Cultura: «Testemunhei um amor visível, diário, comovente, puro ‘Cântico dos Cânticos’ entre os meus pais» – Pedro Abrunhosa

Músico agnóstico reconhece «influência» da Bíblia na sua obra, diz que o mundo «precisa de Deus» e do Papa Francisco, e da continuação do seu «trabalho notável» de aproximação dos homens à Igreja

Foto: Vatican Media

Vila Nova de Gaia, 09 abr 2025 (Ecclesia) – Pedro Abrunhosa reconhece no seu trabalho a influência da Bíblia, livro que o pai lhe deu a conhecer, e recorda no amor de 70 anos dos pais, “um agnóstico e uma mulher profundamente católica”, o ‘Cântico dos Cânticos’.

“Testemunhei um amor visível, diário, comovente, de dedicação um ao outro, puro ‘Cântico dos cânticos’. Essa relação fez-me entender que o diálogo entre pessoas que veem Deus de maneira diferente, ou se quiser, uma que vê Deus e a outra que não vê ainda – sou eu a dizê-lo – é profundamente reveladora do que é o amor, porque na realidade nós não temos que ser iguais na fé, não temos que ser iguais nas crenças interiores, nem nas convicções interiores, temos que ser iguais nos valores, na prática. Temos que viver em função de, e praticá-lo. E de facto aí a ligação dos dois mostrou-me muito do que pode fazer a humanidade e, o seu amor é uma lição para a humanidade”, explica à Agência ECCLESIA.

A Bíblia, livro que elege como “literário, poético e religiosamente importante” para si, foi-lhe mostrado pelo pai; dos livros proféticos indica Isaías, mas vai ao ‘Cântico dos Cânticos’ para exemplificar a “influência” que as leituras deixam no “iceberg que é a consciência”.

O músico, que celebra 30 anos sobre o seu trabalho «Viagens», procura o silêncio, que entender ser um lugar cada se pessoa “autorrevela”.

“Quando me sento ao piano e começo a tocar, existe um certo ímpeto emocional que vai emergindo dos acordes, que é difícil explicar, mas simultaneamente começa um outro hemisfério do pensamento a funcionar para perceber que palavra é que o som traz”, descreve.

O músico entende a arte como uma “necessidade, uma busca interior” e explica ser a única forma que encontrou para se “pacificar”.

“A arte não é comunicação, são coisas muito diferentes. E a linguagem tem limites, mas esses limites são desfeitos quando começa a poesia, e depois vem a música, e tornam-se ainda mais abrangentes. Será que nesse ‘big bang’ que vai da linguagem, da palavra, da sílaba, até à música, será que Deus existe?”, indaga.

Foto: abrunhosa.com

Pedro Abrunhosa recorda raízes cristãs na sua família, no seu crescimento e os rituais que o levaram, “todos os anos” a Moimenta da Beira, celebrar a Páscoa, acompanhar o compasso, as procissões da Semana Santa.

Questionado sobre como gostaria de ver a Igreja hoje no mundo, Pedro Abrunhosa recorda as palavras do Papa Francisco, durante a Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, e um discurso “não exclusivista”: “Ele não diz ‘todos, todos, todos, mas’; não há mas – é todos, todos, todos. E apesar disso, nas Jornadas da Juventude, consegui ver hostilização às comunidades gays, às comunidades lésbicas. Nós sabemos que existe dentro da Igreja, mas isso vai contra este pontificado, que é um pontificado de inclusão, de pacificação, de refundação dos princípios cristãos”, explica.

Pedro Abrunhosa reconhece a “força” do Papa Francisco – “a força é a sua diferença”.

“Precisamos de Francisco II. Como agnóstico, gostava de ver a Igreja a continuar o trabalho notável de aproximação aos homens. O mundo precisa muito de poesia, e o mundo precisa muito de Deus”, finaliza.

A conversa com Pedro Abrunhosa, que tem lugar para a poesia de Daniel Faria e do cardeal Tolentino Mendonça, pode ser acompanhada no programa ECCLESIA, emitido esta noite na Antena 1, e visionada no 70×7 de domingo; estará disponível também no podcast «Alarga a tua tenda» e na íntegra no portal de informação da Agência ECCLESIA.

LS

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