D. Joaquim Gonçalves em Vila Real

Como em todo o processo de mudança, a vinda do senhor D. Joaquim para Vila Real motivou «desenraizamento» e adaptação. De facto, não obstante a proximidade geográfica, o homo transmontanus é diferente do homo bracarensis, seja na espiritualidade, nas formas de manifestação religiosa e pertença eclesial, seja mesmo nas principais coordenadas antropológicas que o constituem. E este processo demorou o seu tempo. O que possibilitou e gerou uma outra aproximação: a do clero e dos leigos ao seu novo bispo. Desta forma, superadas as diferentes sensibilidades iniciais, foi-se assentando nas linhas de força a partir das quais se tece a história da sua acção de Pastor, até como resposta a específicas necessidades pressentidas. Entre elas, ressaltaria as seguintes: – acento na formação, quer do clero (valorização das acções de formação contínua ou «reciclagem», criação de específicos dias de encontro e convívio, incentivo à participação nas acções de âmbito nacional, etc.), quer do seminário (remodelação do Ano Pastoral, insistência nas áreas artísticas, humanização da estrutura), quer mesmo do laicado (extensão da Universidade Católica, criação do Centro Católico de Cultura com os seus cursos, adaptação da Casa Diocesana para o trabalho pastoral, etc.); – relevo concedido à cultura (conferências e debates conjuntamente com a Universidade e outras instituições culturais, criação da Vigararia Episcopal da Cultura e exemplo, dado por ele próprio, de criação artística: colaboração na execução dos vitrias da Sé e todas as obras de requalificação, o texto de vários hinos e das cantatas “A Noiva do Marão” e “Santo António dos Portugueses”, bem como o oratório “Travessia”, a sua obra de maior fôlego, etc.); – pastoral sócio-caritativa (recondução da acção das Misericórdias ao seu verdadeiro sentido cristão, valorização da Caritas Diocesana e do “Projecto Homem”, interesse demonstrado pelo “Centro de Apoio à Vida”, acompanhamento da acção dos Centros Sociais Paroquiais, etc.); – presença na sociedade, reclamada pela necessária «nova evangelização» (visitas às prisões, hospitais e quartéis, presença frequente nas autarquias e actos oficiais civis, contacto estreito com a Universidade e Escolas, boa relação com a comunicação social, frequentes «mensagens» por ocasião das principais datas, frequência das acções culturais promovidas pelos diversos agentes civis, etc.); – e, fundamentalmente, renovação da liturgia, em múltiplos domínios (restauro dos templos e readaptação dos espaços, preparação dos agentes, dignificação das celebrações, selecção qualitativa das músicas, criação de coros, insistência no tema durante as visitas pastorais, valorização da dimensão orante e da espiritualidade, etc.). Só este sector –certamente o mais marcante- chegaria para assinalar a marca mais profunda da acção do Bispo de Vila Real. Evidentemente, neste tempo de «mudanças rápidas» e «aceleração da história», novos domínios reclamam a atenção presente e futura do Pastor diocesano. Em síntese, e na minha perspectiva pessoal, referiria: – com a rarefacção da população em meios rurais e correspondente fenómeno do urbanismo, há que redefinir os critérios de actuação pastoral e rever a validade de estruturas seculares que hoje não se poderão manter com a carência de sacerdotes; – do mesmo modo, é preciso preparar, com urgência, presidentes das celebrações dominicais na ausência de presbítero e outros ministérios laicais, mormente para as zonas rurais mais isoladas; – é necessário prestar uma crescente atenção aos sacerdotes, pois a nova ordem sócio-cultural exige um novo modelo de presbitério; – sectores específicos (Universidade e Escolas, hospitais e centros de saúde, jovens e turismo, tempo livre e mobilidade humana, etc.) reclamam, hoje, uma pastoral especializada e uma prioridade de critérios de actuação; – há que encontrar novas formas e estruturas para a formações dos leigos, mormente dos agentes de pastoral, na sua imensa generalidade apenas portadores de uma mera fé implícita; – têm de ser repensados os próprios critérios económicos, pois a diminuição da população e a nova mentalidade reinante não ajudam à manutenção de instituições antigamente sustentadas pela generosidade dos fiéis, como é o caso do Seminário e mesmo do Clero. Dotado de uma óptima capacidade de expressão, preparado teologicamente por muitas e boas leituras, de fácil convívio e agradável presença, nos diversos ambientes por onde se move, o senhor D. Joaquim tem amparado e edificado a qualidade da vida crente a que o seu lema episcopal acena: “ut vitam habeant”. Tenha também ele o dom da vida e da saúde, por muitos e bons anos, ao serviço desta Diocese de Vila Real. P. Manuel Linda Reitor do Seminário de Vila Real

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