Bastaria o título “Fé, razão e universidade” para se compreender que o objectivo do texto de Bento XVI é o convite à defesa da racionalidade “no diálogo das culturas”. Por outras palavras: ousemos todos pensar. A leitura do último imperador Bizantino, dirigida a um contemporâneo seu, põe em causa a ausência desse cuidado racional quer no tratamento teórico de Deus, quer, sobretudo, no mundo da acção, onde o mesmo Deus é desconsiderado racionalmente pelo uso da violência. Mas igual crítica é formulada a respeito de um autor católico, o Franciscano João Duns Escoto, o qual de acordo com o texto, tenderia a criar “a imagem de um Deus caprichoso, que não está sequer ligado à verdade e ao bem”. A meu ver o Papa põe-nos este problema: e se fossemos capazes no nosso diálogo cultural de irmos muito mais longe, aprofundando conteúdos e exigência de saber. A irracionalidade das fúrias já não é a cultura a impedir a guerra, mas é a guerra a ser espectáculo da incultura. Ora o Papa colocou a fasquia muito alta: precisamos todos de capacidade crítica. Está-se a ver o resultado… Januário Torgal Mendes Ferreira, Bispo das Forças Armadas e de Segurança