Matriz religiosa ajudou a «temperar» esta tradição musical
Luis Filipe Santos e João Pedro Gralha enviados da Agência ECCLESIA a Madrid
Madrid, 15 fev 2016 (Ecclesia) – As tradições do Alentejo conseguiram, numa das salas “mais emblemáticas” de toda a Espanha, mostrar “cante alentejano e a viola campaniça têm um lugar na história da música”, referiu José António Falcão, diretor do Festival «Terras sem Sombra».
Classificado Património Imaterial da Humanidade pela Unesco em novembro de 2014, o cante alentejano, através do «Rancho de Cantadores de Aldeia Nova de São Bento» e dos «Ganhões de Castro Verde», lotaram, este sábado, a sala de espetáculos do Círculo de Bellas Artes, da capital espanhola.
Para José António Falcão é fundamental que o cante alentejano “se internacionalize” e “consiga conquistar novos públicos” e que encontre o seu lugar “junto de tradições musicais similares”.
Para além dos dois grupos de cante alentejano, o grupo de viola campaniça «Moços d´Uma cana», mostrou também a arte musical ao povo espanhol que incluía “catedráticos de musicologia e figuras fundamentais da cultura” ibérica.
Com o aprofundamento científico desta tradição alentejana, o diretor do Departamento do Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja (DPHADB) sublinha que existem “profundas ligações entre a música sacra e o cante”.
O cante alentejano é “mais do que música sacra e religiosa”, mas foi essa matriz “que o ajudou a temperar e lhe deu uma certa grandeza”, realçou José António Falcão.
No concerto Anteprima III «Alentejo, Alentejo», integrado do «Festival Terras Sem Sombra» – Festival de Música Sacra do Baixo Alentejo -, os ouvintes puderam encontrar, através das sonoridades musicais e vocais, temáticas sobre “o amor humano”; “a paixão pela família, pela terra e pela casa”; “crítica política e, às vezes a sátira”, todavia, o “fundo religioso está sempre omnipresente”.
O espetáculo em Madrid que contou com mais de cinco centenas de participantes começou com “Cante ao Menino” e acabou com uma “composição de ressonâncias absolutas de música sacra”, disse à Agência ECCLESIA José António Falcão.
Esta “música sai do coração dos alentejanos”, estabelece “pontes entre o céu e a terra”, “vence as distâncias” e “valoriza o que há de mais interessante na alma humana”, confessou o diretor do DPHADB.
As letras e a sonoridade do cante alentejano apostam na “perspetiva positiva” de partilha, de comunidade, coletividade, mas tem sempre “recaídos espirituais”: “Deus, Nossa Senhora, Menino Jesus e as diferentes fases da vida de Cristo” fazem parte desta tradição.
Há décadas atrás, a Diocese de Beja soube reconhecer esta faceta do cante alentejano e alguns musicólogos – padre António Marvão e o padre José de Alcobia – estudaram esta tradição e “ajudaram a divulga-la” através dos seus estudos.
A Igreja de Beja ajudou a “popularizar” o cante alentejano e criou “muitos dos fundamentos” para que esta tradição “seja o que é”, acrescentou o José António Falcão.
O homem alentejano e a sociedade alentejana reconhecem “a importância deste património” e “têm contribuído imenso para a sua valorização”, finalizou o diretor do DPHADB.
LFS