D. João Miranda defende responsabilização dos leigos

Celebração na Catedral do Porto assinalou os 25 anos de ordenação episcopal do Bispo Auxiliar, em clima de festa O Espírito do Senhor está sobre Mim… Foi há 25 anos. É um jubileu: na tradição judaica, tempo de descanso e pousio para a terra, para a justiça, para os homens e os animais. Foi no dia de hoje, há 25 anos, nesta Sé episcopal. Aqui se proclamaram as palavras de Isaías: O Espírito do Senhor está sobre mim. Ele me ungiu e me enviou… Que palavra há-de ser anunciada hoje, nesta assembleia, senão a PALAVRA que era desde o princípio e foi dirigida ao primeiro casal humano, nestes termos: Sede fecundos e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a… (Gén.1,28). De facto, antes que houvesse outros pastores, o primeiro par humano foi investido por Deus na missão de pastorear o mundo criado, assegurando seu crescimento. E ainda por cima, Deus viu que isso era bom, Deus viu que era belo (Do tempo livre…, pág. 21). A Palavra foi depois transmitida ao Povo escolhido muitas vezes e de muitos modos; mas, nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Filho (Heb.1,1): E o Verbo se fez Carne e habitou entre nós (João 1,14). Temos a Palavra. É o Espírito que a actualiza para cada geração. O Espírito que desceu sobre ao Apóstolos e por eles é transmitido no baptismo, no crisma e na ordenação episcopal. O Espírito do Senhor está sobre mim… O Espírito é o vento de Deus que, na primeira criação, vogava sobre as águas. A criação nasceu das águas e do vento de Deus. A recriação ou redenção do mundo nasceu das águas do lado de Cristo que formaram as torrentes do baptismo. A redenção renasce do vento do Espírito que pousou sobre Maria, sobre Jesus, sobre os apóstolos, sobre os Bispos e sobre os baptizados e confirmados. Esta é a origem da Igreja. E quando se ordenam os Bispos é esse Espírito renovador que chama, que unge e que envia. Sim! O Espírito de Deus é que nos chama. Se não fosse Ele a inquietar-nos, ficaríamos no mesmo lugar, parados e sem ardor apostólico. Mas Ele é como o vento: sopra onde quer e vai buscar quem melhor entende. Com esta fé, é mais fácil aceitar, porque se gera confiança. Mas nem por isso é fácil responder. Também Moisés hesitou e desculpou-se com o facto de ser meio tartamudo. Também os profetas gemeram e alguns, diante da missão, desejaram antes a morte do que enfrentar os desafios. Somos assim: carne frágil e sujeita a misérias. Mas S. Paulo vem em defesa dos que receiam: Quando sou fraco, então é que sou forte! Certamente porque os que estão conscientes da sua fraqueza passam a confiar mais em Deus do que nas suas próprias presumidas qualidades. Somos instrumentos nas mãos de Deus. Tudo é graça. Nós cirandamos por aí. Pedro semeia, Apolo rega, mas é Deus quem fecunda a obra. E o Reino não é nosso: não é a pressa nem a força nem as corridas que convertem o mundo. Mas a força do Espírito e a presença constante de Jesus: Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos! S. Paulo diz a Timóteo: Reanima em ti a graça que recebeste pela imposição das minhas mãos! Foi há vinte e cinco anos… 2003 era o Ano Santo da Redenção, 2008 é o Ano Santo Paulino. Como que a quererem dizer-nos que o tempo é santo se nos santificarmos e santificarmos o mundo. Tendo sido chamado ao ministério episcopal, depois de hesitar, senti a necessidade de responder como Maria, a quem a Sombra do Espírito inundou de graça: Faça-se em mim, segundo a tua Palavra! O anel, o báculo e a mitra (da autoria de Irene Vilar) lá têm o sinal da Virgem ao pé da Cruz, dizendo sempre SIM, mesmo nas horas de aflição. A simplicidade de Maria inspira os Pastores a seguirem a palavra do Mestre: Sabeis que os chefes das nações dominam sobre elas. Não deve ser assim entre vós… Nem donos nem patrões mas servidores do Povo de Deus. Hoje, 25 anos depois, sou levado a rezar também como Maria: A minha alma glorifica o Senhor! Esta é altura de dar graças, por este jubileu. Porque a mão protectora de Deus me guiou até este dia 31 de Julho de 2008, memória do fogoso Santo Inácio de Loiola. Tal como Amós respondeu a Amasias, também sou tentado a dizer: Eu não era profeta nem filho de profeta. Meu pai era agricultor e eu estava destinado a cultivar os campos. Foi o Senhor que me chamou e me disse: Vai profetizar ao meu povo, Israel (cf. Amós 7,14). Não faltam Bispos na Igreja, faltam sacerdotes e vocações sacerdotais. E falta-nos a todos tomarmos a sério um problema que não é principalmente nosso. Este combate não é teu mas meu, diz o Senhor. Por isso, temos de pedir ao Senhor da messe… Falta colocar as comunidades em estado de alerta para a missão e os missionários, consagrados ou leigos, no Japão ou no Bairro da Sé. Falta ajoelhar aos pés do sacrário em “Laus perene” permanente… Diz Bento XVI: Rogai ao Senhor da messe! A messe existe…Deus necessita de homens, de pessoas que digam: Sim, eu estou disposto a ser trabalhador na messe. Não podemos simplesmente produzir vocações, elas devem vir de Deus. Nós devemos sacudir o coração de Deus para que Ele lance no coração que pede a faísca da alegria em Deus, da alegria pelo evangelho… Temos a promessa: Dar-vos-ei pastores! E deu… e continua a dar. Mas parece que estão muitos olhos fechados à luz e muitos ouvidos surdos à voz de Deus. Só se vê e ouve bem com o coração! Não faltam Leigos na Igreja, falta dar lugar aos leigos de modo suficiente, a tal ponto que sintam a responsabilidade não só de despertar todas as vocações mas também de se sentirem pastores da criação de Deus, como Adão e Eva no Paraíso, e membros vivos do Corpo de Cristo, a partir do baptismo. A messe é grande! É o tempo da 5.ª evangelização da Europa. Diz o Cardeal argentino, Bergoglio: (Os padres clericalizam os leigos e os leigos pedem-nos para serem clericalizados… É realmente uma cumplicidade pecadora!). E pensarmos nós que o baptismo, apenas, poderia ser suficiente… Penso naquelas comunidades cristãs do Japão que ficaram sem sacerdotes por mais de duzentos anos. Quando os missionários voltaram, encontraram todos baptizados, todos validamente casados para a Igreja e todos os seus falecidos tinham tido um enterro católico. A fé permaneceu intacta…Não devemos ter medo de depender apenas da ternura de Deus! (30 Dias, n.º 11, 2007, pág.17). 25 Anos são um jubileu. O jubileu provém do repouso sabático que Deus se impôs nos primórdios da criação: Deus concluiu no sétimo dia a obra que fizera e no sétimo dia descansou… (Gén. 2, 2). Na legislação moisaica, ao fim de sete semanas de anos, havia um solene jubileu. Daí derivam os jubileus da Igreja. E, neste ano, temos a graça do Ano Santo Paulino, nos dois mil anos do nascimento do Apóstolo das nações. Que melhor queremos, para relançar a criatividade pastoral nas diocese e paróquias, respondendo aos desafios da hora que passa? Tudo tem de ser feito com a paciência do agricultor que lavra a terra, prepara a semente, rega o campo, deita-se e dorme descansado. Porque sabe que a semente está germinar… Nós somos homens de fé, mas, por vezes, desconfiados e muito convencidos de que quase tudo depende de nós. É mentira! Graças a Deus pelo chamamento. Graças a Deus pelo chamamento à vida, ao baptismo, ao sacerdócio. Graças a Deus por todos os que pôs no caminho da vida. Graças a Deus pela Mãe Igreja que, apesar dos pecados que cometemos, nos alberga nos seus braços e põe a mesa dos sacramentos para nos amparar e curar, quando, já feridos, buscamos a Estalagem. Graças a Deus e a todos os que quiseram vir celebrar esta Acção de Graças. Fico grato ao Bispo da diocese, Senhor D. Manuel Clemente, à Casa e Cúria Episcopal, por todas as atenções recebidas. Igualmente agradeço a todos os outros Senhores Bispos presentes e aos que mandaram mensagens de felicitações. Tenho presentes os Senhor D. Júlio e D. Armindo que não puderam vir, por razões de saúde. Agradeço aos Sacerdotes, sempre afáveis; aos Consagrados, sempre generosos na sua doação; e a todos os Fiéis Leigos a quem o Espírito de Deus chamou e chama a ingentes e diversificadas tarefas, segundo os carismas e graças que o Espírito de Deus distribui cada um, nestes tempos promissores de um novo mundo que começa…Nem esqueço o contributo do Coro da Sé, para animação litúrgica desta celebração. A Pedro Jesus disse, naquele último instante do evangelho de S. João: Tu, segue-me! Somos todos seguidores, discípulos, testemunhas da Ressurreição. Então não fiquemos parados, à espera que chova do céu o que devemos fazer na terra! E agora… que Deus disponha, daqui para a frente, como Ele melhor entender… D. João Miranda Teixeira (No final da celebração, D. Manuel Clemente ofereceu a D. João Miranda uma imagem de Cristo Crucificado, da autoria do Mestre José Rodrigues).

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