Cultura de vigilância para o património da Igreja

O Bispo Auxiliar de Braga D. António Francisco dos Santos defendeu, no âmbito das XII Jornadas do Património Cultural da Arquidiocese de Braga, a necessidade de se criar e promover uma cultura de vigilância do património da Igreja. As Jornadas, promovidas pelo Gabinete de Actividades Culturais do Instituto de História e Arte Cristã (IHAC) e pelo Instituto Superior de Polícia Judiciária e Ciências Criminais, reuniram cerca de 80 participantes, que ouviram falar sobre o tema “Prevenção criminal e vigilância em igrejas”. Segundo o prelado, que preside ao IHAC, esta «é uma convicção alicerçada na base de que toda a comunidade tem que ser vigilante ». A vigilância «não é uma tarefa de alguns, mas uma consciência e um compromisso de todos», frisou. D. António Francisco dos Santos considerou mesmo que ser voluntário vigilante «pode significar e assumir contornos de um novo Ministério de que a Igreja precisa». Em sua opinião, é necessário «sentir e saber que ao direito à fruição do património se deve associar o dever da vigilância. Querer a fruição do património sem vigilância é arriscado». De acordo com D. António Francisco dos Santos, é preciso «assumir a urgência da formação da comunidade e das pessoas que velam pelo património». «Temos que adquirir a consciência que esta formação não está acabada e muitas vezes está mal iniciada. Sem formação não é possível e fácil esta vigilância e salvaguarda», acrescentou. A preparação de vigilantes «exige da Igreja criatividade e paradigmas novos de actuação», acrescentou o presidente do IHAC. A propósito da vigilância, o responsável pelo Gabinete de Actividades Culturais, cónego José Paulo Abreu, falou na importância de se «encontrar uma bolsa de pessoas para garantir a vigilância». «A ideia é detectar sensibilidades e tentar que, nas igrejas mais significativas, se encontrem pessoas voluntárias ». Párocos ou comissões fabriqueiras podem indicar as pessoas para vigiar as igrejas. Segundo o cónego José Paulo Abreu, devem ser seleccionadas, a nível de arciprestado, «as igrejas que parecem mais significativas e que devem estar abertas ao público». Considerando que devem abrir todas as igrejas Matrizes, de Colegiadas e algumas mais importantes devido à riqueza da traça ou do património, o responsável pelo Gabinete de Actividades Culturais aponta para mais de 50 igrejas nestas condições em toda a Diocese. A propósito da igreja de S. Paulo (igreja do Seminário de Santiago), o sacerdote disse que espera que ela abra ao público nas condições que o projecto “Igreja Segura” estipula, o que implica a existência de sistemas de segurança a funcionar e o templo devidamente restaurado. O cónego José Paulo Abreu explicou que falta restaurar o órgão, os altares e os azulejos. Referindo que abrir as igrejas é o objectivo final do “Igreja Segura”, Leonor Sá, conservadora do Museu e Arquivos Históricos da Polícia Judiciária, referiu que «muitas igrejas estão encerradas por questões de segurança. Se as solucionarmos podemos abri-las em horário alargado». «É de interesse para toda a comunidade que as igrejas abram, sejam usufruídas e visitadas e sejam um pólo dinamizador da sociedade», acrescentou. Leonor Sá explicou que o projecto anda «à volta de três eixos: a exposição “SOS Igreja”, para informar e sensibilizar, o trabalho no terreno ao nível das igrejas- piloto, nomeadamente na igreja de S. Paulo, e a formação». A este propósito, disse que, no âmbito do “Igreja Segura”, se pretende criar um novo modelo de formação de formadores. Actualmente existe uma pequena equipa para milhares de igrejas, mas com o alargamento «temos possibilidade de atingir um maior número de pessoas». Inventário Considerando que «o inventário é a pedra basilar de toda a segurança – se não soubermos o que temos na igrejas, como sabemos o que proteger? – Leonor Sá disse que existe um problema que é a ausência de inventário nas igrejas portuguesas. A propósito deste assunto, o cónego José Paulo Abreu referiu que o inventário «está por fazer em quase todas as paróquias ». A sua elaboração «exige conhecimentos técnicos que os párocos não têm nem são obrigados a ter», nomeadamente peritos nas áreas de ourivesaria, têxtil, pintura e escultura, acarreta «custos elevados e só é possível com parcerias». Famalicão foi um exemplo de colaboração neste campo apontado pelo sacerdote. Segundo o responsável pelo Gabinete de Actividades Culturais, a Diocese de Braga apresentou uma candidatura «que envolve entidades que possuem quadros técnicos. Sem parcerias de trabalho, é impossível à Igreja fazer os inventários». «No Museu Pio XII vamos ter uma base de dados do inventário da Diocese», afirmou, acrescentando que «falta muitas vezes que os pré-inventários paroquiais tenham ressonância neste inventário da Diocese». Apesar da inexistência de inventários, o cónego José Paulo Abreu reconheceu que na maioria das paróquias da Diocese de Braga já existem pré-inventários, «que não exigem requisitos técnicos muito fortes e permitem recuperar as peças se elas são furtadas ». Essa informação, pedida aos párocos há alguns anos, tem «indicações sumárias sobre o imóvel e o recheio móvel». Lembrando que a manutenção do que existe no interior dos templos «custa imenso», o cónego José Paulo Abreu não excluiu a possibilidade de um dia se poder vir a pagar a entrada em determinados templos fora do horário de culto. «Quem tem espólio tem que criar condições para o manter », frisou. Segundo o sacerdote, nas igrejas bracarenses «continua a haver furtos de pequenas peças e de material nobre», nomeadamente de objectos em ouro e em prata. Muitos materiais são fundidos para despistar as autoridades. A propósito de se fazerem cópias de peças que vão para restauro e que são entregues em vez das originais, o cónego José Paulo Abreu disse que «quando uma peça vai para restaurar, deve haver uma marca discreta num sítio escondido da peça».

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