Salvaguarda da biodiversidade tornou-se «uma das dimensões mais importantes» do festival organizado pela diocese de Beja
Beja, 12 jul 2011 (Ecclesia) – O responsável pelo festival de música sacra Terras Sem Sombra estima em mais de 15 mil o número de espectadores na iniciativa organizada pela Igreja Católica no Baixo Alentejo, entre 19 de março e 9 de julho.
Em declarações prestadas hoje à Agência ECCLESIA, o diretor do Departamento do Património Histórico e Artístico da diocese de Beja (DPHA), José António Falcão, fez um balanço “francamente positivo” da adesão aos concertos, conferências, visitas guiadas e ações no terreno em prol da salvaguarda da biodiversidade”.
“Com pena nossa tivemos de deixar centenas de interessados à porta das igrejas, mesmo sabendo que alguns dos monumentos levam até 900 pessoas”, referiu o arquiteto, acrescentando que a “grande cobertura” da imprensa levou o festival a um “público muito mais alargado”.
A atenção dada à proteção da natureza tornou-se “uma das dimensões mais importantes” da iniciativa, através de ações que envolveram “músicos, intérpretes, diretores e compositores”, juntamente com instituições representativas das comunidades locais, como “autarquias, escolas e paróquias”.
José António Falcão sublinhou a vertente “pedagógica” destes eventos: “Os artistas estão sempre na vanguarda. Quando um músico importante ajuda humildemente a salvar a natureza, as outras pessoas são sensibilizadas por isso”.
“Foi tocante ver o maestro Marcello Panni, um senhor com mais de 70 anos e um dos diretores de orquestra mais importantes do mundo, a retirar carga térmica do mato e a colocar estacas”, assinalou o responsável, que também recordou a participação dos italianos do Coro de Verona num dia de chuva e com os pés enterrados na lama.
O Ministério da Cultura cortou em 2010 as verbas ao festival, forçando a organização a procurar alternativas nas autarquias, entidades ligadas ao turismo, empresas e particulares, conseguindo, com “orgulho”, que mais de metade do financiamento fosse assegurado pela “sociedade civil do interior do Alentejo”.
A “partilha do património religioso” é um dos eixos do festival, pelo que os responsáveis têm recusado convites para apresentar concertos em salas de espetáculos, castelos ou espaços com maior capacidade.
Além de promover a economia do Baixo Alentejo, o Terras Sem Sombra não esquece a “evangelização”, que passa pelo “diálogo aberto e ecuménico entre fé e cultura”.
“Estamos numa ponte entre a Igreja e a sociedade”, explicou José António Falcão, que acentuou igualmente a importância dada à relação entre “criação contemporânea” e a “grande tradição musical da Igreja”.
O programa de 2012 vai ser apreciado na quinta-feira pelo bispo de Beja, D. António Vitalino, mas já se sabe que o diretor musical, o italiano Paolo Pinamonti, vai continuar ligado ao festival, depois de ter sido recentemente escolhido para dirigir o Teatro da Zarzuela, em Madrid, considerada uma das mais importantes “casas de ópera” da Europa e a principal de Espanha.
As prioridades do DPHA para 2011-2012 incluem a “valorização do Caminho de Santiago e do fenómeno das peregrinações”, a realização de “ações piloto em localidades mais isoladas” para estimular a autoestima das populações, e a aposta no trabalho de artistas da região, prevendo-se a criação de uma galeria de arte na capela de Nossa Senhora do Rosário, em Beja, cuja reabilitação começa hoje.
O Festival Terras Sem Sombra decorreu em sete igrejas da diocese de Beja, cuja sede está situada 180 km a sudeste de Lisboa.
RM