Colaborador do Papa sublinha importância de levantar «grandes questões» e encontrar linguagem adequada para transmitir valores
Braga, 08 mai 2019 (Ecclesia) – O presidente do Conselho Pontifício da Cultura (Santa Sé), cardeal Gianfranco Ravasi, defendeu em Portugal que a Igreja Católica tem de encontrar uma nova “linguagem” para questionar a sociedade contemporânea e apresentar valores.
“Penso que um dos problemas fundamentais que a Igreja tem, atualmente, é o da linguagem: já não consegue falar à sociedade contemporânea. Há, certamente, exceções, como o Papa Francisco, que usa a essencialidade, frases sempre sem subordinadas, que não são demasiado construídas; usa os símbolos, que são fundamentais”, disse à Agência ECCLESIA o cardeal italiano, sublinhando que “as verdadeiras relações humanas são feitas olhos nos olhos”.
O “ministro da Cultura” do Vaticano, que proferiu uma conferência em Braga, na última noite, sustenta que “o Cristianismo nunca deve render-se à onda da opinião dominante, da aceitação fácil de alguns pseudovalores, só porque é o caminho mais fácil”.
“A Igreja tem de ser sempre como uma pedra no sapato, é um elemento que coloca as grandes perguntas aos grandes temas, mas para o fazer é preciso uma linguagem. Não é verdade que sucesso e mensagem, às vezes, mensagem difícil, não posso andar juntos, como acontece agora, por exemplo, com o Papa Francisco”, acrescentou.
D. Gianfranco Ravasi sublinha que a Igreja não deve ter medo de ser uma “minoria”, mas também não deve ter medo do “sucesso”, mas a medida é a dos “valores, das Bem-Aventuranças, que são um paradoxo”.
Para este colaborador do Papa, é necessário “reconstruir” a ligação Igreja-Cultura, em setores como a ciência, a arte e o digital.
A linguagem informática é uma linguagem que visa, fundamentalmente, a essencialidade. Nunca devemos esquecer-nos de que a essencialidade é algo importante, pelo que a Igreja também se deve habituar a construir a sua mensagem sobre estas frases que são semelhantes aos ditos que Jesus usava”.
O cardeal Ravasi considera importante “adaptar-se a esta nova linguagem, para comunicar a fé”, embora reconheça que há “grandes riscos”, como a virtualidade, isto é, “relações frias”, ou a violência e a agressividade que se manifestam através de ataques e insultos online.
O presidente do Pontifício Conselho da Cultura no Vaticano foi o convidado da primeira edição do «Success Full Pensamento», no Altice Fórum, em Braga.
João Duque, presidente do Centro Regional de Braga da UCP, refere à Agência ECCLESIA que o cardeal italiano é um “pensador” reconhecido internacionalmente, dentro e fora da Igreja,
“O Cristianismo, quando pensado a fundo, como tem sido a sua tradição, pode dar um contributo importantíssimo para a humanidade”, sublinha.
O responsável da Universidade Católica recorda que D. Gianfranco Ravasi iniciou uma plataforma de diálogo entre crentes e não-crentes, o ‘Átrio dos Gentios’, para “aproximar seres humanos que têm problemas semelhantes”, procurando “descobrir raízes comuns”, na Europa.
Para além do presidente do Pontifício Conselho para a Cultura no Vaticano, a sessão contou também com as intervenções da reitora da UCP, Isabel Capeloa Gil, e do presidente da Câmara Municipal de Braga, Ricardo Rio.
Esta iniciativa que resultou de uma parceria entre a Universidade Católica Portuguesa, a Câmara Municipal de Braga e a Idioteque, é centrada “num debate anual, humanista e que se pretende transformador”.
HM/OC