Cultura: Bíblia inspira compositores contemporâneos

Casa Fernando Pessoa acolheu Tiago Cavaco, Eurico Carrapatoso, Ivan Moody e João Madureira

Lisboa, 01 abr 2011 (Ecclesia) – A influência dos textos bíblicos na composição musical e a procura da transcendência através da veneração a artistas foram algumas das questões refletidas esta quinta-feira, em Lisboa, na abertura do ciclo de conversas ‘A Bíblia, coisa curiosa’.

A iniciativa, organizada pela Casa Fernando Pessoa, que acolheu o encontro, e pelo diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, padre José Tolentino Mendonça, foi inaugurada com o tema ‘Bíblia & Música’.

O cantautor Tiago Cavaco recordou alguns dos trechos bíblicos pontuados pela música, como “os Salmos”, o “Cântico dos Cânticos”, as “lamentações proféticas do Antigo Testamento”, a “subida de Jesus a Jerusalém” e as “erupções teológicas de São Paulo” intervaladas por cânticos litúrgicos.

Para Eurico Carrapatoso, o momento em que um anjo comunica a Maria que vai ser mãe de Jesus – a “Anunciação” – constitui um “momento fulminante e absolutamente marcante” da escritura.

O compositor transmontano destaca entre os seus trabalhos de inspiração bíblica a peça ‘Horto Sereníssimo’, que integra um “tríptico mariano” no qual se inclui o ‘Magnificat em Talha Dourada’, uma das suas obras mais conhecidas.

“Toda a minha música tem a ver com o facto histórico mais importante da história do mundo, que é a ressurreição de Cristo”, afirmou por seu lado o padre ortodoxo Ivan Moody, de origem inglesa.

Depois de aludir aos livros do Génesis e do Apocalipse – primeiro e último da Bíblia – como inspiradores das suas composições, o presbítero do Patriarcado Ecuménico de Constantinopla referiu que as suas obras são marcadas por “uma grande transparência, que não é só técnica mas também espiritual”.

Perante as 80 pessoas que assistiram ao encontro, Ivan Moody expressou a sua perplexidade pelo facto de autores que não acreditam em Deus se inspirarem em textos considerados sagrados: “Não percebo como um ateu pode musicar textos litúrgicos”.

Assumindo-se como um “compositor crente”, João Madureira falou sobre o “momento de festa e linguagens diferentes” da ‘Missa de Pentecostes’, que a comunidade da Capela do Rato, em Lisboa, lhe encomendou em 2010.

“A Bíblia, como é muitas vezes revisitada musicalmente, convida-nos a ultrapassar esse enorme obstáculo que é a linguagem. Acho que há algo de pré e pós linguagem que podemos sentir como fundamental”, assinalou.

Um dos “fascínios” sentidos por João Madureira ao abordar a música religiosa é a possibilidade de romper os cânones da “vanguarda” e da “tradição”: “Muitas vezes o que se sente no campo cultural é a criação de bastião intocáveis que se rejeitam mutuamente. E eu não quero fazer parte disso”.

Além de servir para alimentar a fé e transmitir uma mensagem, a música tem conotações com o transcendente que nem sempre implicam a pertença a uma Igreja ou a adesão a uma religião.

“Um fã de algum artista ou estilo musical tende a viver de maneira religiosa”, associando-se a eles como uma “devoção”, explicou Tiago Cavaco, que também passou por esse processo durante a adolescência relativamente ao “panque-roque”.

“Querer justificar que alguém deve ser ouvido pelas circunstâncias biográficas pode no imediato ser atraente mas facilmente descamba numa contemplação mórbida”, salientou o missionário protestante conhecido no meio artístico por Tiago Guillul.

RM

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