D. António Carrilho quer novos dinamismos

Relações com o clero e o poder local ou a presença na comunicação social são questões que não ficarão esquecidas D. António Carrilho, que hoje tomou posse como novo Bispo do Funchal, espera que a Diocese seja capaz de responder ao que às exigências das novas circunstâncias, prometendo autonomia e cooperação nas relações com o governo regional. Em entrevista à Agência ECCLESIA, que acompanhou as celebrações destes dias desde a Madeira, o prelado sublinha que conta com todos, em especial os sacerdotes, a quem pede comunhão e unidade. Agência ECCLESIA – Chega ao Funchal como Bispo do diálogo e do encontro com o povo. Essas preocupações têm estado presentes sempre no seu ministério? D. António Carrilho – Essa tem sido a minha preocupação, procurando realizar um ministério episcopal de acordo com aquilo que eu entendo ter sido a proximidade e a relação de Jesus com as pessoas, sem procurar aparecer muito, mas com a preocupação de estar junto delas, para tocar a sua vida e o seu coração. Não é uma questão apenas de relação afectiva, mas é importante que as pessoas sintam que o Bispo está perto, que tem uma palavra e um gesto, que o conheçam. Eu vi o reconhecimento e o apreço que nasce dessa proximidade. Também não é uma questão de populismo ou de popularismo, é uma questão de relação pessoal. AE – Essas são características que o povo madeirense admira e deseja para o seu Bispo? AC – Por aquilo que fui ouvindo, é realmente assim. Penso que os testemunhos que vieram a ser partilhados por muita gente do Porto que tinha tido um contacto mais próximo comigo, sobretudo através das visitas pastorais, fez com que as pessoas aqui despertassem para aquilo que considerariam ser uma qualidade desejável A chegada (à Madeira) proporcionou esse tal contacto que, para muita gente, veio comprovar aquilo de que tinham conhecimento por meio dos outros. AE – Pensa que as expectativas em volta do Bispo do Funchal estão elevadas? AC – Eu penso que estão elevadas, mas aceito esse desafio por uma razão: o rosto do desafio e da esperança nesta hora não é apenas o Bispo, é a comunidade cristã. Se esperam muito, têm de dar muito. Sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos em geral, todos juntos, devemos saber ver, julgar e agir, assumindo as nossas responsabilidades como Igreja, para encontrar caminhos de resposta para o Povo de Deus que lhe está confiado. AE – Há separação, no Funchal, entre o exercício de responsabilidade por uma Igreja local e a prática religiosa? AC – Eu estou a chegar e não tenho um contacto passado com esta Diocese, o que até cria expectativa. Claro que o Bispo é responsável por uma Igreja, mas com responsabilidade em todas. Estou a ver, não faço juízos de valor sobre o presente, nem sobre o passado ou sobre o caminho. Confio no clero, nos religiosos e religiosas, no laicado, porque penso que esta Igreja tem capacidade para responder ao que as circunstâncias novas reclamam e exigem. Perspectivar o futuro AE – Este momento concreto da vida na Diocese do Funchal exige novidade? AC – É precisa expectativa e esperança, de novos projectos e dinamismos, embora não seja a concretização de um programa. Podemos apontar necessidades gerais e comuns, como a nova evangelização, a situação dos jovens e da família ou o esclarecimento da fé, que são dados comuns. Quem me dera que os casais da Diocese, por exemplo, pudessem dar o testemunho da alegria de serem família cristã, porque o testemunho de felicidade toca muito mais do que simplesmente uma reflexão teológica. AE – O clero será o primeiro parceiro do Bispo? AC –Sem dúvida. Eu digo que um presbitério unido é um factor da comunhão, fazendo da comunidade uma verdadeira casa e escola de comunhão. Além disso, é a única forma de animação pastoral, porque se queremos realizar qualquer projecto temos de ter um bom motor. Conto com a diversidade na complementaridade, mas na comunhão e na unidade. AE – A unidade poderá ser uma questão nesta Diocese. Falo do chamado grupo dos dez, por exemplo, que escreveu ao Bispo emérito, reivindicando algumas acções… AC – Vi, de facto, referência a esse grupo. São dez, como poderiam ser vinte ou trinta, as pessoas juntaram-se e entenderam que poderiam ter uma palavra a dizer. Não sei se foram tão reivindicativos, se foi simplesmente apenas a manifestação de um desejo, justo, em termos de participação. Agora é que vamos dar as mãos, para concretizar aquilo que o Bispo sabe que é desejado por muitas pessoas. Quero que elas saibam que, nesta diversidade e mesmo na comunhão e na unidade, é possível realizar essas expectativas. AE – Que oportunidade constitui a passagem de uma massa imensa de turistas pela Madeira? AC – Conheço melhor, evidentemente, o turismo no Algarve, a minha diocese de origem, e sei aquilo que é possível fazer e não é feito naquilo que costumamos chamar pastoral do turismo, que ainda está bastante indefinida. Costumo dizer que a verdadeira pastoral do turismo é a pastoral da Igreja local, não é uma pastoral para turistas, mas de acolhimento, dando às pessoas a capacidade de viver no confronto multicultural e oferecendo razões para afirmarem a sua fé e testemunha-la. É bom disponibilizar, também, informação para quem quem passe se sinta acolhido, porque há pessoas que podem aproveitar o tempo de descanso para se refazerem espiritualmente, procurando momentos de interioridade. Se houver informação e acolhimento, elas poderão aproveitar. Igreja e política AE – Há aqui muitos sacerdotes que se aproximaram da política e que abandonaram o sacerdócio ou foram suspensos. Que proximidade pode ter o Bispo com estes casos? AC – Eu procurarei fazer tudo pela comunhão entre todos. Considerarei os casos que me forem colocados e procurarei conhecer os que não me forem colocados, mas se há alguma coisa a mudar, não é agora que o posso dizer. AE – Sendo um Bispo do Continente, acha que a intenção de consolidar a Autonomia pode constituir entrave ao seu ministério? AC – Penso que não, o conceito de Autonomia é claro e desenvolve-se numa determinada esfera. Enquanto Bispo, tenho de sentir aquilo que são as interpelações do bem comum da população e entrar numa cooperação. Isto, para mim, não é uma questão política, mas uma questão de responder melhor às necessidades locais. Penso que não haverá dificuldades, pelo contrário, até me consta que muitas pessoas aqui manifestaram o desejo de que viesse um Bispo de fora. AE – Dando continuidade a essa tradição de Bispos do Continente no Funchal… AC – De facto, são em maior número, na história da Madeira, não sei se se poderá falar propriamente em tradição. Se alguns pediram que fosse um sacerdote daqui, outros pediram que não o fosse, para já, mas não estou preocupado em saber se foram muitos ou não, apenas em dar o meu melhor. AE – O trabalho pelo bem comum, de que falou, tem de ser em parceria com o governo regional da Madeira? AC – Eu não falaria de parceria, propriamente dita. Costumo dizer que a relação da Igreja com as instituições, concretamente também com as instituições políticas, tem de ser norteada por dois princípios que gostei de ver expressos pelo nosso Papa Bento XVI: autonomia e cooperação. Gosto dessa definição, porque me parece clara. Autonomia porque cada instituição – seja de ordem governamental, social ou cultural – tem os seus objectivos e a sua finalidade, pelo que têm de respeitar-se umas às outras. A Igreja respeitará aquilo que é próprio das outras instituições e quer ver-se respeitada na sua autonomia. Agora, há muitas coisas que podem ser feitas em termos de cooperação: a Igreja não se pode alhear do domínio da educação, não se pode alhear do domínio do social ou da proximidade dos pobres e de quem mais precisa, pelo que quer assumir as suas responsabilidades. A Igreja está na disposição de dar as mãos a outras instituições e outros poderes quando aquilo que se busca é o bem das pessoas. Gostava que isso fosse claro e pessoalmente tenho o desejo de que se possa conciliar sempre esta autonomia e a cooperação, porque acima de tudo estão as pessoas. AE – É importante uma Diocese ter um Jornal, sobretudo um que tenha capacidade para levar por diante um projecto de um jornal diário? AC – Relativamente a isso, preciso de conhecer a Diocese para me poder pronunciar em termos de comunicação social. Acho muito importante que a Igreja não prescinda daquilo que hoje é uma forma de chegar a todos, de uma maneira bem diferente daquela que é, simplesmente, o nosso púlpito das Igrejas. Sobre o modo concreto de o fazer, entendo que tem de haver muita informação e o gabinete diocesano é muito importante. Penso, por outro lado, que será difícil à Igreja alimentar um jornal diário, já foi visto no Continente que não foi possível colocar um diário para colocar ao lado de outros diários. Quanto a um órgão semanal, aqui há o Pedras Vivas (suplemento dominical no Jornal da Madeira, ndr), que procura ser essa presença e é algo a pensar. Temos de ver como é que as coisas podem funcionar para atingir melhor as pessoas, a comunidade cristã, mas não só. Gostava que, através de um comunicação social aberta, fôssemos capazes de ir bem mais longe, levando uma proposta cristã a quem está menos por dentro, em termos de prática cristã.

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