«Presença lúcida, discreta e interventiva em momentos a exigir particular coragem» Faleceu, dia 5 de Agosto, nos Hospitais da Universidade de Coimbra o senhor D. Manuel de Almeida Trindade, Bispo Emérito de Aveiro. Nascido a 20 de Abril de 1918 em Monsanto da Beira, diocese de Portalegre e Castelo Branco, filho de Daniel Ferreira da Trindade e de D. Gracinda Rodrigues de Almeida, o senhor D. Manuel cedo veio com seus pais viver em Avelãs de Cima, no concelho da Anadia, terra da naturalidade de seus pais e que ao tempo pertencia à Diocese de Coimbra. Ingressou no Seminário de Coimbra e ainda seminarista foi enviado, em 1934, para Roma para prosseguir estudos de Filosofia e de Teologia na Universidade Gregoriana onde se diplomou. Foi ordenado sacerdote na Capela do Seminário de Coimbra em 21 de Dezembro de 1940 pelo Bispo D. António Antunes. Nomeado de imediato membro da Equipa Formadora do Seminário Maior de Coimbra foi dois anos depois escolhido Reitor do mesmo Seminário onde permaneceu até 1962, ano em que fora eleito Bispo de Aveiro pelo Papa João XXIII, em 16 de Setembro. Ainda Bispo eleito segue de imediato para Roma para participar na primeira sessão do Concílio Ecuménico Vaticano II. Toma posse da Diocese de Aveiro no dia 8 de Dezembro de 1962; é ordenado Bispo na Sé de Coimbra em 16 de Dezembro e entra solenemente na Diocese de Aveiro em 23 do mesmo mês. Permaneceu na Diocese como Bispo Diocesano ao longo de 25 anos e resignou no dia 20 de Janeiro de 1988. Ao longo deste tempo realizou um exemplar trabalho pastoral manifestando serenidade, prudência e sabedoria na sua acção multiforme e procurando imprimir na Diocese em todos os campos de missão o espírito renovador do Concílio. A sua proximidade com os sacerdotes, a sua atenção aos Seminários, o valor dado às vocações consagradas e o esforço colocado na renovação pastoral da Diocese e na formação dos leigos dizem-nos a nobreza dos seus sentimentos e a dedicação inexcedível do seu ministério episcopal. São muitas as iniciativas, as obras apostólicas e os movimentos cristãos que a ele se devem na Diocese de Aveiro assim como o dinamismo apostólico das visitas pastorais que o levaram a percorrer várias vezes todas as Paróquias da Diocese. Atento e solícito diante dos acontecimentos que marcaram a vida e a acção da Igreja em Portugal, sempre o senhor D. Manuel se afirmou como uma presença lúcida, discreta e interventiva em momentos a exigir particular coragem e determinação. Também graças ao senhor D. Manuel o futuro da Igreja e do País se decidiram em horas cruciais com enorme clarividência e necessário equilíbrio. Resignou ao ministério de Bispo diocesano ainda não tinha completado 70 anos de idade, pouco tempo após ter celebrado o seu Jubileu episcopal. Regressa nesse momento ao seu Seminário de Coimbra onde se acolhe numa vida que continuou sempre laboriosa e preenchida, dedicando-se sobretudo à escrita que lhe permitiu brindar-nos com obras, como Memórias de um Bispo e tantas outras, que se tornam hoje imprescindíveis para compreendermos o percurso da sua vida e do seu ministério assim como a história da Igreja em Portugal. O senhor D. Manuel foi chamado a exercer ao longo de seis triénios, de 1970 a 1987, o lugar de presidente ou de vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa. Foram anos vividos numa missão densa e exigente a que o Bispo de Aveiro nunca se poupou ao trabalho e ao sacrifício, alargando assim a sua atenção e a sua actividade para além das fronteiras diocesanas. Quantas decisões, documentos e iniciativas se lhe devem no exercício eficiente da missão que os Bispos portugueses renovadamente lhe confiaram! Ao comunicar à Diocese e ao País a morte serena do senhor D. Manuel que acompanhei de perto nestes últimos momentos faço-o com sentimentos de emoção, de respeito e de gratidão diante do sacerdote, mestre prestigiado da Universidade e jovem reitor do Seminário; diante do exemplar, dedicado e generoso Bispo de Aveiro de quem sinto as marcas inscritas no coração de tanta gente que diariamente encontro e nos caminhos que permanentemente percorro; diante do servidor incansável da Igreja que todos admiramos. Como guardarei para sempre a santa e sábia recordação da Eucaristia celebrada com ele e com o senhor D. António Marcelino seu imediato sucessor e meu predecessor na Capela do Seminário de Coimbra, em Dezembro de 2006, logo no dia seguinte da minha tomada de posse que também em homenagem ao senhor D. Manuel quis que fosse no mesmo dia por ele escolhido – o dia 8 de Dezembro. Ao celebrar hoje a Eucaristia na Sé de Aveiro na evocação do dia em que D. António José Cordeiro, 2.o Bispo de Aveiro, em 5 de Agosto de 1808, convocava a Diocese para proclamar Santa Joana Princesa, Protectora de Aveiro, e ao anunciar à Diocese a morte de D. Manuel senti que também ele é a partir deste momento de encontro com Deus um exemplo, uma bênção e um intercessor a favor desta Igreja que tão abnegadamente serviu. Quero, em nome da Diocese de Aveiro, que o Espírito de Deus me enviou a servir, dizer-lhe com emoção, respeito e gratidão: Obrigado, senhor D. Manuel. Quando há vinte anos partia de Aveiro a caminho de Coimbra o senhor D. Manuel disse a quem o acompanhava: regressarei a Aveiro após a minha morte para ser de Aveiro para sempre. Comunico por isso a toda a Igreja diocesana, aos sacerdotes, diáconos, consagrados(as) e leigos(as), às Autoridades locais, aos Movimentos e Associações que, cumprindo as últimas vontades do senhor D. Manuel, ele estará na Capela do Seminário de Coimbra a partir do fim da manhã do dia 6 (quarta-feira). Na manhã do dia 7 (quinta-feira) será transferido para a Sé Nova de Coimbra onde será celebrada Eucaristia às 11 horas e daí partirá para a Sé de Aveiro onde serão celebradas Exéquias Solenes e Eucaristia às 16 horas do mesmo dia. O senhor D. Manuel será sepultado de seguida, em jazigo da Diocese, no Cemitério Central de Aveiro, mesmo ao lado da Sé. A presença de todos nós em Coimbra ou em Aveiro será um testemunho de comunhão na amizade e na gratidão para com o senhor D. Manuel, para com a sua Irmã e Sobrinhos e para com estas duas Dioceses que ele tanto dignificou e tão bem serviu. Mas a presença orante de quem comunga a mesma fé, que o senhor D. Manuel tão corajosamente semeou e fez crescer, afirma a nossa certeza no sentido cristão da vida e no valor redentor que Cristo pela sua ressurreição ofereceu à morte. “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem vive e acredita viverá para sempre”. Assim também D. Manuel de Almeida Trindade. Ele vive para sempre. +António Francisco dos Santos Bispo de Aveiro