«Não há desculpa: se um pároco quiser fazer, faz»
Se quisermos apontar o epicentro da grande Assembleia Diocesana, realizada no passado Domingo, no Seminário de Leiria, a escolha cairá na frase de D. António Marto: “Não há desculpas: se um pároco quiser fazer, faz!”. Quase como um grito que se distinguiu do tom ameno da sua intervenção, esta frase do Bispo diocesano significará o seu forte desejo de que as iniciativas propostas neste início de Ano Pastoral sejam assumidas e levadas à prática por todos, especialmente pelos principais responsáveis do dinamismo eclesial.
Na ocasião referia-se à realização do Retiro Popular, um exercício de oração e reflexão segundo o método da lectio divina, que no ano passado envolveu cerca de 5 mil pessoas. Para este ano de 2009-2010, D. António apelou ao duplicar deste número, frisando que não serviam as desculpas de falta de interesse dos fiéis e que o objectivo “10 mil” dependia do empenho de todos, a começar pelos párocos.
Mas o mesmo apelo à participação foi frequente em todo o discurso de apresentação da nova Carta Pastoral “Ir ao Coração da Igreja”, onde se desenvolve a temática da “comunhão e corresponsabilidade na comunidade cristã”, orientada pela frase bíblica: “Viviam unidos e punham tudo em comum” (Act 2, 44).
Coração da Igreja
Perante uma assembleia de cerca de 350 diocesanos, de diversos escalões etários, vocações e proveniências, D. António Marto fez a apresentação do documento que servirá de guia para a caminhada pastoral comum. A proposta-base é “ir ao coração da Igreja”, isto é, “descobrir o seu verdadeiro rosto na comunhão dos seus membros, unidos em Cristo”.
“Muitos ainda não sabem o que é a Igreja, outros têm imagens distorcidas dela, como sejam as de um ‘supermercado’ religioso ou uma associação social”, referiu o prelado para salientar a pertinência do tema deste ano, apontando depois o caminho para “descobrir o seu verdadeiro rosto, os traços e laços que a caracterizam e distinguem de qualquer outro grupo humano”.
Em primeiro lugar, o “anúncio do Evangelho, como Palavra que brota do coração do Pai para o coração dos filhos”. Depois, os “sacramentos, dons de que esta comunidade se alimenta e nos quais se constitui numa única casa ou pátria (casa do Pai) espiritual”. De entre estes, destaca-se a Eucaristia, “onde vamos a convite de Deus e onde criamos laços de comunhão que vão muito para além dos laços de amizade”. Daqui brota um terceiro traço, o da “comunhão fraterna, manifesta na partilha de alegrias e tristezas, de carismas e dons, e dos próprios bens materiais colocados ao serviço de todos, especialmente os mais desfavorecidos”. A quarta característica é o “testemunho, que nos leva a irradiar para o mundo este dom”. Finalmente, a consciência de que “Deus mora na Igreja e faz dela comunidade santa, mas com lugar para todos, mesmo os pecadores que somos”.
Espiritualidade de Comunhão
A partir desta imagem clarificada da Igreja, o Bispo lembrou que “ela é viva, em comunidades vivas” e que “isto da comunhão não vai lá com leis, nem é um mero sentimento vago”, pelo que compete a cada um agir como membro activo.
Desde logo, é preciso ter a noção de que “se não for o Senhor a edificar a casa, em vão trabalham os que a constroem”. Por isso, é fundamental alimentar uma “espiritualidade de comunhão, alicerçada em convicções fortes e na vida em Cristo, que se expressará na maneira de ser, de viver e de se relacionar com os outros, ao ponto de vermos neles o próprio rosto de Deus e de nos desprendermos para colaborar com eles e os ajudar a levar o seu fardo”.
O modo de concretizar essa espiritualidade e de desenvolver o grande objectivo deste ano – “Promover a comunhão e a corresponsabilidade na comunidade cristã” – foi explicitado depois pelo padre Jorge Guarda, vigário-geral da Diocese, em três objectivos específicos e respectivas acções prioritárias (na próxima edição desenvolveremos estes tópicos).
Acções em destaque
Quanto às acções concretas propostas na Carta Pastoral, o Bispo diocesano salientou três delas. Uma é a constituição de mais grupos de lectio divina para o Retiro Popular que irá ser divulgado por altura da Quaresma. Este foi o momento do referido apelo entusiasmado aos membros da assembleia: “Não há desculpa: se um pároco quiser fazer o Retiro Popular, faz! Vamos animar os párocos! Vamos chegar aos 10 mil! Posso contar com todos vós?”. A resposta foi uma calorosa salva de palmas.
Em segundo lugar, o prelado apontou como prioritária a criação dos conselhos pastorais e económicos em todas as paróquias. “Depois de serem obrigatórios na Diocese há uma década e passados 45 anos das orientações do Concílio Vaticano II, ainda há paróquias que não têm estas duas estruturas fundamentais”, lamentou D. António, que durante este ano pastoral irá presidir a um encontro em cada vigararia, para formação de pessoas para estes conselhos.
Finalmente, uma novidade no calendário: um grande encontro diocesano, a que o pastor chamou “mini-expo” da Igreja diocesana (ver abaixo).
Uma nota final foi ainda apontada por D. António, a propósito do Ano Sacerdotal que foi proposto pelo Santo Padre em Junho passado, até Junho de 2010, para toda a Igreja universal. “Será também um desafio a descobrirmos a beleza do sacerdócio e a suscitar nas comunidades o apreço pelos seus padres”, afirmou o Bispo, pedindo em especial a oração pelas vocações sacerdotais, pois “acredito mais na oração do que na pregação”.
“Festa da Fé – Rosto(s) da Igreja Diocesana”
O padre Cristiano Saraiva, administrador diocesano, apresentou à assembleia o programa geral da “Festa de Fé – Rosto(s) da Igreja Diocesana”, a realizar nos dias 21 a 23 de Maio, em vários locais centrais da cidade de Leiria. Pretende-se que seja um momento gerador de multidões, numa expressão pública em três grandes dimensões: espiritual, cultural e lúdico-festiva.
Assim, haverá espaço para celebrações da fé, com especial destaque para a vinda da imagem de Nossa Senhora de Fátima da Capelinha das Aparições, numa das raras ocasiões em que sai daquele local, permanecendo na Catedral de Leiria durante estes dias. Haverá também diversos momentos culturais, como espectáculos teatrais, oficinas, exposições, conferências, etc., algumas delas organizadas em parceria com a Câmara de Leiria, por ocasião do Dia da Cidade (22 de Maio). Haverá ainda lugar à festa, com diversos espaços lúdicos espalhados pela cidade, bem como concertos musicais e tascas de bebidas e petiscos.
Os principais objectivos são “celebrar a comunhão eclesial diocesana”, “conhecer as diferentes realidades eclesiais” e “dar visibilidade ao rosto da Igreja na sua diversidade”. Para tal, serão convidados todos os serviços, movimentos, paróquias e outras comunidades desta Igreja particular, que assegurarão no local algumas tendas de exposições permanentes das suas valências e actividades.
Querendo privilegiar o ambiente de convívio e festa, o jardim da cidade estará disponível para a realização de piqueniques, estando prevista a organização de uma grande refeição partilhada na tarde de sábado, dia 22. Seguindo o mote bíblico deste ano – “Viviam unidos e punham tudo em comum” –, “o sucesso desta festa dependerá do número daqueles que aceitarem o convite da Diocese para participarem e colaborarem na sua realização”, apontou o padre Cristiano.