D. António Ferreira Gomes: Um bispo conciliar no exílio II

D. António Ferreira Gomes foi um dos bispos portugueses que participou nos trabalhos do II Concílio do Vaticano. Só que tinha a particularidade de estar exilado. A Agência ECCLESIA continua a entrevista, iniciada na semana anterior, ao padre e investigador Nuno Vieira que trabalha na diocese de Segorbe-Espanha sobre o exílio do prelado portuense na Diocese de Valência.

D. António Ferreira Gomes foi um dos bispos portugueses que participou nos trabalhos do II Concílio do Vaticano. Só que tinha a particularidade de estar exilado. A Agência ECCLESIA continua a entrevista, iniciada na semana anterior, ao padre e investigador Nuno Vieira que trabalha na diocese de Segorbe-Espanha sobre o exílio do prelado portuense na Diocese de Valência.

AE – Como foi o acolhimento de D. Marcelino Olaechea [bispo titular de Valência] ao bispo português exilado?
NV – Não foi uma situação nova na diocese de Valência. Quando o bispo do Porto chegou, já vivia em Valência o arcebispo de Lima, (Peru), D. Emílio Francisco Lissón Chaves, que estava em condições similares. Tinha trabalho pastoral na diocese, mas estava muito limitado devido à doença e à idade (faleceu dois meses após a chegada do bispo português). Valência contava apenas com um bispo auxiliar, D. Rafael González Moralejo, que se tornou íntimo amigo de D. António Ferreira Gomes.

AE – D. António Ferreira Gomes foi fazer o «papel» de um bispo auxiliar?
NV – Pode dizer-se que sim. D. Marcelino Olaechea era um homem muito independente e, em simultâneo, muito organizado. É da tradição dos arcebispos de Valência, homens de grande actividade pastoral. O arcebispo titular contou com D. António Ferreira Gomes para as visitas pastorais.

AE – Nos três anos (1960-63) que esteve nesta diocese espanhola realizou 173 visitas pastorais. Um número muito alto, sabendo que passou bastante tempo no Vaticano na preparação e no concílio?
NV – Verdade. Fez, talvez, aquelas que teria feito na diocese do Porto (risos…).

AE – Este número, demonstra o seu empenho pastoral.
NV – A diocese de Valência é enorme. D. António Ferreira Gomes deu uma ajuda preciosa.

AE – A chegada do bispo do Porto à diocese de Valência suscitou um interesse especial nos movimentos com sensibilidade social. Estes movimentos tinham conhecimento do percurso de D. António Ferreira Gomes?
NV – Foi uma chegada muito abafada. Os jornais espanhóis da época não dizem absolutamente nada da questão. Visitei a hemeroteca onde pesquisei todos os jornais daqueles dias (antes e depois) e não há nenhuma referência à chegada do bispo do Porto. Excepto a ECCLESIA (revista espanhola), que noticia que o bispo do Porto estabeleceu a residência na diocese de Valência. Por outro, através de testemunhos das religiosas que atendiam D. António Ferreira Gomes, as visitas eram bastante controladas e escassas.

AE – Visitas de portugueses?
NV – Sim. Essencialmente de padres e, muito poucas vezes, de leigos. Sabe-se também que eram visitas rápidas. As visitas mais alargadas aconteciam quando D. António saía de Valência.

AE – O General Franco não mostrou reticências em acolher um bispo que foi expulso por António Oliveira Salazar?
NV – Franco era um homem profundamente católico, com uma eclesiologia antes do II Concílio do Vaticano. Sempre respeitou os bispos. Se houve algum temor do poder político foi na chegada de D. António Ferreira Gomes… Algum temor por aquilo que pudesse acontecer e da possível aproximação de alguns grupos sociais que pudessem tomar o bispo do Porto para a questão social. Tal como noutras ocasiões, D. António Ferreira Gomes demonstrou a sua inteligência e não se deixou expor a nenhum tipo de contacto.

(A entrevista continua nas próximas semanas) 

 LFS

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Agência ECCLESIA

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