D. Joaquim Gonçalves regressa ao trabalho

Bispo de Vila Real encerrou ausência de um ano das actividades da CEP. Transplante cardíaco ainda gera cautelas D. Joaquim Gonçalves, Bispo de Vila Real, encerrou ontem a ausência de um ano das actividades da Conferência Episcopal Portuguesa. Sob autorização médica, o bispo que realizou um transplante cardíaco a 13 de Janeiro, encontra-se em Fátima, a participar da Assembleia Plenária da CEP. Com visível boa disposição, D. Joaquim Gonçalves sublinhou que apenas o médico lhe lembra que está doente e o obriga a um regime alimentar e algumas cautelas. “Por mim, ia jogar futebol e comia o que os outros comem”, afirmou à Agência ECCLESIA. O transplante de coração “não dói. Não me sinto doente”, acrescenta. O regresso à diocese… As restrições continuam, nomeadamente no que se refere a contactos físicos próximos por causa da transmissão de alguns vírus que são nocivos. Mas o Bispo de Vila Real deslocou-se à sua diocese para celebrar a missa crismal, no passado dia 20. Os sacerdotes diocesanos estavam ao corrente da sua deslocação. Mas “quando entrei na Sé, notei que olhavam para mim como se eu viesse do outro mundo”, afirmou. “Houve alguém que no meio da multidão disse «não precisa de dizer mais nada, já vimos que está bom», lembra o Bispo mas acrescenta que “a dada altura, não sabia se as pessoas estavam a ver o meu comportamento ou a ouvir-me”. Os irmãos que o foram visitar ao hospital e sabiam “que estava bem”, “quando me viram no meio deles, olhavam duas vezes para se certificar se era verdade”, explica o Bispo de Vila Real. No Domingo de Páscoa, D. Joaquim Gonçalves celebrou também a eucaristia. “E a sensação das pessoas foi a mesma”, lembra. Quando passava, as pessoas espreitavam, “entre o espanto e o júbilo”. O Bispo de Vila Real percebeu a “alegria contida e surpreendida” das pessoas. O contacto com os seus diocesanos foi restrito, mas suficiente para perceber “as saudades”. D. Joaquim Gonçalves guarda testemunhos escritos e contactos telefónicos “de toda a parte a desejar o meu regresso”, inclusivamente “de pessoas que eu achava que andavam alheias”. O transplante completa três meses no dia 13 de Abril. Só por esta altura, o Bispo de Vila Real saberá quando regressa. Por essa altura, a medicação é reduzida e ganha-se “alguma liberdade de movimentos”. Os exames semanais a que está sujeito, passarão agora a ter intervalos de 10 dias, e por isso “já se justifica que regresse a Vila Real ou para outra residência”. Mas o regresso ao trabalho pastoral impõe ainda algumas regras. “Resistência e alegria por o fazer não falta, mas esta reserva de não contactar com multidões, sobretudo em recintos fechados mantém-se ainda algum tempo”, explica. …e o regresso à CEP De regresso às actividades da CEP, D. Joaquim Gonçalves aponta a experiência “riquíssima” que se adquire com a colegialidade e o prazer que sente com o regresso. Ausente há um ano, o bispo de Vila Real mantinha contactos através dos textos e outras informações. “Mas é diferente”, traduz. D. Joaquim Gonçalves aponta que a vida de relação esmorece “se não estivermos presentes. Fazer equipa pela memória ou por documentos não gera calor e sensibilidade”. A ausência e a actual situação de convalescença fê-lo perceber o que é a colegialidade episcopal, mas também “o que sente o imigrante, o católico não praticante que não vai ao grupo, o drama do preso, o drama do homem internado no hospital por muito tempo”. Os telefonemas, os emails e as cartas que recebeu ajudaram um pouco, mas não substituem o calor humano. “O não ver, o não estar presente e não ouvir, perde densidade e calor. A pessoa fica teoricamente veiculada mas afectivamente fica distante”. “Esta experiência ajudou-me a sentir pela vida o que eu sabia pela teoria”, traduz. Sobre a sua participação na Assembleia plenária afirma que vai ouvir mais do que intervir. No entanto, o facto de ser o bispo há mais anos numa diocese – está há quase 21 anos ao serviço da Igreja de Vila Real – “confere-me à-vontade”. O «fantasma» do transplante O Bispo de Vila Real reconhece “um certo fantasma à volta da ideia de um transplante”. “O transplante tem uma novidade. Só sabemos que tivemos um transplante porque o médico o diz. De resto, não sentimos nenhuma mudança. O centro das emoções e da vida mental é o cérebro e esse é o mesmo”. D. Joaquim Gonçalves brinca que “não é como a prótese nos dentes ou nos pés, pois essas sentem-se. Esta não, apenas pega ou não pega. Se pegou ficou bem”. No entanto, afirma estar consciente que o coração que recebeu “não veio de uma fábrica, é já usado e hipoteticamente com algumas limitações”. Os medicamentos, a que está sujeito para que o organismo não rejeite o novo órgão, criam algumas limitações. “O coração é um novo jogador que entrou numa equipa que já estava. Esta integração exige algum compasso e vigilância”.

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top