Cultura: Cardeal-patriarca alerta para o perigo de a sociedade perder matriz cristã

“Em cada assunto temos de tomar a responsabilidade de uma opção, de sermos diferentes”, afirmou D. José Policarpo

Lisboa, 12 mar 2012 (Ecclesia) – O cardeal-patriarca de Lisboa lançou este domingo um alerta para o perigo da exclusão dos valores cristãos que formaram a cultura ocidental, tendo sublinhado que o cristianismo se defronta com tendências que lutam pela laicização da sociedade.

“Para nós, cristãos, a pior coisa que poderia acontecer à cultura de que somos herdeiros, e que envolve a nossa vida comunitária e pessoal, é que ela perca essa matriz cristã”, afirmou D. José Policarpo, citado pelo site do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura na catequese quaresmal que proferiu na Sé Patriarcal de Lisboa.

Na Europa, lembrou, houve “movimentos intelectuais, filosóficos, artísticos e até políticos que quiseram desligar a cultura da influência do cristianismo, não percebendo que a fé cristã tende sempre a transformar-se em cultura, pelos valores que veicula, pela prática que inspira, pela maneira de conceber o Homem e a vida, pelo horizonte da eternidade”.

“Estamos diante de movimentos muito fortes de laicização da cultura”, vincou o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, acrescentando que o “elemento aglutinador” da história europeia que contribuiu para a sua “unidade cultural” foi a “fé cristã”.

Na catequese intitulada ‘Anunciar o Evangelho é intervir na cultura’ o prelado pediu aos católicos para serem corajosos na defesa das suas convicções, mesmo sabendo que essa tarefa “é mais difícil se o ambiente cultural à volta não ajuda”.

“Em cada momento, em cada circunstância, em cada assunto temos de tomar a responsabilidade de uma opção, de sermos diferentes, porventura remar contra a corrente”, frisou o membro do Conselho Pontifício da Cultura.

“Para interferir na cultura não é preciso ser doutor, basta ter aquele novo ardor” da “nova evangelização”, pelo que os católicos não podem estar à espera de “especialistas” para essa missão.

O prelado vincou que é “inevitável” a Igreja falar da “relação da fé com a cultura ambiente”, objetivo que “não é nada fácil, até porque hoje há uma tendência de se pensar que a fé não tem nada a ver com a cultura”.

O cardeal sublinhou que o Ocidente está confrontado com países de tradição muçulmana “com uma forte unidade cultural”, “praticamente construída a partir da fé islâmica”.

A parte final da intervenção foi dedicada aos contributos que a fé pode dar à cultura, começando pelo “amor”, que D. José Policarpo salientou estar no centro da visão cristã do ser humano.

O cristianismo deve também ser foco de “abertura à eternidade”, mas, alertou, essa dimensão “só entra na cultura, hoje então mais do que nunca, se as comunidades crentes a viverem”.

A fé cristã também “propõe uma visão alargada da racionalidade humana”, dimensão “absolutamente decisiva para a transformação da cultura”, respondendo à “tendência de esgotar a racionalidade humana naquilo que o Homem pode dominar por essa racionalidade”.

“A racionalidade humana está presente também quando contemplo a beleza, quando busco a eternidade contemplando Deus, está tão presente quando eu estudo como quando eu rezo”, disse.

A “busca da beleza, antes de mais da beleza de Deus”, constitui também um legado que os cristãos devem testemunhar, já que, vincou, “o crente é espontaneamente chamado a uma vida contemplativa”.

SNPC/RJM

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