural da região e com as práticas tradicionais de cada comunidade, tentando avançar mais e melhor na proposta evangélica e suscitando a criatividade de cada comunidade ou grupo, visando aqueles “novo ardor, novos métodos e novas expressões” com que João Paulo II caracterizou a “nova evangelização”.

Foi assim que nos reunimos neste mesmo Seminário de Vilar – os orgãos centrais da Diocese e os representantes das comunidades paroquiais e outras – a 28 de Maio de 2009, lançando a temática geral e as específicas da “Missão 2010”. Foi grande a comparência e generalizada a adesão à proposta feita, iniciando-se local e sectorialmente a preparação das acções evangelizadoras correspondentes.

2. Concluída a Missão, desenvolveu-se entre Janeiro e Fevereiro a Avaliação de que agora vos dou conta em traços gerais, agradecendo ao Professor Joaquim Azevedo e aos seus colaboradores da Universidade Católica o generoso trabalho com que a levaram a cabo. Apurámos como pontos maiores:

a) Foi significativa a mobilização evangelizadora de várias comunidades, que assim exercitaram a criatividade e a corresponsabilidade dos seus membros. Cresceu a colaboração dos Secretariados diocesanos com as comunidades, apoiando-as com sugestões gerais e específicas, mês após mês.

b) Cresceu também a colaboração e a coordenação dos trabalhos dos Secretariados, que funcionaram em uníssono para um objectivo comum.

c) Resultou bem a conjugação das iniciativas da Missão com as tradições e os ritmos locais, levando-as “mais longe mais fundo”, como, por exemplo, Janeiras em Janeiro, Vias Sacras quaresmais e Compassos pascais, devoções marianas em Maio, Defuntos em Novembro… 

d) Foi grande a adesão ao que nos “fez sair” dos espaços habituais e contactar mais directamente as pessoas em geral, das Janeiras à grande procissão de 31 de Maio e das Vias Sacras aos Compassos, especialmente onde se foi além do que é costume.

e) Houve “surpresas” notáveis e duradouras, como a grande adesão dos jovens às “Fontes da Alegria” com que preenchemos os dias do Carnaval, em torno da oração e da partilha, motivadas pela presença da Comunidade de Taizé. Ou a peregrinação dos Frágeis, em Maio, não só pela grande concentração de pessoas, mas também por tudo quanto implicou de preparação e transporte dos enfermos.

f) Manteve-se, com ritmo e criatividade, a projecção mediática da Missão, especialmente através do “site” diocesano.

g) Houve alguma incidência da Missão – ainda que incipiente – nos sectores sócioculturais, que em geral se mostram abertos à nossa presença.

3. Em suma, da avaliação geral realizada, apuramos as seguintes acções em que houve maior participação activa das comunidades e grupos: Janeiras, com 71, 8 % de participação contra 28, 2 % de não participação; “Fontes da Alegria” (Taizé), com 52, 9 % contra 47, 1 %; Compassos, com 80, 4 % contra 19, 6 %; “Frágeis”, com 69, 5 % contra 30, 5 %; Devoções marianas (em especial em torno da Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima), com 80, 1% contra 19, 9 %; distribuição de folhetos nos cemitérios (“Morreste-me”), com 68, 8 % contra 31, 2 %. Registe-se entretanto que, sem envolverem tantas comunidades, houve outras actividades significativas e promissoras, como as realizadas com estudantes de vários graus de ensino, as Vias Sacras e Vias Lucis, a Festa da Solidariedade e dos Povos, a reabertura do ano escolar, o congresso e as acções “missionárias” de Outubro, ou as iniciativas da catequese em Dezembro, entre outras. Coincidindo com a Missão 2010, temos de realçar a presença do Papa no Porto, a 14 de Maio, com a sua homilia tão programática e a propósito.

Igualmente importante é referir as acções que tiveram maior repercussão nas comunidades, segundo a avaliação feita: Janeiras, 68 , 7 %; “Fontes da Alegria” (Taizé), 58, 6 %; Compassos, 60, 5 %; “Frágeis”, 61, 5 %; Devoções marianas, 60, 2 %: “Morreste-me”, 52, 7 %. Significativamente, concentram-se em quatro motivos maiores: Cristo – Maria – Enfermos – Oração, particularmente potenciados pela Missão 2010.

4. Do que foi, passemos ao que poderá ser. Começando pelo que deverá ser, seguindo as sugestões maiores que apareceram na Avaliação: Da parte das paróquias, a primeira insistência é feita na “Formação e na catequese de adultos”. Se juntarmos a insistência dos religiosos/as nos “Encontros de formação para os agentes de pastoral”; e a “Formação de padres” ou de “Grupos missionários”, com mais evangelização e catequese, também feita pelos movimentos e obras laicais, teremos a maior proposta para o futuro, como resulta do que se fez e concluiu durante e após a Missão 2010. Coincide, aliás, com a reflexão em curso nas dioceses portuguesas, sob o lema de “Formação para a missão – Formação na missão”.

Na verdade, as paróquias insistem em “mais evangelização”, os religiosos/as em “mais animação missionária” e os movimentos e obras laicais em “mais evangelização e catequese”.       

 Significativamente também, as paróquias insistem em especial na “pastoral familiar” e os religiosos/religiosas nos “jovens”, o que redobra a conclusão do “Inquérito às necessidades e expectativas dos diocesanos”, apresentado em Janeiro, que punha em primeiro lugar a família e a juventude, como alvos urgentes de acções evangelizadoras. Ou seja, esclarecer e reforçar o sentido cristão da família, como primeiro elo duma tradição viva, e iniciar realmente os jovens numa vivência evangélica que só poderá ser testemunhal e missionária.

Parece-me ser isto o que mais resulta da Missão feita, avaliada e projectada. E vai tudo em grande acordo com o que o Papa Bento XVI disse aos Bispos portugueses em Fátima, no passado 14 de Maio: “Que Deus vos pague, derramando em abundância o Espírito Santo sobre vós e as vossas dioceses a fim de que, num só coração e numa só alma, possais levar a cabo o empenho pastoral que vos propusestes: oferecer a todos os fiéis uma iniciação cristã exigente e atractiva, comunicadora da integridade da fé e da espiritualidade radicada no evangelho, formadora de agentes livres no meio da vida pública”. Para insistir, de seguida, na premência evangelizadora e missionária: “Na verdade, os tempos que vivemos exigem um novo vigor missionário dos cristãos, chamados a formar um laicado maduro, identificado com a Igreja, solidário com a complexa transformação do mundo”.

Palavras pontifícias que agora nos confirmam na avaliação e projecção da Missão 2010: formemo-nos então, nas famílias, comunidades e movimentos, para experimentarmos mais e comunicarmos melhor aos meios envolventes a novidade evangélica, que é a vida de Cristo oferecida ao mundo. E formemo-nos evangelicamente, praticando a evangelização, pois é uma vida que só cresce convivendo e só aumenta arriscando, como semente lançada e talento investido.

5. Nas sugestões recebidas para projectar a Missão, aparece também a conveniência de “temas / lemas” anuais e de acções locais e sectoriais. Tudo será tido em conta pelo conjunto dos Secretariados diocesanos, na programação a fazer já para o próximo ano pastoral de 2011/12. Algumas “actividades de referência”, que melhor resultaram durante a Missão, continuarão certamente a ser propostas, procurando ir ainda “mais longe e mais fundo” nos destinos visados. – Mas, porque não ensaiá-las também no âmbito interparoquial ou vicarial, integrando todos os agentes pastorais locais: paróquias, institutos religiosos e movimentos laicais?

De tudo vos será dada conta até ao Verão, para projectardes também localmente o que podeis fazer depois. O objectivo, ao longo da segunda década deste século, é tornar cada vez mais a Igreja do Porto, com toda a riqueza carismática e ministerial que o Espírito lhe proporciona, numa operação constante de Evangelho convivido e oferecido ao mundo, actualizando agora a verdade de sempre.

Acolhamos com renovada actualidade as palavras missionárias de Cristo aos discípulos: “Levantai os olhos e vede os campos que estão doirados para a ceifa!” (Jo 4, 35). Respondamos então à expectativa do mundo, mesmo que desapercebida por tantos. – É este o tempo, o sinal e o mandato!

+ Manuel Clemente, Bispo do Porto        

Santa Maria no Sábado, 26 de Fevereiro de 2011

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