«Cristãos devem estar preparados para a pluralidade e inserção política»
O Cardeal-Patriarca de Lisboa rejeitou esta Segunda-feira o apoio da Conferência Episcopal Portuguesa à constituição de um partido católico.
Questionado pelos jornalistas em Fátima, D. José Policarpo recordou uma decisão “histórica e lúcida” da CEP de não apoiar um partido “designadamente cristão”. A “palavra de ordem” consiste na preparação dos cristãos para a “pluralidade e inserção política”.
D. José Policarpo considerou ser tarefa dos cristãos ter a “capacidade nova de ver todas as coisas”, mas logo lamentou que “isso não está ainda conseguido”.
Os católicos “vão à missa todos os Domingos, são muito fiéis, mas julgam a realidade como todos os outros”, lamentou, indicando ser “um desafio que se coloca a todos”.
“Os cristãos têm liberdade de se constituírem num partido cristão, mas não contem com o baptismo da CEP”, referiu.
Durante a conferência de imprensa que antecedeu a Peregrinação Internacional Aniversária de Outubro, no Santuário de Fátima, o Cardeal-Patriarca afirmou a necessidade de um inconformismo. “Não chega pensar num futuro imediato”, referiu, aludindo ao tema da Peregrinação Internacional Aniversária de Outubro «Não vos conformeis com este mundo».
D. José Policarpo afirmou que “não nos podemos desinteressar do tempo presente”, mas encarar o tempo presente com alegria e esperança.
“A Igreja está no mundo, tem interesse e empenho em contribuir para que país caminhe positivamente e encontre um caminho de solução”, considerou sem querer entrar em avaliações políticas e eleitorais.
“Somos discretos e reservados. O nosso pelouro não é de intervenção política”, referiu, acrescentando que os bispos devem “evitar resvalar para posições que pertencem aos leigos e aos cidadãos”.
Sobre as eleições autárquicas D. José Policarpo referiu que “correram com os limites e grandeza da participação democrática”.
“O desafio para todas as forças políticas, toda a sociedade, onde se insere a Igreja, é se somos capazes de nos pormos de acordo dobre o que é o caminho para o bem de Portugal. Tem de haver convergência, generosidade na forma de participar”.
O divórcio entre a sociedade e a Igreja não é bom nem para a sociedade nem para a Igreja, considerou ainda.
O Cardeal-Patriarca afirmou ser necessário retomar o sentido de vizinhança. “Temos de criar comunidade. A perda de sentido de pertença é uma das características da cidade contemporânea”. A pobreza, considerou, “só se resolve com o sentido de vizinhança”.
“Com a discrição que a situação merece, é preciso ajudar, respeitando o anonimato e a dignidade das pessoas”. Esta rede pressupõe “uma construção de um tecido social”.
D. José Policarpo vaticina a passagem da crise, mas a presença de um grupo que será sacrificado e “poderá sofrer para o resto da sua vida”.
“Quem foi sacrificado já não vai passar todo para a seguinte fase. Se mais ninguém os tiver em conta que a Igreja saiba quem são e consiga motivar as suas comunidades para a atenção e partilha fraterna”, conclui.