D. António Ferreira Gomes: Um bispo conciliar no exílio I

Durante o período do II Concílio do Vaticano (1962-1965), D. António Ferreira Gomes, bispo do Porto, encontrava-se exilado. Este começou a 24 de julho de 1959 e prolongou-se até 19 de junho de 1969. Após uma breve estadia na Galiza, onde foi acolhido pelo bispo de Santiago de Compostela, passou a residir em Valência, por ser mais longe da fronteira portuguesa. Aí trabalhou com o bispo D. Marcelino Olaechea.

Durante o período do II Concílio do Vaticano (1962-1965), D. António Ferreira Gomes, bispo do Porto, encontrava-se exilado. Este começou a 24 de julho de 1959 e prolongou-se até 19 de junho de 1969. Após uma breve estadia na Galiza, onde foi acolhido pelo bispo de Santiago de Compostela, passou a residir em Valência, por ser mais longe da fronteira portuguesa. Aí trabalhou com o bispo D. Marcelino Olaechea.

A Agência ECCLESIA entrevistou o padre e investigador Nuno Vieira que trabalha na diocese de Segorbe-Espanha sobre o exílio do prelado portuense na Diocese de Valência.

Agência ECCLESIA (AE) – No início do II Concílio do Vaticano, D. António Ferreira Gomes estava exilado na diocese de Valência (Espanha). Apesar das contingências, não deixou de exercer o seu múnus episcopal nas terras levantinas?
Nuno Vieira (NV) – Além de um exílio forçado, se um bispo se retirasse – ainda para mais com a idade que tinha D. António Ferreira Gomes e tal como se encontrava de saúde – seria uma dupla humilhação. Foi acolhido em Valência e o bispo da diocese espanhola contou com ele para fazer as visitas pastorais. Sabe-se que deu também algumas conferências no seminário, mas em âmbitos mais reduzidos. O grande contacto que teve foi com as paróquias e com as comunidades religiosas que visitou também durante as visitas pastorais.

AE – Visitas pastorais que eram preparadas de forma minuciosa?
NV – Verdade. D. António Ferreira Gomes tinha uma desvantagem muito grande porque não conhecia o meio. Por isso, tinha reuniões periódicas com o bispo titular (D. Marcelino Olaechea) e também com o bispo auxiliar (D. Rafael González Moralejo) para poder organizar essas visitas. Além do mais, era fundamental perceber o momento político e histórico que se vivia.

AE – Antes de chegar a Valência, D. António Ferreira Gomes esteve em Santiago de Compostela. Existe alguma razão para este salto territorial?
NV – Alguns historiadores apontam para a proximidade da fronteira portuguesa. No entanto, suponho que quando esteve em Santiago de Compostela esperava-se que não fosse um exílio tão prolongado. O facto de estar perto, a qualquer momento possibilitava a entrada em Portugal.

Como essa entrada em terras portuguesas não se verificou, os bispos espanhóis e o núncio não tinham grande desejo que D. António Ferreira Gomes estivesse fora de Espanha. Chegaram à conclusão que esta parte da Península Ibérica seria uma boa opção. Consta também que, o primeiro contacto feito é com a diocese de Segorbe-Castellón porque estava recém-nomeado o bispo para aquela diocese espanhola (formou-se em 1960).

AE – A hipótese da diocese Segorbe-Castellón foi colocada de lado?
NV – Suponho que sim. Vi um documento onde se perguntava ao bispo da diocese se tinha disponibilidade em recebê-lo – não sei a resposta porque o arquivo da nunciatura ainda não está disponível -, mas suponho que os motivos alegados foram que a diocese era recente e pequena. Numa informação obtida com um padre colaborador directo do bispo da época, este disse-me: “Seria melhor que ele [D. António Ferreira Gomes] estivesse numa diocese maior e com outro dinamismo pastoral”.

(A entrevista continua nas próximas semanas)

LFS

 

 

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Agência ECCLESIA

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