Quaresma no mundo: Preparar a Páscoa ao longo de 17 meses no Curdistão iraquiano

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10 de setembro de 2016. A irmã Irene Guia, Escrava do Sagrado Coração de Jesus, aterra em Erbil, capital do Curdistão iraquiano, para iniciar a presença do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS) em Dohuk, cidade da região autónoma fronteira com o Irão, a Turquia e a Síria.

 

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Ali viu pessoas que tinham fugido dos territórios ocupados pelo Daesh há menos de um ano, “mais de mil famílias” a viver em grandes campos, em casas com e sem condições que eram teto para vários agregados familiares, que “ali ficavam por tempo indeterminado”.

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«Quando cheguei participei num funeral de sete membros de uma família que morreu no mar Egeu a tentar chegar à Europa. Senti-me como a penitente europeia numa comunidade que acabou de perder sete membros. O funeral foi ali porque a avó estava naquele campo. Trouxeram seis corpos porque um não se chegou a encontrar».

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“Vi pessoas com grande desespero, com esperança de fugir, que recordavam o dia do êxodo de fuga do Daesh, 6 de agosto de 2014. Eles viveram o êxodo, que para nós é bíblico, numa data específica. Vi o limbo que as pessoas viviam, porque o tempo de procurar segurança já tinha passado. «O que fazer da nossa vida?»  ”

Foi a esta realidade que o Serviço Jesuíta aos Refugiados quis responder ao ir ter com estas populações e propor programas e acompanhamentos para ajudar a permanecer a chama viva.

A equipa constituída para visitar as famílias não levava nada.

“Agradecem a nossa companhia e nós vamos porque elas precisam. Visitamos todas as famílias e voltamos à primeira e é sempre com grande alegria que recebem as equipas do JRS. O que significa que a grande tarefa a fazer ali é perder tempo, acompanhar e ouvir os relatos e dificuldades”.

Refazer, converter o coração, mudar, reiniciar são verbos que se coadunam com a vida dos deslocados internos.

“São verbos da nossa vida”, indica a religiosa.

 

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«Em contextos de espera e de limbo dependem dos que lá vamos. Não porque somos heróis mas porque ao ver pessoas que não sabem o que fazer durante aquele tempo, o «re» é um «re» que espera. Talvez este «re» seja o tempo de Quaresma. O «re» pode ser o regresso, o «re» mais importante. E a vida acontece neste «re» através de procurar manter a esperança viva, meter os miúdos na escola, uma formação que possa ter um efeito para lá da aprendizagem, uma formação que nos tira do espaço habitual, que nos leva a encontrar outros como eu que me fazem falar e interagir. Isto religa as pessoas a uma esperança».

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A Quaresma entre diferentes

Durante os 17 meses no Curdistão iraquiano, a irmã Irene partilhou uma Quaresma entre cristãos, muçulmanos e yazidis.

“Uma conversa, uma gargalhada, um almoço, um abraço, um chá que se aceita, um aquecimento, um ficar à conversa prolongada, a hospitalidade. São momentos de Páscoa. O que nos uniu foi o sofrimento da pessoa que deitou o coração cá para fora… quando a pessoa percebe o tempo que passou e ela ali continua, isso é o tempo da Paixão, estão no início do Tríduo pascal”.

“Relatar faz-me olhar para o sofrimento de forma intensa, se voltar lá vou chorar sim, mas a vida venceu a morte e por isso, baliza a dor na nossa vida. Se o sofrimento não tiver esta leitura não se identifica com a identidade do ser humano”, afirma a religiosa.

Do agir humano que não esquece a irmã Irene sublinha a hospitalidade.

O calendário litúrgico caldeu é diferente daquele seguido no ocidente.

“Os gestos simbólicos são diferentes, não existe por exemplo, a quarta-feira de cinzas e a simbólica imposição das cinzas”, mas todas as religiões têm um momento semelhante à Quaresma, encontrando na oração, na esmola e no jejum uma “linguagem comum, não é património exclusivo”.

“Encontramos as mesmas formas de querer regressar ao mais puro e melhor de nós. É um momento de refazer e religar, de voltar ao mais honesto na nossa vida, ao que acreditamos ser mais verdadeiro na nossa vida”.

Neste tempo, entre a equipa do JRS e com outras pessoas que a Irmã Irene conheceu, a religiosa testemunhou o respeito que quer conhecer aquilo em que o outro acredita e faz silêncio perante a fé.

E neste encontro acontecem momentos de partilha com muçulmanos a participarem na celebração do Domingos de Ramos ou os cristãos a irem conhecer o principal santuário dos yazidis no Curdistão, onde se é recebido com um grande acolhimento.

“Quando estamos no bem, sentimo-nos bem. Isto é o Deus que nos une a todos, podermos conhecer-nos cada vez mais, não para perder a identidade, mas para aprofundarmos a comunhão e fraternidade”.

 

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«Vivi momentos de Páscoa diários, várias vezes ao dia, mas ali vive-se a Paixão».

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«Numa visita a uma família de refugiados sírios muçulmanos, a viver ao lado de um gerador com muitos volts e um barulho ensurdecedor, onde entrava fumo porque eles não tinham portas nem janelas, eu vi o avô dar uma nota à neta e ela volta com um único sumo com uma palhinha que era para mim. Dá-se do que não se tem».

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«Nas visitas fica-se a conhecer os dramas de que as pessoas padecem: o que aconteceu aos outros familiares, estão sequestrados, foram para a Síria, a minha filha está a ser leiloada, o meu filho a ser degolado, será que não deixou crescer a barba e o mataram, será que pegou no telemóvel e foi chicoteado? São dramas que ali ouvimos e é uma honra quando uma família se abre e começa a falar connosco sobre isto, não tanto porque possamos fazer alguma coisa mas porque elas confiam e naquele espaço de tempo construímos a família humana. E isto faz falta».

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«Se há frase do Evangelho que a mim me diz muito é aquela definição que as pessoas fazem de Cristo que é «Era um mestre bom que passou pela vida fazendo o bem.» Passou, não ficou. A obra não é nossa».

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A missão em Dohuk

O JRS já se encontrava em Erbil, na capital do Curdistão iraquiano; a missão da Irmã Irene tinha como objetivo abrir um centro de operações de apoio em Dohuk e trabalhar em três frentes.

A visita às famílias era o primeiro eixo, aquele que a Irmã Irene apelida de “pérola dos programas do JRS”.

“Vamos de mãos vazias, é bater à porta, falar… Com estas visitas podemos abrir caminho a outro verbo do JRS que é «defender», ou não. Se não precisam de nada, passado um tempo voltamos e está tudo bem”, recorda a religiosa.

O segundo programa que o JRS disponibiliza é o fornecimento de competências, nomeadamente em inglês, curdo, formação de informática, costura, barbearia, cabeleireiro.

“Um espaço para que a formação real aconteça”, sublinha a Irmã Irene, que não esquece, no entanto, que o mais importante ia para além da formação.

“Tentávamos encontrar as pessoas mais competentes, mas o relevante eram colocar as pessoas em contacto umas com as outras porque quem ali está viver sofreu o mesmo, em diferentes regiões mas sob o domínio do Estado islâmico e a identificação reciproca, o falar do que se viveu, aproximava”.

O terceiro objetivo era o estudo.

“A Guerra destrói a vida das crianças e miúdos que ficam três anos sem escolaridade é uma geração que fica pouco preparada para o futuro. Dávamos aulas de reforço escolar para que os miúdos não ficassem atrás nos exames nacionais e conseguimos resultados simpáticos”.

A irmã Irene Guia deixou o Curdistão iraquiano no final de janeiro, deixando em Dohuk uma “boa equipa”, constituída com cristãos, muçulmanos e yazidis, capaz de liderar o trabalho ali iniciado.

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A paz que se constrói entre diferentes

A esta prática, acresce a certeza de que “a paz se constrói com a comunhão de diferentes identidades e pertenças”.

“Quando nos olhamos nos olhos reconhecemo-nos e não somos desconhecidos. Olhar nos olhos elimina medos e receios desadequados. Não o conheço mas reconheço, já não és um desconhecido. Tudo o que precisamos é ser reconhecidos”.

A dificuldade em lidar com o diferente é o maior entrave ao encontro de uma solução.

“O maior receio vem do desconhecimento, porque quando conhecemos percebemos que está tudo bem; somos diferentes e está tudo bem”.

A irmã Irene Guia, Escrava do Sagrado Coração de Jesus há 34 anos, não esquece na sua vida os dois anos que viveu nos Camarões, os quatro anos passados entre refugiados do Ruanda e da República democrática do Congo, a experiência de mais de um mês em Timor, para além dos 17 meses no Curdistão iraquiano.

Não se imagina uma religiosa diferente porque, diz, “a vida vai esculpindo”.

Os 17 meses no Curdistão iraquiano tinham a responsabilidade de ser partilhados.

“Ter ido foi um privilégio e por isso não pode ficar comigo. Daí escrever o blog «Em Terras do Curdistão». Quando uma pessoa se sente privilegiada também se sente responsável”, assume.

Uma responsabilidade que deve ser partilhada com todos os homens de boa vontade, através do acesso à informação e, para os cristãos, o dever de rezar.

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«Aquele Deus, que eu acredito que é bom, está no coração de todos nós. Os atos de bondade que qualquer pessoa neste mundo faz, saem da presença deste Deus bom. Para os que acreditam isto é oração».

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«Numa zona conflituosa onde estive fui aconselhada a, quando fosse indagada por um comandante de milícias, procurasse o contacto visual com ele e lhe apertasse a mão. Para quê? Para que ele me reconhecesse e se, eventualmente, nos voltássemos a cruzar, ele já não me mataria porque se lembraria de mim. Se eu fosse desconhecida ele não teria problema em disparar, mas se já nos tivéssemos olhado nos olhos ele pensaria duas vezes. Isto revela que a construção da paz começa pela identificação e reconhecimento».

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«Para onde eu for tudo o que conheci de sofrimento humano, não se apaga. O que tocamos também nos transforma. Tive o privilégio e a honra de acompanhar situações de vulnerabilidade e fragilidade e questionar porque é que a mim isto não me toca, e perceber como as pessoas são resilientes, é impossível passar indiferente».

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LS

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Agência ECCLESIA

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