Autor apresenta, em Lisboa, obra «A Casa dos Olhares», sobre a reconstrução de uma vida, a partir da dor e do amor que encontra nos outros
Lisboa, 24 nov 2023 (Ecclesia) – O escritor italiano Daniele Mencarelli, autor de ‘A Casa dos Olhares’, considera que a sua obra, sobre a reconstrução de uma vida, a partir do que encontra nos outros, quer levar às “grandes questões de sentido”.
“Não fomos feitos para viver confortavelmente no nada”, disse à Agência ECCLESIA.
O autor está em Lisboa para uma mesa-redonda sobre ‘Literatura e Cristianismo – A Palavra em Comum’, promovida pelas Paulinas Editora e o Instituto Italiano de Cultura.
Apresentando-se como um “aspirante a crente”, Mencarelli fala do cenário internacional, marcado por conflitos e desigualdades, como “uma crise do ser humano”.
“Sempre disse que não sou eu que salvo: se não sou eu que salvo, tenho de procurar um salvador”, indicou.
O autor entende que as novas gerações estão a colocar, outra vez, “as grandes questões de sentido que o homem varreu para debaixo do tapete, durante quase dois séculos”.
Em ‘A Casa dos Olhares’, Daniele Mencarelli partilha a sua história de recomeço e redescoberta, a partir da sua experiência no hospital pediátrico ‘Menino Jesus’ (Bambino Gesù), da Santa Sé, em Roma.
“É um grande regresso à vida através de um impulso, que também pode ser visto como um voo: há um regresso à vida através desse pequeno grande salto que o ser humano dá quando sai de uma condição de crise interior, de grande dificuldade psicológica, e decide voltar a acreditar na realidade ou pelo menos a apostar na realidade”, indica.
O autor evoca no livro a figura de uma religiosa, que acaricia uma criança em estado terminal, para quem escreveu um poema e que inspirou uma “série de reflexões”.
‘A Casa dos Olhares’ surgiu da necessidade de “contar o efeito” do encontro entre a religiosa e a criança, no observador.
“Numa noite de 2017, pensei que seria bom contar o efeito que teve em mim”, admite, precisando que a ideia do livro surgiu de uma só vez, “clara”.
Encontrei a minha própria primavera, uma nova primavera no ‘Bambino Gesù’, um renascimento. Mas vivi-a como testemunha, como trabalhador. Não me permito, nem nunca me permitirei falar e testemunhar a dor, que, na minha opinião, não pode sequer ser imaginada, de um pai que perde um filho”.
Mencarelli, que nas suas obras reflete sobre o sofrimento e a fragilidade humanas, fala de uma dor “imaginada” como “um monólito que cai na vida humana e não deixa espaço para mais nada”.
Em sentido contrário, refere, presenciou a dor de pais que perderam filhos e conseguiram viver “uma nova primavera”.
“Se falarmos da fragilidade do indivíduo podemos pensar numa cura, podemos pensar em fazê-lo sentir-se diferente, mas o homem sempre foi um ser feito de transitoriedade que arrisca constantemente esta oscilação entre o amor e o seu contrário, entre a alegria e o seu contrário”, assinala.
OC
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