Biblista interveio no 52.º Encontro Nacional de Catequese
Leiria, 22 mar 2013 (Ecclesia) – A Igreja Católica deve dar mais espaço à beleza e ao diálogo com os artistas, sustentou esta terça-feira o padre José Tolentino Mendonça no 52.º Encontro Nacional de Catequese, que termina hoje em Leiria.
A reflexão sobre a beleza, “absolutamente central à experiência cristã”, não “diz só respeito aos meios artísticos”, afirmou o diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura na intervenção, publicada em vídeo na página ‘Educris’.
O responsável realçou que a Teologia, a Pastoral e a Catequese devem ultrapassar “uma estação do silêncio” em relação à beleza, que tem sido imposta pelo “racionalismo” e “positivismo da fé”.
“É muito importante” recorrer à teologia e à pedagogia, mas se a transmissão da fé se reduzir a esses elementos “é muito pouco”, assinalou.
O vice-reitor da Universidade Católica Portuguesa observou que “ser atingido e dominado pela beleza de Cristo constitui um conhecimento mais real e mais profundo do que a mera dedução racional”.
“A beleza pode não nos salvar” mas “há uma beleza que salva”, a que é “desenhada, modelada e refigurada pela pessoa de Jesus” através do “escandaloso mistério da cruz”, apontou.
O biblista acentuou que “o bem e a verdade perdem a sua força de atração” quando se desvaloriza a beleza, que “não é um ornamento” mas uma dimensão “radical” da existência que “atrai” e “transfigura”.
“Se a beleza não marca a nossa vida, o que ficam são normas e práticas”, afirmou o padre Tolentino Mendonça, que vincou a necessidade de a Igreja apostar mais na transmissão da “experiência”, como pode acontecer ao colocar-se um grupo perante uma peça musical ou uma pintura.
A catequese, prosseguiu o sacerdote, “é um clube de exploradores” constituído por “pessoas que fazem a viagem e se expõem à beleza”, pelo que deve “provocar desejo” e assumir-se como espaço que não é de “perguntas mas de respostas”.
“A beleza liga-se à revelação da própria Igreja, à sua identidade sobrenatural”, mas o património que possui “deixou de ser catequético”, afastando-se da função para que foi criado, notou.
Um dos desafios colocados à catequese é aumentar a “sensibilidade” das crianças, jovens e adultos para a convicção de que a beleza “não está a decorar” mas “a dialogar, a catequizar e a expressar” a identidade da Igreja.
“Precisamos de uma estética que abra o nosso coração à verdade e ao bem, mas que também dialogue com a sede de infinito que cada homem transporta”, anseios que só “a beleza”, o “silêncio” e o ”afeto” despertam, apontou.
Depois de acentuar a urgência de uma educação do “olhar”, o padre Tolentino Mendonça frisou que o mundo precisa do “testemunho dos artistas”, porque “um verdadeiro artista é um mestre espiritual”.
“O que Siza Vieira diz sobre a forma como faz uma casa, nós podemos dizer sobre a forma como se constrói um coração”, assinalou o responsável pela relação da Igreja com os meios artísticos em Portugal.
A necessidade de “recomeçar a viagem, sempre”, redigida numa obra de José Saramago, constitui para o sacerdote uma recomendação que se aplica à “beleza” e à “dimensão estética”.
RJM