Cardeal português recebeu distinção na cidade da Guarda, e pediu olhar sobre o interior, valorização de «verdadeiras potencialidades», e indicou a fronteira como «plataforma fundamental para o diálogo cultural com a Europa»

Guarda, 27 nov 2025 (Ecclesia) – O cardeal José Tolentino Mendonça recebeu hoje o Prémio Eduardo Lourenço 2025, que recordou como um “homem poliédrico” e uma das “grandes figuras da cultura portuguesa contemporânea”, e quis dedicar a distinção a todos os professores.
“Aproveitarei o meu discurso para dedicar este prémio a todos os professores, para dizer quanto a missão do professor é hoje uma missão fundamental, que deve ser revalorizada, porque tantas vezes os professores se sentem sós, se encontram em dificuldade. É uma carreira profissional que hoje socialmente perdeu valor, perdeu prestígio, e é necessário revalorizar, reencontrar a gratidão social pelo contributo dos professores”, afirmou o cardeal português aos jornalistas, antes da cerimónia de entrega que decorreu na cidade da Guarda, distrito de nascimento do Professor Eduardo Lourenço.
D. José Tolentino Mendonça recordou a “extraordinária simplicidade” do Professor Eduardo Lourenço, uma “pessoa humana, muito próximo”, “vivia uma vida naturalmente muito despojada, com uma disponibilidade muito grande para servir, para falar às universidades, aos encontros”.
“Lembro-me, quando estava a começar o meu percurso, ele ter ido ao meu encontro ao Centro de Reflexão Cristã e estar sentado a escutar-me. Ele estava sempre disponível para escutar as vozes novas, as pessoas que apareciam, os novos temas, as novas interrogações, e essa sua simplicidade e abertura constituem para mim um exemplo”, valorizou.
Do professor, falecido em 2020, o cardeal português destacou ainda uma “inquietação permanente” para construir um “fio de unidade”.
“Da dispersão de saberes mais diversos, ele construía uma espécie de fio de unidade. E nós aprendemos isso com o professor Lourenço, porque ele diz-nos que os grandes autores não são apenas escolares, mas que os grandes autores se tornam mestres de vida, ensinam-nos a voar, ensinam-nos a resolver as grandes questões que trazemos dentro de nós. Ajudam, no fundo, a encontrar sentido e razões de esperança”, reconheceu.

O prémio que agora recebe, na sua edição de 2025, evoca “uma das grandes figuras da cultura portuguesa contemporânea, um homem extraordinariamente poliédrico, que pensou Portugal como poucos” e que ajudou a “olhar para a riqueza extraordinária da cultura portuguesa de todas as épocas e também dos últimos tempos”, com uma “infatigável curiosidade por todos os aspetos da vida e da cultura”.
O cardeal português, prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação, quis valorizar ainda o interior do país, e assinalar que o Prémio Eduardo Lourenço é uma distinção que procura o diálogo.
“É um prémio que procura o diálogo de um lado e do outro da fronteira, mostrando, como dizia o professor Eduardo Lourenço, que são os outros que nos permitem conhecermos a nós próprios. Não podemos ficar de costas viradas, Espanha e Portugal, mas precisamos de encontrar estes pontos de diálogo que nos ajudam a ser também nós próprios, e este prémio fala de um Portugal que se encontra no seu interior com outro país, com uma tradição cultural muito rica, e hoje quando o interior do país é associado quase a uma perda de velocidade, a uma diminuição de oportunidades, também para as novas gerações, é muito importante prémios como este e exemplos de cidadania como dá o professor Eduardo Lourenço”, destacou.
“Penso que é um estímulo de esperança para olhar para este território e para perceber as suas verdadeiras potencialidades. Penso que a Guarda, e a região interior do nosso país, é uma plataforma fundamental para o diálogo cultural com a Europa, porque o Portugal do diálogo não é só o Portugal Atlântico, é também o Portugal desta fronteira interior”, indicou.
O cardeal Tolentino destinou o valor do prémio à construção do Centro de Pastoral Juvenil e Universitária Papa Francisco, um projeto na cidade da Guarda que quer “apoiar novas gerações”.
“O prémio vai inteiramente para esta instituição e fico muito feliz, porque é preciso apoiar as novas gerações, incentivá-las, criar espaços de encontro, espaços para que eles possam ser habitados pelas perguntas, pelas grandes perguntas. E eu penso que um papel de alguém mais velho é olhar para os jovens e dizer, ‘vamos dar-lhes oportunidades para que eles possam amar as coisas que nós amamos’”, indicou.
CB/LS
| A cidade da Guarda celebra hoje o seu 826º aniversário, numa cerimónia onde se incluiu a entrega do Prémio Eduardo Lourenço ao cardeal, poeta e teólogo D. José Tolentino de Mendonça, que decorreu nos Paços do Concelho.
A acompanhar a cerimónia, o patriarca de Lisboa teve ocasião de assinar o livro de honra do município onde deixou uma mensagem: “Guarda é para Portugal a sua porta de contato com a Europa. Por isso, as suas gentes são caracterizadas de carácter pluralista, aberto e holístico. Um carisma que hoje o mundo necessita. E assim, a Guarda é uma cidade que, mais do que para visitar, é para assimilar no modo de ser e de agir. Bem-haja ao seu ilustre, Presidente da Câmara Municipal. Bem-haja a todos. Guarda 27 de novembro de 2025”, assinou D. Rui Valério. O presidente do Dicastério para a Cultura e Educação assinou o Livro de honra com a mensagem: “Na cidade da Guarda, a figura incomparável do professor Eduardo Lourenço, mestre da cultura portuguesa. Da Guarda, a capital mais alta, avista-se Portugal, com um olhar de que Portugal precisa. Guarda, 27 de novembro de 2025”. O Município ofereceu como lembrança um anjo, imagem da Guarda. |
