D. Luigi Giussani, de Milão para o mundo

Fundador do Comunhão e Libertação recordado em Portugal A morte de D. Luigi Giussani, fundador do Movimento “Comunhão e Libertação”, gerou uma onda de comoção e de homenagem em memória de uma das figuras católicas mais destacadas da vida da Igreja nas últimas décadas. Nascido em 1922, Luigi Giussani começou a trabalhar com estudantes em Milão, no ano de 1954, criando nessa época a “Juventude Estudantil”. Mais tarde, em 1969, mudará o nome para Comunhão e Libertação (CL). Este movimento católico veio a destacar-se pelo seu dinamismo, congregando já 200 mil pessoas (metade em Itália) de quase 70 países. Em Portugal, o CL existe desde 1987 e agrupa cerca de 400 pessoas, entre profissionais liberais, políticos, professores e jornalistas. O padre João Seabra, assistente do movimento em Portugal, refere à Agência ECCLESIA que “morreu um grande santo”. “Sem querermos antecipar o juízo da Igreja, podemos dizer que a modalidade que a santidade tomou em D. Giussani foi a de uma comoção completa diante do acontecimento de Cristo, do Deus feito homem”, sublinha. Nesse sentido, o Pe. João Seabra recorda um episódio que D. Giussani costumava contar, acontecido já no seminário junto do seu amigo Enrico Manfredini, que viria a ser Arcebispo de Bolonha: “já depois do toque da sineta (que era sinal de silêncio absoluto, ndr), Manfredini parou no meio das escadas e disse «Deus fazer-se homem é uma coisa do outro mundo», tendo D. Giussani respondido que era «uma coisa do outro mundo neste mundo»”, relembra. A percepção de que o Cristianismo era um facto “absolutamente extraordinário que se manifesta nas coisas de todos os dias” é a marca que D. Giussani quis deixar em todos os membros do Comunhão e Libertação. “Esta percepção de que o acontecimento de Cristo toca a nossa vida nas coisas de cada dia, nas relações de amizade, trabalho e família, foi algo que se aprofundou e amadureceu em D. Giussani até ao fim”, assinala o Pe. João Seabra. Esse entusiasmo por Cristo gerou, segundo este responsável, “um povo entusiasmado, desde o primeiro instante”. D. Luigi Giussani, quando era sacerdote da arquidiocese de Milão, após a sua formação e de ter dado aulas, pediu ao seu Bispo para deixar as aulas no seminário e dar religião no liceu. Foi com esses alunos, em 1954, que criou a primeira comunidade daquilo que chamou a “Juventude Estudantil” e que, mais tarde, a partir dos anos 60, passou a denominar-se Movimento Comunhão e Libertação. “Ele conseguiu criar à sua volta um grupo de gente que percebia o Cristianismo não como uma rotina, uma espécie de verdade abstracta, mas como um acontecimento que toca a vida, real”, aponta. Ontem, Igreja da Encarnação (ao Chiado), foi celebrada uma missa em sufrágio de D. Giulani. Pedro Aguiar Pinto, membro do CL, fala de um “momento doloroso de separação, mas de certeza na contemplação face a face d’Aquele Jesus Cristo que ele nos ensinou a conhecer e amar”, fazendo votos de que “a sua fé, esperança e caridade se tornem sempre mais nossas”. Maria Quintela, responsável pelos “Memores Domini” no nosso país (associação que reúne pessoas de Comunhão e Libertação que seguem uma vocação de dedicação total a Deus vivendo no mundo), indica que as perspectivas abertas pelo CL “não se esgotam com a morte de D. Giussani”. “Esta proposta é a de sempre, na Igreja: quando o homem encontra Jesus, isso significa a possibilidade de uma vida mais humana, mais cheia de gosto e por isso significativa”, sublinha. Ricardo Saldanha, um dos responsáveis pelo movimento em Portugal, refere à Agência ECCLESIA que o CL lhe permitiu perceber de outra maneira “a experiência da Vida Consagrada”. Sobre o modo como a sociedade cataloga o CL – conservador, retrógrado, integralista -, Ricardo Saldanha assegura que “esta é uma vivência que se experimenta na própria pele, que contagia” e só assim se pode compreender. “Aquilo que nos caracteriza é, antes de mais, uma paixão pelo facto cristão, por uma espiritualidade que é uma busca contínua dos princípios cristãos olhados à luz de uma experiência pessoal e comunitária”, explica. Maria Quintela subscreve, destacando a “paixão pelo mundo” que marca a intuição de D.Giussani. “A experiência do carisma tem em si a convicção profunda de que as circunstâncias concretas permitem manifestar a atenção a Cristo, com todas as riquezas que o Cristianismo tem”, conclui. Homenagem do Papa Em nome de João Paulo II, o Cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, presidirá amanhã, às 15h00 (menos uma em Lisboa), na catedral de Milão, o funeral de D. Luigi Giussani. A cerimónia será transmitida em directo pela televisão pública italiana, na RAI Uno. No passado fim de semana, João Paulo II tinha enviado uma mensagem ao fundador do CL, conhecendo a difícil situação de saúde que atravessava. “Neste momento de grande sofrimento, desejo dirigir-lhe uma afectuosa saudação, assegurando-lhe a minha proximidade espiritual”, manifestou o Papa, oferecendo “orações fervorosas” para que Deus o consolasse nesses momentos. Numa carta de Fevereiro passado, celebrando as Bodas de ouro do movimento, o Papa reconhecia a D. Giussani que o CL “pode considerar-se, juntamente com uma grande variedade de outras associações e novas comunidades, como um dos rebentos da promissora ‘primavera’ suscitada pelo Espírito Santo nos últimos cinquenta anos”. Luigi Giussani nasceu em Desio (na província de Milão em Itália) a 15 de Outubro de 1922. Estudou no seminário da Diocese de Milão e na Faculdade de Teologia de Venegono, onde veio a ser professor durante vários anos. Nos anos cinquenta deixou o ensino universitário para ensinar em liceus. De 1964 a 1990 dirigiu a cadeira de Introdução à teologia na Universidade Católica do “Sacro Cuore” em Milão; os conteúdos do curso eram: o sentido religioso no homem; os problemas da religiosidade no mundo contemporâneo; os problemas da Igreja de hoje e as linhas fundamentais para uma posição eclesiologicamente Católica. Desde sempre, o seu campo de investigação foi – com particular atenção à Teologia ecuménica – o estudo das motivações racionais para a adesão à Igreja, bem como o modo cristão de viver, transmitir e suscitar a fé. Em 1954 lecciona Religião a alunos do liceu. Começa assim a dar vida a um movimento eclesial – nessa altura com o nome de Gioventú Studentesca, e mais tarde chamado Comunhão e Libertação – que é hoje uma realidade viva em mais de 60 países do mundo. Foi o fundador da Fraternidade de Comunhão e Libertação, uma associação de leigos, e da associação eclesial Memores Domini, uma experiência de total dedicação a Cristo, nascida de dentro do Movimento de Comunhão e Libertação. Ambas as associações foram reconhecidas e aprovadas pelo Conselho Pontifício para os Leigos, respectivamente em 1982 e em 1988. D. Giussani foi também consultor da Congregação do Clero e do Conselho Pontifício para os Leigos. Em 1995 foi premiado com o Prémio Nacional da Cultura Católica (em Itália). O pensamento de D. Giussani não reduzia o Cristianismo a uma moral, como ficou demonstrado, marcado que estava pelo “acontecimento de Cristo”. Nesta linha, o encontro de Rimini (www.meetingrimini.org) é um acontecimento inspirado de forma explícita nesta visão católica do mundo, fruto da iniciativa de pessoas e grupos que vivem a experiência cristã através do CL. O encontro chegou a reunir na localidade italiana 700 mil pessoas, no ano passado. Ao longo da sua vida, D. Luigi Giussani foi ainda autor de numerosos trabalhos, pelo os quais se formaram gerações inteiras, incluindo: Teologia protestante americana. Profilo storico (1969); Il senso religioso* (1968); Tracce d’Esperienza Cristiana* (1972); Dalla liturgia vissuta: una testimonanza (1974); Il movimento di Comunione e Liberazione (1976); Il rischio educativo (1977), Decisione per l’esistenza* (1978); L’Alleanza (1979), Moralitá: memoria e desiderio (1980); Alla ricerca del volto umano* (1984 e 1995); Pregare (1984); La fede e le sue imagini (1984); La conscienza religiosa nell’uomo moderno* (1985); All’origine della pretesa cristiana* (1988); Grande linee della teologia protestante americana (1989); Percè la Chiesa. Tomo I: la pretesa permane* (1990); Perchè la Chiesa. Tomo II: il segno eficcace del divino nella storia* (1991); Un avvenimento di vita cioè una storia (1993); L’avvenimento cristiano (1993); È, se opera* (1994); Il senso di Dio e l’uomo moderno* (1994); Si può vivere così? (1994); Il cammino al vero è un’esperienza (1995); Il tempo e il tempio (1995); Le mie letture (1996); Si può (veramente?) vivere così? (1996). Os seus trabalhos foram traduzidos em vários idiomas, incluindo os inglês, francês, alemão, espanhol, português (assinalados com*), russo e polaco. CL O Comunhão e Libertação é um Movimento eclesial cujo objectivo é a educação dos seus membros na maturidade Cristã e a colaboração na missão da Igreja Católica na sociedade de hoje. Em Itália o Movimento tem cerca de 100 000 membros, de todas as idades, e está espalhado por todo o território. Não há um cartão de membro, apenas a participação livre de cada pessoa. O CL está presente em 64 países, incluindo a Alemanha, a Espanha, Portugal, a Suíça, a Bélgica, a França, o Reino Unido, a Irlanda, a Polónia, a ex-União Soviética, a ex-Jugoslávia, a Hungria, a República Checa, a Eslováquia, a Roménia e Malta na Europa; os Estados Unidos, o Canadá, o México, o Chile, a Argentina, o Paraguai, o Brasil, o Peru e a Colômbia na América; o Uganda, o Quénia, a Nigéria, os Camarões e Moçambique em África; o Líbano e Israel no Médio Oriente; e o Japão, a Formosa e Hong Kong na Ásia. A educação para a fé toma lugar em comunidades que estão presentes nos vário “ambientes” (na escola, na universidade, no trabalho). Na vida comunitária, que se funda na obediência a uma autoridade, no viver dos Sacramentos e no ouvir a palavra de Deus, uma pessoa aprofunda as dimensões fundamentais do acontecimento Cristão: a cultura, a caridade, o trabalho e a missão. O Movimento nasceu em Itália em 1954, quando Monsenhor Luigi Giussani deu vida a uma iniciativa de presença Cristã chamada Gioventú Studentesca (GS – Jovens Estudantes Cristãos) no liceu Berchet em Milão. O nome actual, Comunhão e Libertação (CL), apareceu pela primeira vez em 1969, e resume a convicção de que o acontecimento Cristão vivido em comunhão é a fundação da autêntica libertação do homem. O ponto principal do Movimento é que a Cristandade é um acontecimento que investe e tende a determinar toda a vida de cada homem, como afirma João Paulo II na sua primeira encíclica Redemptor Hominis: “O Redentor do homem, Jesus Cristo, é centro do cosmos e da história”; a fé é, por isso, a fonte, o critério de julgamento, e a razão totalmente adequada para a acção. O Movimento é dirigido por um Conselho Geral, até agora presidido por Monsenhor Giussani. Nos vários âmbitos nacionais, regionais e locais onde o Movimento está presente, os seus membros são responsáveis pela sua condução. A formação básica dos membros do Movimento é garantida por um catequese semanal: texto, meditação pessoal e encontro comunitário que são chamados “Escola de Comunidade”. Fonte: página oficial portuguesa

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